JACINTO GONÇALVES
VICE-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA
A atitude da Organização Mundial de Saúde (OMS) na gestão da crise do coronavírus mostra, à exaustão, o risco que existe para todos nós, cidadãos do mundo, de eleger para cargos internacionais indivíduos escolhidos por consenso, geralmente político, e não seleccionados pelo seu mérito, competência ou inteligência.
Nesta
crise a OMS foi sucessivamente ambígua, ziguezagueante e contraditória.
A gestão da crise assemelhou-se mais à que faria um criador de
carneiros na Austrália perante uma infeção nos animais. Foi preciso
deixar morrer uns tantos animais para salvar o rebanho! O objetivo não
era “comprimir a mola”, “ atrasar o pico” ou “aplanar a curva”.
Ao
ouvir estas afirmações parece que estamos a falar de ensaios de
laboratório com ratinhos. Por muito boa vontade que tenham as nossas
autoridades, não devem ir a reboque de orientações estúpidas da OMS.
Oiçam pessoas com experiência clínica, como o Professor Fausto Pinto.
O
primeiro objetivo nesta crise é reduzir ao máximo o número de
infetados, e não aceitar como uma fatalidade que tem de haver muitos
doentes e que devemos apenas distribui-los no tempo. E o único meio de
reduzir o número de infeções é tomar medidas drásticas de isolamento
social. E nestas eu incluo o uso de máscaras, de luvas e de óculos, para
toda a gente, em sítios públicos.
Sobretudo
a máscara é essencial para fortalecer o isolamento social. E não são
necessárias máscaras cirúrgicas difíceis de conseguir. A República Checa
deu o exemplo de como as máscaras caseiras são eficazes. Uma echarpe ou
um lenço a tapar a boca e o nariz são melhor que nada. Porque o
objetivo não é proteger-nos a nós. É proteger os outros da nossa infeção
potencial que ainda não deu sintomas mas já é infetante. E se for
necessário um contato de proximidade use luvas e óculos. Luvas de
borracha, de plástico, ou mesmo de pano. Que pode recuperar
mergulhando-as durante meia hora numa mistura de água com lixívia a
1/10.
Os
óculos não são especiais, são os seus. Todas estas medidas têm de ser
musculadas e obrigatórias para toda a gente. Porque eu não quero ver os
meus colegas nas Unidades de Cuidados Intensivos a arriscar a vida longe
das famílias, enquanto todos nós já aceitámos que tem de morrer muita
gente, incluindo muitos médicos e enfermeiros, enquanto a curva se vai
aplanando.
Artigo publicado hoje no Expresso.
Artigo publicado hoje no Expresso.
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