Thursday, April 30, 2020

APOCALYPSE NOW - 2020


Estamos a rever Apocalypse Now - Final Cut, realizado em 1979 por Francis Ford Coppola.
Ontem chegámos a cerca de 1/3 do final desta nova versão, apresentada há poucos meses nos cinemas.

Hoje, deu-se o acaso de ser publicado no Washington Post um artigo - Vietnam offers tough lessons for U.S. on coronavirus. Como, provavelmente, o acesso está limitado, transcrevo alguns períodos desse artigo.

"The United States passed a tragic milestone this week in its novel coronavirus outbreak. Less than three months after the first case was confirmed on U.S. soil, more lives have now been lost in the United States from the pandemic than the 58,220 Americans who died over nearly two decades of fighting during the Vietnam War. 
Coincidentally, the fall of Saigon 45 years ago this Thursday ended that conflict. But despite these milestones, in Vietnam many are focused on a very different marker: According to official figures, the country has recorded no new cases of domestic transmission of coronavirus in almost two weeks."
 
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Tuesday, April 28, 2020

O IMPÉRIO DO MEDO

Provavelmente, nunca na história da humanidade a dicotomia entre segurança e liberdade foi tão dramática. Nem Orwell sequer sonhou que a humanidade alguma vez enfrentasse uma situação em que a liberdade pudesse ser sequestrada por meios que, provadamente, garantiram que um vírus sequestrador fosse sequestrado, salvando milhões de vidas. 

A China, onde o maldito vírus deu os primeiros sinais da sua velocidade de contágio e grau de  letalidade, tem cerca 1,4 mil milhões de habitantes, os EUA com cerca de 330 milhões têm menos de 1/4 da população chinesa. Até ontem, segundo dados da OMS, a China registava 4633 mortes, um número que nas últimas semanas não tem observado subidas significativas, do frio ponto de vista numérico. Os EUA tinham atingido 56803 mortes, praticamente na sua totalidade nas últimas semanas, com tendência crescente, doze vezes mais que o número tendencialmente estabilizado, observado na China. 

Mas a China é um país governado por uma ditadura, argumenta-se, ainda que no Japão, governado democraticamente, com 126 milhões de habitantes registasse até ontem 385 mortes. Argumenta-se que os orientais desde há muitos anos se habituaram a proteger-se, nomeadamente,  com máscaras, quando as condições envolventes recomendam essas protecções. 

Por cá leio no JN de hoje:  Medir a febre no trabalho? O que deve ser salvaguardado.  A  Comissão de Protecção de Dados não tem dúvidas: com a lei como está, uma medida deste tipo só é possível no âmbito da medicina do trabalho. O Governo já avisou que vai mudar a lei, mas os sindicatos alertam que há fronteiras que não devem ser transpostas. - cf  aqui

Também é público que predomina, ainda, que a geolocalização dos infectados e daqueles que com eles tiveram contactos, não é tolerável em democracia, uma conquista civilizacional inegociável. Por outro lado, os médicos em geral, aqueles que batalham contra o monstro na linha da frente porque a defesa civil, também desta vez, não compareceu a tempo, avisam que um retorno à normalidade, e o que é isso nas circunstâncias actuais?, é para já prematuro e arrisca despoletar uma segunda vaga com consequências muito mais dramáticas. 

Espera-se que os sindicatos, por um lado, e aqueles que vêem na democracia uma donzela inviolável até nas unhas dos pés, não estejam a ser promotores de um dilúvio em que se afundarão irremediavelmente as democracias liberais.

Se uma empresa, em fase de retorno às suas actividades, pretende defender os que nela trabalham, garantindo-lhes segurança e confiança, quem é que, racionalmente, se opõe? 

Numa perspectiva doméstica, que confiança tenho na não infecção de um técnico, e ele em mim, se tenho a máquina da roupa avariada desde ontem, ou a máquina da louça, ou o frigorífico, ou a televisão, por exemplo? Posso lavar a louça à mão, a roupa será mais difícil porque abandonámos o tanque há muitos anos, dispensamos o frigorífico comendo apenas alimentos comprados nos últimos dois dias, sem nenhuma tristeza dispensamos a televisão, mas se a canalização da água ou do gás se rompem? Podemos sobreviver sem gás, mas podemos sobreviver sem água? Não podemos. Chamamos o técnico da companhia das águas. Posso confiadamente  deixá-lo entrar em minha casa, e virá ele confiante que em minha casa ainda não entrou o invisível e imprevisível monstro?

Fala-se pouco destas ninharias, as discussões, as opiniões, mais correntes, situam-se a níveis de abstracção incompreensíveis quando o mal galgar a terra  em nome da tal donzela inviolável, mesmo até no dedo do pé, que se afundará quando já não tiver pé.

Saturday, April 25, 2020

25 DE ABRIL SEM CLAUSURA


Revi esta noite num espaço televisivo "... a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio, e livres habitamos a substância do tempo"*, emocionaram-me, emocionam-me sempre que revejo, as imagens, os sons, as canções, os testemunhos dos revoltosos que realizaram o golpe de estado imediatamente abraçado pelo portugueses movidos por um impulso libertador enclausurado durante quase meio século, e que, com esse abraço decisivo fizeram uma revolução.

Mas foi uma revolução que tropeçou, frequentemente, ao longo de um ano e meio, em golpes e contra golpes, alguns dos quais tinham como objectivo explícito destruir a liberdade conquistada pelo povo nas ruas e instalar outra ditadura camuflada de liberdade condicionada por outro partido único. A democracia, como expressão livre da vontade do povo, só viria a consolidar-se a 25 de Novembro do ano seguinte.

Escrevo ao mesmo tempo que ouço a transmissão dos discursos na Assembleia da República, repetidos e requentados, os partidos a acusarem-se, reciprocamente, como sempre, das causas do nosso descontentamento colectivo, tendo este ano, em tempos de pandemia, a celebração na AR  como prato forte das querelas partidárias. A terminar, o Presidente da República gastou cerca de metade do seu tempo de discurso com a sua nunca dúvida de que o 25 de Abril, também este ano, (ainda que não o tenha sido sempre), teria que ser celebrado na AR.

Quantos portugueses terão ouvido estes discursos de princípio ao fim?

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* Obviamente, Sofia de Mello Breyner Andersen

Friday, April 24, 2020

CONVERSAS SEM CLAUSURA


 ONTEM
...
-  Sabes por que razão desinfectam ruas e prédios por onde é suposto terem passado ou habitado pessoas infectadas com o corona? Aliás, vêem-se na televisão imagens se pulverização de desinfectante na Coreia do Sul, por exemplo. Desinfectam as ruas mas também as pessoas que desembarcam em aeroportos ...
- Naturalmente, para matar o vírus.
- O vírus pode pegar-se aos sapatos se caminhamos na rua?
- Claro que pode pegar-se.
- E, como é que fazes: chegas a casa e descalças os sapatos ...
... descalço os sapatos e calço outros.
- E desinfectas os tapetes do carro?
- Não, isso não. Mas agora ando pouco de carro, e o vírus, se entrou, morre ao fim de algum tempo.
- Quanto tempo?
- Umas horas, quanto muito um ou dois dias.
- E quem anda diariamente de carro, que entra e sai do carro várias vezes por dia?
- Não sei como faz. Imagino que desinfecte o carro no fim de cada dia, antes de entrar em casa.
- Mas se desinfecta antes de entrar em casa, e não arruma em garagem do prédio, como é que vai para casa sem voltar a pisar a rua?
- Não sei.
- Mas, voltando à desinfecção das ruas, se o desinfectante mata o vírus porque é que não pensam os cientistas em desinfectar os infectados por dentro?
- Por dentro? Estás a gozar comigo ...

HOJE

...
- Recordas-te da nossa conversa de ontem?
- Qual delas?
- A desinfecção dos infectados.
- Lembro. ...
- Repara nesta notícia publicada hoje: Trump propõe curar Covid com injeção de desinfetante nos pulmões ou tratamentos de calor.
- Como é que isso se faz?
- Lê a notícia toda.
- Mas tu dás algum crédito ao que Trump diz?
- Eu não! Mas, mas mais ou menos, metade dos norte-americanos dá.
- É preocupante, não?
- Se é!
- Mas ontem tu não disseste o que o Trump hoje disse?
- Disse, mas não esperava que ele me ouvisse ...

Thursday, April 23, 2020

GRAÇAS A ZEUS?


Obrigado pelo seu comentário.

Num ponto estamos de acordo: "vamos ser um dos países do mundo com mais dificuldade para retomar a nossa vida anterior. Aqui também manda quem é mais rico e pode suportar melhor casos destes."

Mas não me parece que a relação entre número de infectados e PIB/capita seja a relação mais determinante para enfrentar as consequências da pandemia sobre a economia quando ocorrerem condições para a retoma da utilização da capacidade instalada. O que é mais preocupante para os países é o endividamento que têm de enfrentar e a capacidade para o pagar. Também é muito relevante a estrutura da actividade económica: o peso do turismo na economia portuguesa é um significativo handicap para a recuperação.
A dívida portuguesa já era enorme antes da pandemia, a que níveis irá subir, ninguém sabe, mas serão certamente elevadíssimos. 

Este o nó górdio que ou as instituições europeias, neste momento em negociações complicadíssimas conseguem desatar, avançando para uma cooperação só possível naquilo a que há muito tempo chamei neste caderno de apontamentos uma federação mínima, ou a União Europeia desintegra-se.

Portugal, mas não apenas Portugal, também a Itália, a Espanha, até a França, entre outros (e a Grécia?, é muito estranho que ninguém fale da Grécia, tem um número relativamente reduzido de infectados, para já, mas a dívida grega não deixou de ser enorme, ou deixou?) *

Resumindo: Sendo a pandemia uma ameaça global, as suas consequências na esfera económica serão também globais. Piores para uns, os mais pobres, que para outros, os mais ricos, certamente. Mas, relativamente, muito piores para os mais endividados no fim da pandemia, se não houver cooperação entre países. 

Há muita gente a dizer o mesmo, mas nem todos o que dizem o mesmo estão a pensar o mesmo.

 ---
* No dia 11 deste mês, podia lar-se num artigo do Público, vid. aqui,
que
       "... Por trás do sucesso está a entrada do país em regime de quarentena muito antes de a epidemia ganhar dimensão. Ao contrário de Itália ou de Espanha, as autoridades gregas esperaram menos de duas semanas desde o primeiro caso de confirmado encerrar as escolas e cancelar grandes eventos - nos dois países mais afectados, por outro lado, passou mais de um mês até que essas decisões fossem tomadas"...

"O analista da Fundação Helénica para a Política Externa e Europeia, George Pagoulatos, disse à Al-Jazeera que “talvez tenha ajudado o facto de a Grécia estar num estado quase constante de gestão de crise desde 2010”.

“Não sofremos do tipo de complacência que as  economias que estão em bom estado podem dar-se ao luxo de ter” .... "O Governo conservador liderado por Kyriakos Mitsotakis não esconde que uma boa gestão da pandemia se tornou numa forma de o país recuperar credibilidade junto dos parceiros europeus. “A Grécia emergiu de uma crise económica de dez anos com a sua credibilidade atingida e queríamos ultrapassar o rótulo de ovelha negra da Europa”, disse à Al-Jazeera o conselheiro económico de Mitsotakis, Alex Patelis"...

A propósito das consequências económicas e financeiras destas políticas de contenção da pandemia, que, segundo os últimos dados, continuam a ser bem sucedidas, não vi, desde então, nenhuma informação, nenhuma referência nos noticiários na rádio ou na televisão. 
No news, good news?




 

Monday, April 20, 2020

VACINA EM OUTUBRO?

Cientistas suíços esperam ter vacina contra o coronavírus em outubro

Uma vacina contra o novo coronavírus pode estar pronta para uso na Suíça em outubro próximo, anunciaram hoje cientistas de uma equipa que trabalha no desenvolvimento deste produto no Hospital Universitário de Berna e na indústria de biotecnologia. 
 
Cientistas suíços esperam ter vacina contra o coronavírus em outubro
Bloomberg
 20 de abril de 2020 às 21:48  
      
(publicado hoje 20/04 aqui)
 
"Esta será a primeira ou uma das primeiras vacinas" a conter a pandemia do covid-19", disse em conferência de imprensa o chefe do Departamento de Imunologia do Hospital Universitário de Berna (também conhecido como Inselspital), Martin Bachmann, que lidera o trabalho de pesquisa.

Este trabalho de pesquisa da vacina está agora no estágio de teste de eficácia e de segurança.

O especialista garantiu que existem "possibilidades realistas" para iniciar uma vacinação em massa da população suíça em outubro, um período muito mais curto do que o de 12 a 18 meses, com base no qual especialistas e empresas do setor farmacêutico trabalham.

Bachmann explicou que a pesquisa que dirige está a ser feita em colaboração com instituições científicas do Reino Unido, Letónia e China, bem como da Universidade de Zurique.

A investigação está numa fase em que foram resolvidos problemas que possibilitarão a realização de ensaios médicos (com pessoas) em agosto e uma comercialização da vacina dois meses depois, adiantou.

A tecnologia escolhida gera alta imunogenicidade, o que a torna adaptada para idosos, não possui contraindicações para quem sofre de doenças crónicas e é muito produtiva, pois com uma pequena quantidade de vacina podem ser produzidas 20 milhões de doses, explicou, nesta conferência de imprensa virtual, a partir de Berna.

Sobre a segurança oferecida pela vacina, Bachmann afirmou que "tudo está a ser feito de acordo com os padrões, mas de maneira acelerada", acrescentando que estão a ser seguidas as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além disso, o especialista argumentou que a vacina ou as vacinas usadas contra o novo coronavírus provavelmente oferecem proteção a longo prazo e não é necessário renová-las a cada ano, como no caso da gripe.

Isso, explicou, ocorre porque o SARS-CoV-2, que causa a doença da covid-19, é um vírus "estável" e não foram encontrados motivos para pensar que seja suscetível a mutações de curto prazo e, portanto, "uma eventual vacina provavelmente não será proteger por toda a vida, mas por um período de cerca de 10 a 15 anos".

A equipa de Bachmann trabalha com a Saiba, uma empresa de biotecnologia especializada em vacinas e que lida com questões de regulação e de financiamento desse projeto, que seria realizado em parte por uma fundação da Universidade de Zurique.

No processo de pesquisa e desenvolvimento, o diretor de operações da Saiba, Gary Jennings, disse que há conversas com os farmacêuticos suíços Novartis e Lonza sobre a futura produção da vacina.

O executivo e médico em bioquímica explicou que espera chegar a um acordo com as agências reguladoras e as autoridades suíças para realizar uma vacinação em massa, considerando "a longa história de pragmatismo" que o país possui. "Acreditamos que podemos chegar a um acordo com o Governo suíço para tornar a vacina uma realidade rapidamente", estimou.

Também garantiu que a equipa que trabalha neste projeto está disposta a facilitar a transferência de tecnologia para que a vacina possa ser produzida noutros países a preços muito acessíveis.

A nível global, segundo um balanço de hoje da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 165 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Mais de 537 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 735 pessoas das 20.863 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China

Sunday, April 12, 2020

FOLARES DA PÁSCOA



Este é o nosso preferido.
Original, elegante, uma gostosura, mesmo sem o podermos provar.
Chegou-nos, só em fotografia, dos EUA.
Mas encantou-nos.

Vão longe os tempos em que, pela Páscoa, na minha aldeia as padarias, nove, hoje resta uma, agora com produção restrita a três especialidades da terra, se dedicavam quase exclusivamente à satisfação de encomendas, que eram muitas, durante vários dias e noites.

Feitos de farinha de trigo, ovos, açúcar, fermento e água. Em cima colocavam-se um, dois, três ou quatro ovos, conforme os pedidos dos padrinhos que ofereciam o folar doce aos afilhados. Os ovos eram cozidos em água com cascas de cebola e seguros ao folar por finas tiras de massa não fermentada. Antes de ir ao forno os folares eram pincelados com gema de ovo batida.



Folar de 4 ovos feito em casa para esta Páscoa, na nossa aldeia.
Também não provámos, mas basta olhar e recordar para sentir-lhe o sabor tradicional.
Obrigado, Irmão, pela recordação.

Tuesday, April 07, 2020

PÔR OU NÃO PÔR MÁSCARA





JACINTO GONÇALVES
VICE-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA

A atitude da Organização Mundial de Saúde (OMS) na gestão da crise do coronavírus mostra, à exaustão, o risco que existe para todos nós, cidadãos do mundo, de eleger para cargos internacionais indivíduos escolhidos por consenso, geralmente político, e não seleccionados pelo seu mérito, competência ou inteligência.
Nesta crise a OMS foi sucessivamente ambígua, ziguezagueante e contraditória. A gestão da crise assemelhou-se mais à que faria um criador de carneiros na Austrália perante uma infeção nos animais. Foi preciso deixar morrer uns tantos animais para salvar o rebanho! O objetivo não era “comprimir a mola”, “ atrasar o pico” ou “aplanar a curva”.
Ao ouvir estas afirmações parece que estamos a falar de ensaios de laboratório com ratinhos. Por muito boa vontade que tenham as nossas autoridades, não devem ir a reboque de orientações estúpidas da OMS. Oiçam pessoas com experiência clínica, como o Professor Fausto Pinto.
O primeiro objetivo nesta crise é reduzir ao máximo o número de infetados, e não aceitar como uma fatalidade que tem de haver muitos doentes e que devemos apenas distribui-los no tempo. E o único meio de reduzir o número de infeções é tomar medidas drásticas de isolamento social. E nestas eu incluo o uso de máscaras, de luvas e de óculos, para toda a gente, em sítios públicos.
Sobretudo a máscara é essencial para fortalecer o isolamento social. E não são necessárias máscaras cirúrgicas difíceis de conseguir. A República Checa deu o exemplo de como as máscaras caseiras são eficazes. Uma echarpe ou um lenço a tapar a boca e o nariz são melhor que nada. Porque o objetivo não é proteger-nos a nós. É proteger os outros da nossa infeção potencial que ainda não deu sintomas mas já é infetante. E se for necessário um contato de proximidade use luvas e óculos. Luvas de borracha, de plástico, ou mesmo de pano. Que pode recuperar mergulhando-as durante meia hora numa mistura de água com lixívia a 1/10.
Os óculos não são especiais, são os seus. Todas estas medidas têm de ser musculadas e obrigatórias para toda a gente. Porque eu não quero ver os meus colegas nas Unidades de Cuidados Intensivos a arriscar a vida longe das famílias, enquanto todos nós já aceitámos que tem de morrer muita gente, incluindo muitos médicos e enfermeiros, enquanto a curva se vai aplanando.

Artigo publicado hoje no Expresso

POUPAS EM DUETO


- Então, já voltou a poupa por aí?
- Já, já, esteve a cantar,  um regalo durante uns dias seguidos. Cantava perto mas  não sabíamos onde. Afinal estava a cantar em cima do nosso telhado. Tiro uma fotografia, não tiro porque a posso espantar. Fiquei sem prova fotográfica.
Depois, apareceu por aí o gato cinzento, o preto não sabemos o que é feito dele, não tem aparecido, e deixámos de ouvir a poupa.
Teria o safado do gato deitado a luva à nossa soprano alada? Entretanto, voltaram os dias de neblina e chuva, a poupa não gosta de cantar à chuva.

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Hoje, voltou o sol.
Ouves a poupa a cantar?
Ouço. E não está longe.
Talvez esteja em cima do nosso telhado. Não estava. Estava em cima do telhado do vizinho. E, daqui, sem perigo da assustar, saquei uma foto da soprano.
E está outra do outro lado, não no telhado vizinho mas no outro atrás.
Desisti da fotografia do tenor, com o zoom do telemóvel  não se conseguem fotos aquela distância. Mas para quê a foto, se a foto não regista o canto e é o canto que encanta?

Monday, April 06, 2020

MÁSCARA

https://int.nyt.com/data/documenthelper/6860-printable-face-mask-tutorial/ded6e67bb78f2599a7ff/optimized/full.pdf


- Agora, finalmente, a DGS parece ter recomendado o uso de máscaras.
- Finalmente, agora, porque não havia nem há máscaras para quem as queira comprar.
- Telefonei para três farmácias, uma não tinha, outra não tinha mas aceitou inscrição em lista de espera, prometeram telefonar quando recebessem nova remessa, outra tem, custa €14,75 cada uma. E é reutilizável? Pode ser se quando a retirar a colocar ao sol...
- Na Internet vêem-se várias sugestões, vídeos ou artigos escritos, para as confeccionar em casa. Mas como é que se procede quando a retiramos? Faltam, do meu ponto de vista, programas de esclarecimento da população. As camisas, camisolas, cuecas, etc. eram costuradas em casa antes de a sua produção ter sido industrializada. Por que não se ensinam as pessoas a confeccionar as suas máscaras e, sobretudo, a forma de lidar com elas?
- Já fizeste alguma?
- Já. Mas não sei se a fiz bem, e, sobretudo, não sei como lidar com ela. Os canais de televisão, que tanto espaço dedicam a ensinar receitas de culinária, por que não dedicam também algum espaço 
a ensinar com que se confeccionam, como se confeccionam, e, sobretudo, como devem os utilizadores lidar com elas sem aumentar o risco com o seu uso?

Está alguém em casa?