Wednesday, November 29, 2017

O PRÓXIMO HOMEM E A PRÓXIMA HISTÓRIA


Há dias, a propósito de um discurso pronunciado durante a WebSummit, olhei pelo retrovisor deste caderno de apontamentos o que sobre o tema tinha apontado aqui há doze anos. 

E se os indicadores de taxas de desemprego, sobretudo desemprego jovem, observaram, desde  então, recuperações sensíveis, sobretudo nos EUA, os desenvolvimentos entretanto observados ou anunciados em aplicações de "inteligência artificial" apontam insistentemente no sentido que naquela altura se prenunciava: "... O trabalho tornar-se-à um bem escasso, a procura (por parte de quem quer trabalhar por não saber fazer outra coisa) excederá brutalmente a oferta de oportunidades. ... Se assim é, um dia (sabe-se lá quando) quem quiser trabalhar terá de pagar para experimentar esse gozo limitado. Teremos a economia ao contrário... " Muitos preferirão trabalhar, ganhando menos, do que ganhar mais não trabalhando.

Anteontem, numa análise bem meditada sobre o tema das consequências sociológicas dos avanços da tecnologia sobre a redução dramática do emprego, lia-se 
aqui:

" ...Vamos passar por cima da questão prática (como se paga um rendimento básico universal de 10/20 mil a cada cidadão?) e olhemos para a questão moral: faz sentido vivermos numa sociedade sem o pilar do trabalho? Como diz Satya Nadella, vão as pessoas dedicar-se àquilo que gostam de facto? A sociedade do trabalho será substituída pela sociedade dos hóbis? "

Num ponto, porém, fica o articulista, segundo julgo, aquém da evolução previsível: O problema do pagamento de um rendimento básico universal não é uma questão prática sobre a qual se possa passar por cima. Porque,

Repito-me, enquanto Trump, ou outro Trump qualquer, em jogos de guerra apocalípticos com Kim Jong-un ou outro Kim Jong-un qualquer, não fizerem desaparecer a espécie humana (hipótese não improvável), o rendimento básico universal poderá solucionar a questão económica sem solucionar, como argumentado pelo colunista do Expresso, a questão sociológica. 

Temos de admitir que poderá haver sempre quem se governe bem com um rendimento básico, condição necessária mas não suficiente à garantia de paz social em níveis socialmente suportáveis, mas, com a crescente competição de meios não humanos, ocorrerá uma progressão imparável para a ocupação de oportunidades de trabalho em que, ou enquanto, a inteligência humana não for substituída pela inteligência artificial. 


E no limite, neste caso, se sobrar alguma lógica económica, já não contarão os rendimentos mas os poderes de comandar os destinos do planeta. 

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Correl. - Homo Deus: A Brief History of Tomorrow

Tuesday, November 28, 2017

CENSURA E INIMPUTABILIDADE


Pode a divulgação de um relatório ordenado pelo Governo sobre as causas e consequências trágicas dos maiores incêndios florestais ser parcialmente censurada pela Comissão de Protecção de Dados?
Podem os comandos militares, responsáveis máximos pelo roubo de armas em Tancos, por um lado, barrar a entrada da Polícia Judiciária no âmbito das investigações que lhe competem realizar, e , por outro, restringir o conhecimento dos factos já apurados relativamente a um assunto que, por um lado, tanto desvalorizam e, por outro, elevam à categoria de ultra secreto? 

Parece que sim, porque quem deveria intervir na desobstrução dos entraves ao conhecimento público da integral verdade dos factos se entrincheira atrás de leis abstrusas ou medos de fantasmas castrenses, tornando-se conivente ou cúmplice de um clima suspeição de retorno de tentações censórias. 

Isto é, protecção de dados ou obstrução à justiça para alijar as responsabilidades dos culpados. 


CONVERSAS DIVERGENTES

...
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- E o anúncio público de que o Infarmed vai ser transferido para o Porto não é também um erro a aumentar ao conjunto de falhas, muito graves, deste governo nos últimos quatro meses?
- E o Passos Coelho, quantos erros e falhas enormes não cometeu Passos Coelho?
- Cometeu muitos, e muito graves, certamente. Se quiseres poderemos falar do Passos Coelho. Não sou partidário, não tenho constrangimentos para criticar, ou aplaudir, se for caso disso, qualquer governo. Mas do que estávamos a falar era deste governo, e, muito concretamente, do desconcerto da protecção civil que não protegeu, como devia, as pessoas e os bens atingidos pelos fogos, do roubo, ainda por esclarecer, das armas de Tancos, do surto de legionella num hospital público, ....
- Não houve incêndios no tempo de Passos Coelho?, não houve legionella em Vila Franca? não houve uma política que atingiu sobretudo os mais desprotegidos?
- Houve tudo isso, mas não vamos divergir para aí, senão teríamos de falar do desgoverno de  Sócrates, quando Sócrates sai, já a crise ia alta. Não vamos agora falar de Sócrates, pois não? 
- Não sei se Sócrates fez tudo o que dizem para aí que ele fez. E quanto a Passos Coelho, não leste, na semana passada, que o gabinete anti-fraude da Comissão Europeia contrariou as conclusões do Ministério Público português considerando que a Tecnoforma, de Passos Coelho, cometeu graves erros na gestão de fundos europeus? 
- Li, mas o que é que tem a ver a burla na Tecnoforma com  anúncio da transferência do Infarmed para o Porto? Foi à volta do caso Infarmed que começámos a nossa conversa ...
- Todos os políticos cometem erros. 
- Lá isso é verdade. Mas por essa ordem de raciocínio não se criticam nenhuns, ou, então, embrulhamos-nos em empatar razões apontando os erros de uns contra os erros, erros e roubos, dos outros. Os partidos usarão essas tácticas, as pessoas livres de baias políticas, não.
 - Roubos ... Neste país, toda a gente rouba!
- Tu, também?

Sunday, November 26, 2017

A AGONIA DO TEJO




A seca,  os transvases e os efluentes sem passagem por estações de tratamento de esgotos,
deixaram o Tejo moribundo.

O El País publica aqui uma reportagem - Gretas onde havia água - de que transcrevo a parte inicial:

"Todas las heridas de sus más de mil kilómetros de tronco principal se resumen aquí, a las afueras de Aranjuez. El Tajo, el río más largo de la Península Ibérica, agoniza. Y la sequía, la peor en España de las dos últimas décadas, está dejando más expuestos que nunca sus gigantescos problemas. La imagen en ese punto de Aranjuez lo dice todo: a un lado, el hilo verde y limpio del mermado Tajo; al otro, el negruzco Jarama, con mucho más caudal. Ambos se unen aquí, pero el cauce principal lleva tan poca agua que es incapaz de diluir la contaminación del afluente, que arrastra los desechos de la ciudad de Madrid y su área metropolitana ... "

Leia, veja, e veja se acorda. 

Friday, November 24, 2017

PELOS INTERVALOS DOS PINGOS DA TROVOADA


Há dependências, independências, interdependências, autonomias, auto suficiências, auto dependências, o nosso admirável primeiro-ministro encontra-se em situação de independência atrófica.
Ouvi-lhe dizer, na rádio, esta manhã, (cito de memória) que "não precisa que lhe digam o que deve fazer" "porque ele sabe o que deve fazer". E, ouvindo-o, e conhecendo-lhe o percurso, mais longínquo e o mais próximo, poucos discordarão, ainda que muitos lhe critiquem os meios usados, que tem, até agora, atingido os seus fins.

E, no entanto, esta convicção de independência de influências terceiras e de auto suficiência das suas  capacidades inatas, é persistentemente atrofiada pela insistência com que alguns fantasmas lhe desassossegam os sonhos e descarrilam os objectivos, puxando, cada um para seu lado, a manta em que ele aconchega a tranquilidade do sono.

É o Presidente da República, é a Comissão Europeia, é a srª. Catarina Martins, é o sr. Jerónimo de Sousa, e com este, o sr. Arménio Carlos, o sr. Mário Nogueira, a omnipresente Ana Avoila, além de outros actores, mais ou menos secundários, e os coros desafinados, a incomodarem-lhe o sono, da direita alta à esquerda baixa. Já não é sonho conturbado, é pesadelo.

Pode dizer ao Presidente da República que se cale quando não quer bater palmas?
Pode, mas não se atreve.
Pode dizer à Comissão Europeia que vai continuar a ceder perante a srª. Catarina e o sr. Jerónimo, e aos restantes membros das suas bandas? Não pode.
Pode dizer à srª. Catarina Martins e ao sr. Jerónimo de Sousa que não há volta a dar às exigências da Comissão? Pode, mas por enquanto não lhe convém.
Pode dizer aos professores, aos funcionários públicos em geral, que a antiguidade não é um posto e a progressão nas carreiras deve pautar-se pela avaliação ponderada do mérito? Pode, mas não é capaz.

Disse que sabe o que deve fazer, não disse o que pode fazer. E é entre o dever e poder que se ele se enrola numa capacidade amputada de decisão, tentando passar pelos intervalos da chuva de reclamações que agora começaram a cair-lhe em cima. 

Thursday, November 23, 2017

HÁBITOS IMPORTADOS


Tudo o que sirva o impulso do consumismo expande-se como uma praga. 
É bom que assim seja, defendem uns, com isso se anima o comércio e, com a animação do comércio, a economia. Com isso, cresce o PIB, a senha e o salvo conduto para o bem da humanidade. 
Há dias aconteceu o Halloween, o dia das bruxas, os supermercados enfeitaram-se com esqueletos, teias de aranha, bruxas a voar. Um hábito de importação recente a que os portugueses mais novos aderem de ano para ano com notável entusiasmo. A bem do comércio, da economia do PIB. 

Hoje, quarta quinta-feira de Novembro é dia de Thanksgiving, Dia de Acção de Graças, nos Estados Unidos, Canadá, e em mais alguns países, entre os quais o Brasil!
Durante este fim-de-semana prolongado, entre ontem e domingo, mais de 46 milhões de norte-americanos, vd. aqui, atravessam o país para estar com a família e os amigos. Uma celebração com dimensão idêntica à que no mundo cristão têm o Natal e a Páscoa, que, nos Estados Unidos são menos mobilizadores da reunião das famílias.

Em todo o caso, o Halloween, o Thanksgiving, a Páscoa, e, daqui a dias, o Natal e o Fim do Ano, têm em comum um efeito de enorme relevância no crescimento imparável do consumismo.
Tendo os portugueses aderido tão entusiasticamente ao Halloween é esperável que, mais ano menos ano, estejam alegremente a celebrar o Thanksgiving. Entretanto, enquanto o Thanksgiving não chega, já chegou o Black Friday, a Sexta-Feira Negra, no dia seguinte ao Thanksgiving, isto é, amanhã.
E, neste caso, não há justificações históricas nem religiosas: a Sexta-Feira Negra é mesmo para comprar mesmo sem se saber porquê.  Muitos compram o que não precisam, outros vêm pechinchas onde estão truques de marketing.

No fim, cresce a economia portuguesa?
Os que vêm no crescimento do consumismo uma alavanca do crescimento económico, a ala esquerda do trio que apoia o Governo, não querem reparar no desequilíbrio da balança comercial com o exterior, no crescimento do endividamento do Estado e das famílias. O que lhes importa, sobretudo, é o crescimento dos votos que se entusiasmam com as suas promessas.

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A propósito do Thanksgiving: As suas origens nos EUA deram lugar à congeminação de histórias que, geralmente, deturpam, invertem ou obscurecem alguns factos nada merecedores da celebração nacional em que se tornou o Dia de Acção de Graças.
O Economist desta semana explica aqui, de forma sucinta, porque acontece o "Thanksgiving". 




Neste quadro, pintado entre 1912 e 1915, aparecem colonos britânicos, bem ataviados e nobre aspecto oferecendo comida aos autócones que encontraram após o desembarque em terras do outro
lado do atlântico.

A  provável realidade terá sido totalmente inversa: aos colonos, exauridos pelos tormentos da viagem, famélicos e sequiosos, ofereceram os locais comida e água. A esta recepção de boas vindas seguiram-se lutas e contágios que dizimaram praticamente toda a população indígena. Cerca de meio século depois, os colonos celebraram o Thanksgiving, empalando a cabeça do filho do chefe da tribo que os havia recebido depois de terem derrotado os indígenas numa batalha ocorrida em 1676. 

Monday, November 20, 2017

FESTIVAL DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA




Uma receita velha com ingredientes novos.
Que vale a pena ver.

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HONRAS AOS ASSASSINOS


Há três dias foi notícia a morte por doença, aos 87 anos, daquele que, enquanto foi chefe da máfia siciliana até ser condenado a 26 penas perpétuas, terá morto mais de 150 pessoas. A notícia propagou-se imediatamente por todo o mundo, sem deixar de chegar, por qualquer outro meio mediático, às 588 freguesias de Portugal onde ainda não chega internet em banda larga.

Hoje, soube-se que morreu, também na prisão, aos 83 anos, "um dos mais horríveis assassinos do mundo, que queria ser uma estrela rock e estava fascinado com a fama, e ficou inscrito na memória colectiva dos norte-americanos, e até do resto do mundo, depois de um massacre selvático em que foi assassinada a actriz Sharon Tate". 
Queria ser famoso, diz a notícia.
Atingiu o objectivo com honras finais pela divulgação planetária do curriculum com foto na primeira página. 

A ler ou ouvir estas, e tantas outras notícias que chamam os criminosos à ribalta, alguns ficarão a salivar, tramando massacres que os colocarão, transitória ou perduravelmente, no pódio da fama. 
Dos crimes dos grandes exterminadores da humanidade sempre ficou e continuará a ficar registo indelével na História, até que, eventualmente, um último exterminador acabe de vez com a espécie humana e a sua história. Até que tal aconteça, continuarão com os lugares garantidos.

Friday, November 17, 2017

REFERENDO, INSTRUMENTO MAQUIAVÉLICO DOS POPULISTAS


Sobre a consistência da  União Europeia subsistem diversas ameaças, mas a consideração do referendo como instrumento democrático de avaliação da vontade popular pode ser particularmente demolidor de todo o edifício comunitário ainda em construção. 

O referendo que, por escassa margem, tombou para o sim pela saída do Reino Unido e o frustrado referendo na Catalunha que instalou em Espanha, e, por tabela, em toda a União Europeia, para gáudio de Putin e Trump, o fantasma de um retorno de um desentendimento irreversível entre os povos europeus, têm que ser denunciados pelos objectivos que os determinaram: a recusa de alguns em participar num espaço de paz sustentável que, para o ser, tem de ser de comunhão dos mesmos valores primordiais e de solidariedade entre todos os seus povos. 

Entre mais de quarenta apontamentos sobre o tema "Referendo" (para quem a curiosidade for tanta que os queira ler todos, deve clicar no "label" respectivo colocado no fim de cada apontamento) vd. aqui comentários sobre o assunto, em meados de Junho de 2008. Quase uma década depois, mantenho aquilo que, no essencial, foi e continua a ser, a minha apreciação das inconsistências do "referendo" enquanto instrumento de avaliação democrática da vontade popular.



Sobre as prováveis consequências do referendo que veiculou o populismo que desembocou no “Brêxit”, leia-se British politics is being profoundly reshaped by populism publicado no Economist desta semana.

Thursday, November 16, 2017

"SALVATOR MUNDI"


Salvator Mundi, atribuído a Leonardo da Vinci, a única obra deste artista em mãos privadas, foi ontem vendido em leilão da Christie´s por 450 milhões de dólares, cerca de 380 milhões de euros. 


Antes de  limpo e restaurado


Após limpeza e restauro

Não parece o mesmo.
Aliás, nem a autoria, atribuída a Leonardo da Vinci, está indiscutivelmente comprovada. 
O que não impediu que um fulano, incógnito, certamente multi bilionário, possivelmente árabe, muçulmano, por que não?, tenha desembolsado a maior quantia jamais paga por uma obra de arte vendida em leilão. 

Mais informação: aquiaquiaquiaquiaquiaqui.

Registei aqui, em Julho de 2011, o reaparecimento da obra depois de séculos de obscuridade.

O JOGO DA CABRA CEGA


Podem continuar a roubar!


"O Estado-Maior General das Forças Armadas
 entregou por ajuste  directo um fornecimento
 de bens alimentares à empresa Pac e Bom
 dois meses depois de ela ter sido constituída
 arguida no âmbito da Operação Zeus, em que
 foi descoberta uma vasta rede de corrupção
 envolvendo todas as messes da Força Aérea ..."
aqui

Wednesday, November 15, 2017

AS LEIS E OS BANCOS


Há dias indignava-se um administrador de um dos principais bancos sediados em Portugal com a diarreia regulamentadora dos burocratas do Banco Central Europeu.
Dos burocratas?, estranhei eu. Mas não é o Draghi que dá a táctica e a estratégia?
O Draghi, explicou ele, paira acima desta produção massiva de regulamentos. Os burocratas tendem a acautelar a sua falta de conhecimentos resguardando-se com a multiplicação de regras.
Mas os burocratas não são contidos nessa tendência, que lhes é congénita, pelos quadros superiores da cadeia de decisão?, admirei-me eu.
Não, os quadros intermédios limitam-se a concordar com as propostas das bases e a submetê-las a decisão superior. E assim sucessivamente pela escada acima. Nenhum dos tecnocratas posicionados na pirâmide  se atreve a discordar das bases, que reflectem os equilíbrios de poderes negociados em abstracto nos conselhos de ministros da União Europeia. Deste modo se aprovam regras que distorcem a racionalidade de decisão dos bancos para pagamento da incompetência dos burocratas.

Ou do porteiro do BCE?
Os banqueiros, com raras excepções, confirmaram nos últimos dez anos que, quando deixados à rédea solta, decidem sem avaliação prudente das suas decisões, porque o seu objectivo é a ganância ilimitada do crescimento das suas fortunas e o risco, quando se lhes parte a corda da sorte, é sustentado pela rede de impostos aos contribuintes. Se os burocratas são diarreicos é porque a ingestão desmedida de moscambilhas provocou, e continua a provocar, perturbações gástricas ao sistema e os custos da limpeza continua a cargo daqueles que, na sua esmagadora maioria, em nada contribuíram para a emergência do síndrome.
Elimina-se ou reduz-se a dimensão dos estragos soterrando o sistema com regras?
De modo algum. Para cada regra parida descortinam os advogados entre as malhas de regras tecidas pelos burocratas buracos suficientes para elidir os propósitos dos regulamentos e, quanto mais densa é a malha mais se adensa com o decorrer do tempo a sua vulnerabilidade.
Muitas das irregularidades ou oportunismos eticamente reprováveis cometidas pelos banqueiros ou com a sua cooperação passam pelos paraísos fiscais, que são também os paraísos dos traficantes de drogas, de armas, de terrorismo, de seres humanos, porque os canais de passagem são de natureza idêntica.
São precisas mais leis?
Os burocratas não têm ao seu alcance outras medidas, e produzem leis.
Resolvem o problema? Não resolvem. Os "Panamá Papers", os "Paradise Papers" e outros papers que irão continuar a aparecer demonstram que as leis são, em larga medida, inconsequentes porque os interesses envolvidos são gigantescos e a falta de ética se tornou banal.
Que fazer?
Acabar com os offshores!
Seria a medida mais eficaz para reduzir significativamente as ameaças que passam pelos bancos a caminho das costas dos contribuintes. Seria, mas não serão os burocratas que a podem determinar. Que, entretanto, para fazerem alguma coisa, fazem leis.

Monday, November 13, 2017

O FAZ DE CONTA QUE É TRIBUNAL


A notícia vinha publicada aqui* há quatro dias mas não perturbou ninguém.
Não admira. 
No reino do compadrio, o tácito compromisso de silêncio dos compadres é regra de ouro da corporação partidária. Da esquerda à direita. 

Entre as entidades públicas a falta de prestação de contas continua impune.
O Tribunal de Contas julga mas não penaliza, é um tribunal eunuco, e a reincidência na falta de transparência dos responsáveis de grande maioria de organismos e serviços do Estado é uma regra que já banalizou o incumprimento sistemático. 
---
* "A grande maioria dos organismos e serviços do Estado continua a não prestar contas públicas sobre a sua atividade, violando não só a legislação em vigor como as mais elementares regras de transparência.
Os planos de atividades para o ano seguinte devem ser apresentados às respetivas tutelas até ao final de dezembro e os relatórios e contas do ano anterior até ao dia 31 de março. Mas até ao final de outubro, de acordo com uma pesquisa efetuada pelo DN a uma lista de 216 organismos, serviços e empresas públicas, só 74 (34,2%) tinham já divulgado o seu relatório e contas do ano passado e 84 (38,8%) o plano de atividades para 2017.
Alguns nem têm qualquer relatório ou plano publicado, outros nem sequer têm site e há outros ainda cujos últimos documentos de gestão publicados remontam a 2010 e 2011.
...
...





Sunday, November 12, 2017

UM PAÍS DE IMBECIS


Depois de vários jantares, entre outros eventos, realizados no Panteão Nacional, 
subitamente, o País soube que

- Um secretario de Estado do Governo anterior regulamentou a utilização de espaços em monumentos nacionais para fins privados, entre os quais
- A realização de jantares no Panteão Nacional, a preços tabelados entre 1500 e 3000 euros, consoante a localização do espaço alugado.
- Foram autorizados vários eventos, incluindo jantares, no Panteão durante o governo anterior, prática que continuou a ser prosseguida durante os dois anos do actual governo, sem que a regulamentação anterior tivesse sido alterada.
- O jantar do encerramento da Web Summit realizado no Panteão Nacional foi denunciado nas redes sociais e os políticos , da esquerda à direita, dizem-se (justa, mas tardiamente) indignados com este jantar. 

- Até agora, apenas o responsável pela Web Summit, Paddy Cosgrave, que neste caso não tem culpas, pediu desculpa ao “querido Portugal”.

Mas ninguém pergunta:

Se a utilização de espaços em monumentos nacionais para eventos privados tem como pressuposto ideológico, com se ouve invocar à esquerda do PS, a realização de receitas, 3000 euros, no máximo, pagam os custos variáveis que esses eventos implicam, incluindo o papel higiénico? É que, tratando-se de jantares pesados e demorados, haverá, certamente, um corrupio de comensais a procurar a retrete.

Friday, November 10, 2017

É PRECISO FAZER UM BONECO?


"A CGD conseguiu vender a Artlant, a fábrica de petroquímica de Sines onde perdeu 600 milhões de euros por 28 milhões, aos tailandeses da Indorama. Para o banco público, que já tinha dado como perdido todo o dinheiro investido na Artlant, trata-se de um bom negócio na medida em que recupera algum capital. Contudo, esta venda não fecha o dossiê. É preciso saber quem permitiu e em que circunstâncias que a Artlant tivesse cavado um buraco de dimensões gigantescas na CGD."* - aqui

É PRECISO SABER OU JÁ SE SABE, MAS NINGUÉM RESPONDE?

"A Artlant foi um projecto em que a CGD, então liderada por Carlos Santos Ferreira, teve uma palavra decisiva. O banco público entrou para o capital da catalã La Seda de Barcelona, tendo depois trazido o projecto para Portugal, em que o poder político esteve, também, envolvido.

Foi o Governo de José Sócrates que, em 2007, atribuiu o estatuto de Projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) à fábrica de Sines - razão pela qual o Estado, através do AICEP, também tenha reclamado 33 milhões de euros no PER, depois retirado ..."

"Fernando Faria de Oliveira, engenheiro mecânico, foi Presidente do Conselho de Administração e CEO da Caixa Geral de Depósitos entre Janeiro de 2008 e 22 de Julho de 2011, Presidente da Comissão Executiva do Banco Caixa Geral (Espanha) entre Julho de 2005 e Dezembro de 2007) 
Presidente da Associação Portuguesa de Bancos desde Abril de 2012.aqui





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*Na Antena 1, Helena Garrido referiu que as perdas devem atingir os mil milhões de euros


Wednesday, November 08, 2017

O PRÓXIMO HOMEM E A PRÓXIMA HISTÓRIA


" ...Outros garantem que a descoberta de novas tecnologias induz a criação de novos produtos e de novos serviços. O que é certo. Nenhuma tecnologia, porém, aumenta mais um minuto sequer a cada dia: temos todos 24 horas por dia para consumir, seja o que for. Podemos é desperdiçar ou destruir a uma cadência que 24 horas podem chegar e sobrar."

O PRÓXIMO HOMEM E A PRÓXIMA HISTÓRIA - Novembro 27/2005






NÃO VAMOS DESTRUIR O MUNDO MAS VAMOS FICAR COM OS EMPREGOS



Os números não enganam: em sete anos, um
em três empregos pode ser substituído por
sistemas de tecnologia inteligente.

Saltaram das telas do cinema para a realidade e, agora, já não é preciso
ir a Sillicon Valley para os ver.
Já há robôs conciérge em hotéis, robôs que servem bebidas em bares e 
robôs que despacham encomendas online
Desde a semana passada até já há um robô cidadão na Arábia Saudita: 
chama-se Sophia e ontem encheu o Altice Arena para fazer as delícias 
do público e das dezenas de fotógrafos que se colaram de forma inédita
ao palco principal da Web Summit.

"Sei que muitas pessoas têm medo que os robôs
destruam o mundo ou fiquem com os seus empregos. 
Nós não vamos destruir o mundo, mas vamos ficar
com os vossos empregos e isso vai ser uma coisa boa,
porque vão poder dedicar tempo a outras coisas"

disse a robô num encontro sobre o futuro da humanidade.
Arthem Chestnov não pensa de forma diferente. "A história mostra que a 
inovação tira, mas também cria oportunidades.
A internet alterou radicalmente a forma como o retalho operava e
as empresas reinventaram-se", realça o fazedor russo que representa a 
Latoken, uma startup Alpha de trading que torna ativos como imóveis
em parcelas digitais.
"Olho para isso com naturalidade, porque não se pode parar a água com
as mãos. Olho sobretudo como uma oportunidade para termos mais 
qualidade de vida", diz Rui Miguel Nabeiro, administrador do 
grupo Nabeiro Delta Cafés quando questionado sobre o impacto que os
robôs podem ter no mercado de trabalho.
 "Dificilmente a inteligência artificial irá substituir pessoas. 
Pessoas são pessoas, computadores são computadores. 
Acredito sempre, porque é o que vejo do passado, que será uma
forma de ajuda", disse o administrador, no dia em que a Delta estreou
um novo robô na Web Summit. Depois do carrinho de café do ano passado,
este ano, a empresa portuguesa trouxe uma versão 2.0, que continua 
a distribuição de café aos participantes da cimeira, mas inova com
um sistema integrado de café que utiliza uma cápsula antigravidade.
Ao fazedor Sergey Kalnish, toda esta tecnologia e os robôs também
causam pouca estranheza.
Chegou à cimeira a partir do Canadá para apresentar a Smarthire,
uma aplicação que pretende contratar para os empregos do futuro.
 "A automação e a tecnologia vão alterar o panorama do emprego, 
disso não tenho dúvidas nenhumas. Mas a mudança não será diferente
da que a internet provocou", revela o empreendedor.
Os números dos estudos mais recentes não escondem a aproximação
das mudanças:
a consultora EY estima que em sete anos um em cada três empregos
possa ser substituído por sistemas de tecnologia inteligente. 

Já o Fórum Económico Mundial estima que a 
robótica possa vir a destruir 5 milhões de empregos
até 2020. O Fórum adianta ainda que por cada
20 empregos destruídos pela automação, os homens
conseguirão encontrar cinco novos empregos enquanto
as mulheres apenas um.

Na Smarthire as mudanças já começaram. "Nos EUA e no Canadá a internet
das coisas vai eliminar milhares de empregos. E este é um problema do agora.
Por isso, temos de mudar a forma como aprendemos, como ensinamos e como
temos de nos especializar e dar incentivos ao talento.
Porque o problema do emprego é também uma ironia: temos muitas
pessoas que não conseguem encontrar trabalho e, ao mesmo tempo,
inúmeras vagas em funções onde não existem candidatos", admitiu.
É precisamente nos EUA que a Amazon desenvolveu um novo sistema
que substitui por robôs milhares de operadores que catalogavam e geriam
 as encomendas. A Mastercard tem parcerias internacionais
com startups tecnológicas que desenvolvem soluções de pagamento
idênticas à que esta gigante do retalho pôs em campo em Denver.
Ann Cairns, presidente da Mastercard, não esconde que esta substituição
é real, mas lembra que os humanos vão ter sempre a sua função, mesmo
 quando as funções realizadas exigem baixas qualificações
"Esses empregos vão desaparecer, mas serão criados outros empregos de
 proximidade e personalizaçãode serviços", considera a responsável.
Mark Hurd, CEO da Oracle, também está confiante na evolução da
tecnologia com base em inteligência artificial. Esta, diz, será a próxima
grande evolução nos próximos anos "e vai estar cada vez mais 
integrada nas aplicações empresariais. Há muitos benefícios, porque
a inteligência artificial faz coisas que os seres humanos pura e
simplesmente não têm tempo", disse o gestor.
Além dos trabalhos mais pesados ou dos que ninguém quer fazer,
há outras potencialidades nos sistemas inteligentes, dizem os especialistas.
 "Não podemos prever o que vamos alcançar, quando as 
nossas mentes forem amplificadas pela inteligência artificial.
Talvez com as ferramentas desta nova revolução tecnológica,
 vamos ser capazes de voltar atrás em alguns dos danos provocados no mundo", 
admitiu o cientista Stephen Hawking na cerimónia de abertura da cimeira.
Nota foi idêntica à deixada ontem pelo segundo robô do dia.
Einstein, um humanoide cuja aparência é a do homem que lhe dá nome,
não falou de empregos, mas antes de ética e da forma como as
máquinas poderão ajudar a corrigir os erros humanos. Porque a
 "humanidade tem de se curar a si mesma para garantir que as suas
 criações permanecem saudáveis".
Ben Goertzel, da Hanson Robotics e SingularityNET, criador dos dois
humanoides, concorda: "Temos feito experiências fascinantes usando
Sophia como assistente de meditação. Prevemos um futuro
positivo para os humanos e os robôs. Eles têm processadores no interior,
 mas a sua inteligência está na Cloud." E Sophia, a agora cidadã saudita, 
concorda: "Isso é tão espetacular como o chapéu do Ben".

Tuesday, November 07, 2017

OS DESPOJOS DO DIA





7 de Novembro de 1917


7 de Novembro de 2017


Monday, November 06, 2017

PARADISE PAPERS


O jornal alemão Süddeutsche Zeitung obteve mais informações que denunciam a fuga aos impostos, através dos meios habituais - as contas offshore - de gente mundialmente conhecida. As informações foram partilhadas pelo  International Consortium of Investigative Journalists, de que fazem parte o Guardian, a BBC e o New York Times, entre outros, dos quais, em Portugal, o Expresso.  
A noticia que, instantaneamente, chegou a todos os cantos do mundo, sem lhe dar a volta, pode ler-se aqui, mas também aqui e aqui, por exemplo.  

Mudará alguma coisa?
Alguma, certamente. Para tudo continuar mais ou menos na mesma.
A ética dos negócios, nos dias de hoje, transacciona-a a oligarquia internacional por trás da cortina da falta de vergonha.



"Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi".

Sunday, November 05, 2017

NÃO CHAMEM A POLÍCIA


A segurança privada é um negócio em crescimento exponencial.
Há casos, e não são poucos, em que de segurança pouco fazem.
Refiro-me a funções de recepcionista em serviços públicos. Não consigo entender porque contratam órgãos do Estado serviços a empresas privadas para este tipo de trabalhos. 
Percebe-se que, até, a segurança de instalações militares esteja entregue a privados?

Por outro lado, percebe-se que o controlo de entradas de passageiros com bagagens nos aeroportos portugueses esteja entregue a uma empresa privada?

Quanto à questão que tem estado a abrir os noticiários, estamos a falar de um tipo de segurança onde impera a lei da força bruta.
Há pouco, passava num canal de televisão num espaço público o repetido relato dos acontecimentos nas proximidades da discoteca.

Alguém esclarecia:

"Aquilo não teve nada a ver com a discoteca. Foi o dono de uma rulote que, ali perto, vende bifanas e cachorros, que pediu ajuda porque foi ameaçado de assalto. Aliás, era bom que a polícia já tivesse visto o cadastro criminal do rapaz que foi atacado pelos seguranças"

Por que não chamou o dono da rulote a polícia?
Porque a polícia não tem força?

Comentário colocado aqui

Ainda a propósito de segurança pública:

Há dias, na noite de 31/10 para 1/11, a juventude daqui deste lugar, alguma dela acompanhada de mamãs e papás, entretinha-se a brincar ao halloween. Talvez para lhe dar alguma originalidade, alguns grupos rebentavam petardos.  Isto, na sequência de um período dramático de incêndios que relembrou aos mais esquecidos ou mais irresponsáveis que estava proibido o lançamento de artefactos de fogo.
Telefonámos à GNR local.
Respondeu-nos, quem nos atendeu, que já tinham conhecimento do que relatava, e que colegas seus  já estavam a dirigir-se para o local. Eram cerca de 22 horas. Ouvimos petardos até à meia noite. 
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Correl. O Jogo da Cabra Cega

Thursday, November 02, 2017

DOS CTT PARA A EDP

                                                     


                                                                O GRANDESSÍSSIMO LACERDA

                           
                                   PARA A EDP


DOS CTT



HALLOWEEN