Saturday, April 25, 2020

25 DE ABRIL SEM CLAUSURA


Revi esta noite num espaço televisivo "... a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio, e livres habitamos a substância do tempo"*, emocionaram-me, emocionam-me sempre que revejo, as imagens, os sons, as canções, os testemunhos dos revoltosos que realizaram o golpe de estado imediatamente abraçado pelo portugueses movidos por um impulso libertador enclausurado durante quase meio século, e que, com esse abraço decisivo fizeram uma revolução.

Mas foi uma revolução que tropeçou, frequentemente, ao longo de um ano e meio, em golpes e contra golpes, alguns dos quais tinham como objectivo explícito destruir a liberdade conquistada pelo povo nas ruas e instalar outra ditadura camuflada de liberdade condicionada por outro partido único. A democracia, como expressão livre da vontade do povo, só viria a consolidar-se a 25 de Novembro do ano seguinte.

Escrevo ao mesmo tempo que ouço a transmissão dos discursos na Assembleia da República, repetidos e requentados, os partidos a acusarem-se, reciprocamente, como sempre, das causas do nosso descontentamento colectivo, tendo este ano, em tempos de pandemia, a celebração na AR  como prato forte das querelas partidárias. A terminar, o Presidente da República gastou cerca de metade do seu tempo de discurso com a sua nunca dúvida de que o 25 de Abril, também este ano, (ainda que não o tenha sido sempre), teria que ser celebrado na AR.

Quantos portugueses terão ouvido estes discursos de princípio ao fim?

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* Obviamente, Sofia de Mello Breyner Andersen

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