Há dias, a propósito
de um discurso pronunciado durante a WebSummit, olhei pelo
retrovisor deste caderno de apontamentos o que sobre o tema tinha apontado aqui há doze anos.
E se
os indicadores de taxas de desemprego, sobretudo desemprego jovem, observaram,
desde então, recuperações sensíveis, sobretudo nos EUA, os
desenvolvimentos entretanto observados ou anunciados em aplicações de "inteligência
artificial" apontam insistentemente no sentido que naquela altura
se prenunciava: "... O trabalho tornar-se-à um bem escasso, a procura
(por parte de quem quer trabalhar por não saber fazer outra coisa) excederá
brutalmente a oferta de oportunidades. ... Se assim é, um dia (sabe-se lá
quando) quem quiser trabalhar terá de pagar para experimentar esse gozo
limitado. Teremos a economia ao contrário... " Muitos preferirão
trabalhar, ganhando menos, do que ganhar mais não trabalhando.
Anteontem, numa análise bem meditada sobre o tema das consequências sociológicas dos avanços da tecnologia sobre a redução dramática do emprego, lia-se aqui:
" ...Vamos
passar por cima da questão prática (como se paga um rendimento básico universal
de 10/20 mil a cada cidadão?) e olhemos para a questão moral: faz sentido
vivermos numa sociedade sem o pilar do trabalho? Como diz Satya Nadella, vão as
pessoas dedicar-se àquilo que gostam de facto? A sociedade do trabalho será
substituída pela sociedade dos hóbis? "
Num ponto, porém,
fica o articulista, segundo julgo, aquém da evolução previsível: O problema do
pagamento de um rendimento básico universal não é uma questão prática sobre a
qual se possa passar por cima. Porque,
Repito-me, enquanto Trump,
ou outro Trump qualquer, em jogos de guerra apocalípticos com Kim Jong-un ou
outro Kim Jong-un qualquer, não fizerem desaparecer a espécie humana (hipótese
não improvável), o rendimento básico universal poderá solucionar a questão
económica sem solucionar, como argumentado pelo colunista do Expresso, a questão sociológica.
Temos de admitir que
poderá haver sempre quem se governe bem com um rendimento básico, condição
necessária mas não suficiente à garantia de paz social em níveis socialmente
suportáveis, mas, com a crescente competição de meios não humanos, ocorrerá uma
progressão imparável para a ocupação de oportunidades de trabalho em que, ou
enquanto, a inteligência humana não for substituída pela inteligência
artificial.
E no limite, neste
caso, se sobrar alguma lógica económica, já não contarão os rendimentos mas os
poderes de comandar os destinos do planeta.
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Correl. - Homo Deus: A Brief History of Tomorrow
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