Sunday, February 28, 2010

A COR DAS ONDAS

Perdemos ou ganhámos com tantos milhões investidos num porto de mar com tantas e severas limitações?
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Ganhámos.

Ganhámos porque a Figueira em meados do século passado vivia da praia no Verão e hibernava no Inverno. Actividades industriais havia poucas e ameaçadas: o Estaleiros Navais do Mondego, os Cimentos do Cabo Mondego, a Vidreira da Fontela e pouco mais. A Figueira de então atraía turistas em Julho e Agosto, muitos deles da Estremadura espanhola, e repelia os seus naturais, que não encontravam emprego. A agricultura no concelho era abandonada pela maioria dos que nela tinham nascido, os homens iam a salto para França, Luxemburgo, Alemanha, e de lá chamavam as famílias, porque cá não havia trabalho para eles.

A pesca era uma actividade pobre e arriscada. Para além de todas as ameaças ao largo, a entrada na barra era uma roleta russa porque o assoreamento constante reduzia a abertura da porta e impedia que as embarcações se safassem sem perigo.

Para além de uma muito restrita minoria pequeno-burguesa ligada a actividades comerciais, na Figueira só permaneciam os funcionários do Estado (Finanças, Tribunal, Ensino, Exército) da Câmara Municipal, alguns advogados, alguns médicos, farmacêuticos, e pouco mais.

O figueirense que não emigrasse e vivesse das expectativas do Verão levava a maior parte da vida a ver o tempo passar.

Os molhes de encaixe do rio vieram permitir a existência de um porto de abrigo, pequeno mas seguro, a custo da qualidade da praia.

Acontece que é por essa altura que o interesse pelas praias do Sul começa a levar os veraneantes para o Algarve, como já tinha levado para o Sul de Espanha e, ainda antes, para o Mediterrâneo em França. A praia da Figueira, como a de Espinho, e muitas outras da Costa Norte Atlântica, mais frias que as do Sul, deixaram de ter o interesse para as banhistas em biquíni. E eles atrás delas.

Se a praia de hoje fosse a praia dos anos 50 do século passado, a Figueira teria mais turistas durante os dois/três meses em que se esgotam as condições climatéricas propícias? Não creio que tivesse significativamente muitos mais.

Aliás, considero que o atraso económico e social observado pela Figueira até à chegada das indústrias de celulose e papel se deve em grande parte à praia: induzidos por um "boom" periódico de actividades à volta da praia, muitos figueirenses esqueceram-se que deveriam trabalhar durante todo o ano*. Só assim se explica que, a Norte, Aveiro, e a Sul, Leiria, tenham experimentado níveis de crescimento económico muito superiores. Coimbra, que não tinha praia mas tinha estudantes, também estagnou.

A chegada das celuloses à Figueira, e muito principalmente da Soporcel pela dimensão que veio a atingir, alterou substancialmente, ainda que menos do que poderia, o panorama de crescimento económico. E digo menos do que poderia, porque um parque industrial pensado nos anos 80 foi criado ali ao lado mais com intenções político partidárias do que com objectivos sérios de desenvolvimento. E não chegou a sair das cascas.

Quanto ao impacto ambiental, não creio que actividade industrial a Sul possa razoavelmente ser acusada da degradação do ambiente ou causa de repulsão da actividade turística.

Mas já pode ser atribuída muita degradação ecológica à incompetência, ao desleixo, e provavelmente a outras causa indignas. A Serra da Boa Viagem desvastada pelos incêndios está há muitos anos a ser repovoada naturalmente por acácias e outras pragas. Passo por lá de vez em quando, e o que me desgosta mais não é a extensão do areal lá em baixo mas o abandono em que se encontra aquilo que era uma maravilha cá em cima.
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*Passa-se o mesmo fenómeno no Algarve, mas em mais larga escala. O turismo induziu a construção massificada, arruinou parte significativa da orla marítima, e canibalizou praticamente todas as outras actividades produtivas.

O QUE É ISTO?

Pauli Exclusion Principle: Why You Don't Implode

Saturday, February 27, 2010

BANDIDOS

Qual é o ponto de reacção de um penedo?
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António Barreto, em entrevista publicada hoje no Expresso afirma que "fugas de informação são pagas" e que "se a justiça ajudasse e se não houvesse alguns bandidos - ou na magistratura judicial ou na magistratura do Ministério Público - que fazem fugas de imprensa sistematicamente ... Não é possível viver com um sistema em que algumas pessoas na Procuradoria ou na magistratura judicial condicionam a vida nacional de uma maneira sub-reptícia, clandestina e eu acho que paga. Acho que há pessoas que stão ganhar fortunas para vender informação em segredo de Justiça. Não há outra explicação."
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A coordenadora do DCIAP tinha afirmado mais ou menos o mesmo há dias.
Justiça!, Justiça!, está alguém em casa?

QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO*










Há quem pense que o diagnóstico acerca da situação da economia portuguesa e das causas que a levaram ao estado actual ainda não está completo. Duvido. E duvido porque é difícil hoje encontrar alguém que não apresente os mesmos, ou parecidos, gráficos da evolução do doente. Sendo certo que nenhuma explicação, seja do que for, estará alguma vez esgotada, a análise hoje conhecida é mais do que suficiente para a discussão da terapia mais adequada.
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Acerca dela confrontam-se os especialistas com receitas ditadas mais por convicções ideológicas, e portanto antolhadas, do que nos esforços que deverão ser feitos para remover os múltiplos factores de bloqueio. A discussão sem propostas alternativas é inconsequente e apenas serve para confrontos intermináveis dominados por baias partidárias. A dissecação do passado é importante para a prevenção de erros futuros mas totalmente inútil se não se vislumbrarem alternativas.
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A adesão ao euro, nas condições e na altura em que foi feita, foi um erro? Penso que não. Mas mesmo admitindo o contrário, que vantagens decorrem agora dessa discussão sem possibilidade de confronto real com a hipótese contrária? Nenhumas. Aqui, e agora, o que há que equacionar é a vantagem em permanecer no euro ou sair dele. Pessoalmente, penso que a saída seria uma besteira mas também ainda não a vi seriamente defendida por ninguém. A mais elementar razoabilidade parece então residir na descoberta do caminho das pedras que nos permita atravessar o rio caudaloso e turbulento chamado euro. O resto é conversa fiada.
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Até agora, apresentaram-se em confronto duas teses fundamentais: Uma que propõe a recuperação de, pelo menos, da competitividade perdida (a da produtividade terá de ter outras alavancas) e, consequentemente, da contenção do endividamento externo, através da redução dos salários (dos rendimentos, na minha opinião), que terá inevitavelmente efeitos colaterais indesejáveis; outra, que entrega ao tempo a solução.
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Pela minha parte, ainda que receie bastante que só exista uma solução válida que passa por uma redução de rendimentos e uma recessão pontual acentuada, reforça-se-me a convicção que o contributo diversificado de várias acções de impacto localizado poderiam ajudar à redução dos sacrifícios a que mais uma vez os portugueses vão ser submetidos. Estou a pensar em medidas de redução de importações por parte de serviços dos governos (central e local); em incentivos à utilização de transportes públicos através de maior tributação dos utilizadores de viaturas individuais e transferência dos resultados dessa tributação para o apoio ao investimento e à redução dos preços dos transportes públicos; na redução das despesas com a defesa, na tributação da propriedade expectante e benefício da propriedade activa; na alienação da propriedade inativa ou subaproveitada do Estado (administrada central ou localmente) sujeita a contratos de utilização económica e socialmente vantajosa para o país; na redução drástica do recurso a assessores e utilização dos funcionários públicos com qualificações idênticas; no estabelecimento de objectivos nucleares (meia dúzia deles) para os diferentes serviços do Estado indexados aos melhores indicadores conhecidos observados nos países da União Europeia e estabelecer critérios de promoções com base no grau de atingimento desses objectivos. Etc, para não alongar a lista.
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Quanto a diagnósticos, já estamos fartos.
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* gráficos, copy/paste de aqui . Clicar para aumentar
1 - Portuguese GDP growth (HP filter), 1900-2007 (Source: Maddison dataset)
2 - Growth of Potential GDP, 1965-2009 (Source: AMECO, European Commission)
3 - Portuguese public debt in % of GDP, 1900-2009 (Source: 1900-1973: Mata e Valério (1994), 1974-2009: AMECO, European Commission)
4 - Portuguese net exports (goods and services) in % of GDP, 1910-2009 ( 1910-1953: Baptista, Martins, Pinheiro e Reis (1997), 1954-1976: Banco de Portugal Séries Longas, 1977-2009: Banco de Portugal Estatísticas)

O JOGO DA CABRA CEGA

Soma e segue.
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Procuradora quer julgamento de arguidos do caso Portucale
A procuradora Auristela Gomes Pereira defendeu o julgamento dos onze arguidos do caso Portucale, relacionado com a declaração de imprescindível utilidade pública para um empreendimento imobiliário.

Friday, February 26, 2010

A LATA DA CAIXA

A redução dos rendimentos dos portugueses (e não só dos salários, porquê apenas dos salários?) ou se faz de uma forma abrupta ou é resultante do empobrecimento prolongado. Não parece existir alternativa menos gravosa para a saída do beco em que nos enfiaram, ou nos deixámos enfiar. No primeiro caso, a solução seria socialmente mais justa e melhor direccionada para a recuperação da competitividade perdida pelos sectores produtores de bens e serviços transaccionáveis.
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Mas a adopção dessa medida, susceptível de gerar conflitos sociais dramáticos, só poderia ser levada a bom termo por um governo maioritário pluripartidário, como já várias vezes anotei neste caderno de apontamentos, e deveria ser geral, exceptuando apenas os rendimentos mais baixos.
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A notícia de hoje do Jornal de Negócios* da intenção da administração da CGD pedir o "estatuto de excepção" só prova que os responsáveis pelo banco do Estado estão longe de perceber as dificuldades por que passa o país, uma parte significativa das quais resultou do comportamento de rebanho da Caixa no contexto do sistema financeiro português.
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Por quê a excepção? Terá o senhor Ministro das Finanças a coragem de dizer aos administradores da Caixa que o sector financeiro tem sugado os sectores produtivos, que têm de mostrar no mercado o que valem? E que a Caixa se tem comportado como se nenhuma obrigação lhe coubesse no encaminhamento mais adequado das poupanças dos portugueses para os sectores essenciais ao crescimento económico e social sustentado? E que, pelo contrário, a Caixa tem privilegiado os sectores especulativos (na construção civil, potenciando de vários modos a especulação imobiliária) e os monopólios de facto, de um modo ou de outro já favorecidos por incentivos vários? Que a redução geral de rendimentos se impõe porque também a Caixa se apropriou muito mais do que devia de um bolo global que não cresceu nos últimos doze anos?
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Thursday, February 25, 2010

CULPA SEM CASTIGO

Continua a denúncia das actividades ilegais, imorais e muitas vezes criminosas praticadas por grandes bancos que estiveram na origem das várias fontes que alimentaram a crise financeira global.
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Até agora, porém, nada foi substancialment alterado na regulamentação que consentiu, explicita ou implicitamente, os logros vendidos em todo o mundo. Nem foram responsabilizados pessoalmente os principais culpados.
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A reclamação de regulamentação mais exigente de transparência dos processos por si só não basta: primeiro, porque pode retirar carga à responsabilidade que impende sobre os fautores dos logros, que invocarão terem realizado as suas actividades ao abrigo dos preceitos legais em vigor ainda que essas actividades objectivamente tenham causado danos generalizados e de enorme dimensão a terceiros; segundo, a multiplicação de regulamentos suscita a multiplicação dos meios hábeis para os contornar;
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Se, objectivamente, há culpados, a eles deve ser exigido o ressarcimento das perdas sofridas por terceiros.
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Fed probes Goldman role in Greek crisis
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The US central bank is looking into Goldman Sachs’s role in arranging contentious derivatives trades for
Greece, which helped the country to massage its public finances, Ben Bernanke, chairman of the Federal Reserve, revealed on Thursday.
“We are looking into a number of questions relating to
Goldman Sachs and other companies and their derivatives arrangements with Greece,” Mr Bernanke said, noting that the US Securities and Exchange Commission was also interested in the issue. However, Mr Bernanke did not give any more details about the investigations.
Testifying before Congress, the Fed chairman also criticised the use of financial instruments, such as credit default swaps (CDS), that destabilised a country or created runs against governments as “counterproductive”. Mr Bernanke’s comments came as an official in German chancellor Angela Merkel’s ruling Christian Democratic Union party said the G20 nations were discussing whether a ban on the speculative use of CDS was workable.
The
renewed uncertainty about Greece prompted a further sell-off of the country’s bonds and the euro amid rising fears that Athens faced a credit ratings downgrade that would complicate its goal of refinancing its debt in capital markets.
Greek bonds saw one of their biggest one-day falls of the year with yields on two-year bonds climbing to 6.4 per cent. The euro fell to a one-year low against the yen and near a nine-month low against the US dollar. This was in spite of signals from Athens that it would introduce new austerity measures early next week.
Goldman has come under fire from European regulators for structuring transactions that helped Greece trim its debt figures after it joined the European monetary union in 2001. As Greece’s public debt grew to exceed its annual gross domestic product, the bank helped it organise a currency trade to delay its repayments while meeting European deficit limits.
Goldman has said that the currency swaps played a minimal role in Greece’s current financial crisis and that the transactions were in line with European regulations. However, a senior Goldman banker told a UK parliamentary committee last week that the bank should have been more transparent.
Separately, Phil Angelides, chairman of the US Financial Crisis Inquiry Commission, told the Financial Times that he was concerned about the financial market practice of creating securities and “fully betting against them” – and about Goldman’s role in particular. Goldman declined to comment.

CONVERSAS AO ALMOÇO

- Mas é competente.
- Será, mas não era disso que estávamos a discutir.
- Mas não há nenhuma prova irrefutável que ele seja mentiroso.
- Talvez não. Mas há a evidência repetida de que é um BAN-DA-LHO!
- Que exagero!
- O que é um bandalho?
- É um sem vergonha, sem brio, sem pundonor. Noutros tempos uma acusação dessas era uma afronta que só se limpava com sangue. Agora há mais civismo mas também há mais cobardia. As acusações, mesmo as mais ultrajantes, ficam quase sempre impunes. É o reino da bandalheira.
- Também disseram que o PGR mentiu ...
- Pois disseram. E ele encaixou. Quem cala, consente.
- E a coordenadora do DCIAP disse que os magistrados eram suspeitos de quebra do segredo de justiça.
- Pois disse, e ainda ninguém a mandou prender.
- Hoje tudo isso é trivial em qualquer sociedade.
É a democracia.
- Aqui é trivial demais. E não é democracia nenhuma. Democracia não é bandalheira. Não se fala de outra coisa num país com problemas gravíssimos à sua frente.
- O tempo tudo resolve.
- Ou enterra.

QUE SE LIXEM OS GREGOS!

Let the Greeks ruin themselves
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"Que se lixem os gregos!" Seria uma tradução livre em português popular do título deste artigo saído no Economist desta semana, que resume a posição, mais emocional que reflectida, daqueles países da UE que não estão com a corda na garganta. De entre eles destaca-se, pela dimensão da sua economia no conjunto dos países da União Europeia e, muito particularmente daqueles que adoptaram o euro como sua moeda, a Alemanha.
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Os gregos portaram-se mal, os portugueses não se portaram muito melhor. Mas também a Espanha e a Itália se confrontam com a ameaça de ruptura de credibilidade financeira internacional. O que é que pode acontecer?
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As propostas de solução vão desde o avanço da UE para uma federação de estados semelhante aos EUA (Krugman, por exemplo) até a um bail out da Alemanha à Grécia que, inevitavelmente, criaria um precedente que os alemães não parecem dispostos a abrir. George Soros, entre outros, propõe um paliativo (emissão de eurobonds) que teria o mérito de reduzir os custos das dívidas dos aflitos mas o inconveniente de pressupor garantias dos mais disciplinados, que, povavelmente, não estarão pelos ajustes.
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Tudo conjugado, qualquer que seja a volta dada, permanece um requisito incontornável: o de que as economias (indiviuais, familiares, das comunidades, dos estados, das federações de estados) não podem indefenidamente manter-se dependentes do crescimento das suas dívidas e, portanto, têm de adequar os seus consumos aquilo que produzem. Uma conclusão óbvia que, no entanto, pressupõe a adopção de políticas menos óbvias. Sem a possibilidade de desvalorizações competitivas (que aliás seriam uma contradição da existência de uma União Europeia) o realinhamento cambial real tem de efectuar-se pela redução dos rendimentos reais (e não só dos salários, por quê só dos salários?).
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É essa medida que, sendo tida como politicamente inexequível por enquanto, só tem uma alternativa pior: a saída do euro e da UE.

O QUE DIZ SOROS

By George Soros
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Otmar Issing, one of the fathers of the euro, correctly states the principle on which the single currency was founded. As he wrote in the FT last week, the euro was meant to be a monetary union but not a political one. Participating states established a common central bank but refused to surrender the right to tax their citizens to a common authority. This principle was enshrined in the Maastricht treaty and has since been rigorously interpreted by the German constitutional court. The euro was a unique and unusual construction whose viability is now being tested.
The construction is patently flawed. A fully fledged currency requires both a central bank and a Treasury. The Treasury need not be used to tax citizens on an everyday basis but it needs to be available in times of crisis. When the financial system is in danger of collapsing, the central bank can provide liquidity, but only a Treasury can deal with problems of solvency. This is a well-known fact that should have been clear to everyone involved in the creation of the euro. Mr Issing admits that he was among those who believed that "starting monetary union without having established a political union was putting the cart before the horse".
The European Union was brought into existence by putting the cart before the horse: setting limited but politically attainable targets and timetables, knowing full well that they would not be sufficient and require further steps in due course. But for various reasons the process gradually ground to a halt. The EU is now largely frozen in its present shape.
The same applies to the euro. The crash of 2008 revealed the flaw in its construction when members had to rescue their banking systems independently. The Greek debt crisis brought matters to a climax. If member countries cannot take the next steps forward, the euro may fall apart.
The original construction of the euro postulated that members would abide by the limits set by Maastricht. But previous Greek governments egregiously violated those limits. The government of George Papandreou, elected last October with a mandate to clean house, revealed that the budget deficit reached 12.7 per cent in 2009, shocking both the European authorities and the markets.
The European authorities accepted a plan that would reduce the deficit gradually with a first instalment of 4 per cent, but markets were not reassured. The risk premium on Greek government bonds continues to hover around 3 per cent, depriving Greece of much of the benefit of euro membership. If this continues, there is a real danger that Greece may not be able to extricate itself from its predicament whatever it does. Further budget cuts would further depress economic activity, reducing tax revenues and worsening the debt-to-GNP ratio. Given that danger, the risk premium will not revert to its previous level in the absence of outside assistance.
The situation is aggravated by the market in credit default swaps, which is biased in favour of those who speculate on failure. Being long CDS, the risk automatically declines if they are wrong. This is the opposite of selling short stocks, where being wrong the risk automatically increases. Speculation in CDS may drive the risk premium higher.
Recognising the need, the last Ecofin meeting of EU finance ministers for the first time committed itself "to safeguard financial stability in the euro area as a whole". But they have not yet found a mechanism for doing it because the present institutional arrangements do not provide one - although Article 123 of the Lisbon treaty establishes a legal basis for it. The most effective solution would be to issue jointly and severally guaranteed eurobonds to refinance, say, 75 per cent of the maturing debt as long as Greece meets its targets, leaving Athens to finance the rest of its needs as best it can. This would significantly reduce the cost of financing and it would be the equivalent of the International Monetary Fund disbursing conditional loans in tranches.
But this is politically impossible at present because Germany is adamantly opposed to serving as the deep pocket for its profligate partners. Therefore makeshift arrangements will have to be found.
The Papandreou government is determined to correct the abuses of the past and it enjoys remarkable public support. There have been mass protests and resistance from the old guard of the governing party, but the public seems ready to accept austerity as long as it sees progress in correcting budgetary abuses - and there are plenty of abuses to allow progress.
So makeshift assistance should be enough for Greece, but that leaves Spain, Italy, Portugal and Ireland. Together they constitute too large a portion of euroland to be helped in this way. The survival of Greece would still leave the future of the euro in question. Even if it handles the current crisis, what about the next one? It is clear what is needed: more intrusive monitoring and institutional arrangements for conditional assistance. A well-organised eurobond market would be desirable. The question is whether the political will for these steps can be generated.

Wednesday, February 24, 2010

COMO É QUE ISTO SE DIZ EM PORTUGUÊS?

"Será que com isso as ideias teriam de ficar mais claras, pois o público seria mais exigente, nem que fosse apenas porque seria mais amplo? Será que o blogue conseguiria ter reacções interessantes vindas de fora? "
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E assim nasceu The Portuguese Economy , um blog em inglês de um grupo de economistas e historiadores da economia para pensar a economia portuguesa no contexto internacional.
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Alves Martins, que foi Catedrático de Finanças no ISCEF, emperrava de vez em quando na língua materna, só lhe ocorria a ideia em língua inglesa, estalava o polegar no médio e perguntava para o ar: Como é que isto se diz em português???
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Ficou célebre por isso.

ECONOMIA, POLÍTICA, E POLÍTICA ECONÓMICA

Em Junho do ano passado 51 economistas portugueses assinavam um documento defensor das opções do Governo pelo grandes investimentos, em resposta a um documento subscrito por 28 economistas defendendo a suspensão do programa governamental. A falta de meios (ou o crescimento abrupto da dívida) veio retirar a questão de cima da mesa das discussões. Não havendo dinheiro não há vícios.
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Ocorreu-me a lembrança deste confronto economista doméstico a propósito das cartas enviadas ao Financial Times*, subscritas por gente de peso, de entre os quais dois premiados com o Nobel da economia, recomendando que a despesa pública não seja reduzida antes de 2011, em resposta a uma outra carta dirigida ao Sunday Times**, subscrita por gente credenciada, recomendando o contrário. Estes últimos apoiam as propostas do líder da oposição conservadora, os primeiros dão ao actual governo argumentos para evitar políticas restritivas com eleições à vista.
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Onde é que, Economia, pára a tua a virtude?
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Supprt for Labour in battle over public debt
By Jean Eaglesham and Daniel Pimlott
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More than 60 leading economists have backed Alistair Darling, UK chancellor of the exchequer, in his decision to delay spending cuts until 2011, creating a dividing line within the profession on the
issue of how to tackle the UK's huge public debt, which will be crucial in the forthcoming general election.
Two letters in today's (02/19) FT warn of the risks of damaging Britain's recovery by "reckless" early cuts. They are a riposte to 20 economists who wrote to The Sunday Times last week supporting the opposition Conservative party's line that fiscal tightening should start this year.
The letters reject the claim that cuts are needed now to reassure the markets and head off the risk of Britain losing its triple-A credit rating.
One, organised by Lord Skidelsky, asks instead how "foreign creditors will react if implementing fierce spending cuts tips the economy back into recession".
The other backs the chancellor's "sensible" plan for tackling the deficit, warning that "with people's livelihoods at stake, a responsible government should avoid reckless actions".
The signatories to the letters include two Nobel Laureates - Joseph Stiglitz and Robert Solow - and five former members of the Bank of England's monetary policy committee, including two former deputy governors. Alan Blinder, a former vice-chairman of the Federal Reserve, is also a signatory.

O QUE É ISTO?

Astronaut Installs Panoramic Space Window

Tuesday, February 23, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA

Proposta de Cândida Almeida sobre escutas a magistrados abre polémica nos meios judiciais
A possibilidade de magistrados virem a ser alvo de escutas telefónicas para melhor combater o crime de violação do segredo de justiça, defendida, ontem, pela coordenadora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP),
Rui Rangel diz que medidas propostas por Cândida Almeida são "disparatadas"
Sindicato dos Procuradores critica proposta de Cândida Almeida sobre escutas
Secretário de Estado João Correia discorda de Cândida Almeida
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Dizer que são disparatadas as medidas propostas pela coordenadora do DCIAP ou não concordar com elas é dizer a mesma coisa por outras palavras.
Mas nenhum deles desafia a autora a provar aquilo que afirmou: que "escutas a magistrados defendem melhor o segredo de justiça", afirmação que não pode ter outra interpretação se não a de que, segundo a coordenadora do DCIAP, há magistrados que são suspeitos de violar o segredo de justiça.
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Uma suspeita grave demais para ser absolvida como disparate, pensa o homem comum.

Monday, February 22, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA


Declarações da senhora directora do DCIAP : Escutas a magistrados defendem melhor o segredo de justiça
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Ela disse isto?
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Li o resumo da notícia no JNonline (aonde estou não chega o JN impresso) e fiquei pasmado. Sou um daqueles portugueses que ainda pasmam com algumas notícias que fazem de Portugal um País diferente. E admito que seja também para pagar algumas originalidades que pagamos alguns impostos.
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Segundo depreende o cidadão comum, que eu sou, as escutas fazem bem à justiça. A tal ponto que não as podem dispensar. Mas também fazem bem a outras coisas: por exemplo, aos media e, por tabela, aos profissionais dos media. Porque, como toda a gente sabe, os clientes dos media lambem-se com as escutas. De modo que da gulodice da malta por escutas até ao rendimento que as gulodices costumam dar vai um passo pequeno: a quebra do segredo de justiça. Sem quebrar o segredo, as escutas seriam o mel esquecido no cortiço. O problema, segundo parece, é que, como qualquer gulodice, a quebra do segredo de justiça faz mal à justiça.
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Ora se:
- as escutas fazem bem à justiça,
- mas a quebra do segredo de justiça faz mal à justiça, daí o estado calamitoso em que a justiça se encontra,
- porque as escutas só fazem bem à justiça se não forem do conhecimento do cidadão comum;
- se a senhora PGA está convencida que o segredo de justiça só será bem guardado se as escutas forem alargadas aos magistrados, porque os magistrados podem quebrar o segredo de justiça;
- Mas se os magistrados não estão acima da lei, a senhora PGA colocou-os acima da justiça ao não ter ordenado até agora que os seus pares suspeitos fossem escutados,
- tornando-se, pelo menos, objectivamente conivente com aqueles seus pares que supostamente quebraram o segredo de justiça.
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É assim ou tudo isto não passa de uma paródia?

Sunday, February 21, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA

E não se passa disto.
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Face Oculta: PGR terá mentido para impedir o acesso aos seus despachos de arquivamento das escutas
O Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, recusou, ao longo dos últimos meses, o acesso aos seus despachos de arquivamento ao crime de atentado contra o Estado de direito no âmbito do caso Face Oculta.

SUN DAY

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Ano Novo Chinês (Taiwan, neste caso). É curioso que na Parade também participam não asiáticos, não sei se voluntários ou remunerados.

Em cima de Josef Albers: Innovation and Inspiration, numa exposição temporária do Hirshhorn Museum and Sculpture Garden. Em baixo, Woman with Baby Carriage, bronze de Pablo Picasso; Whale, de Robert Rauschenberg, das colecções permanentes do mesmo museu.

DA RUA DA FONTE A WALL STREET

João,

O comentário anónimo ( o anonimato quase sempre denuncia o carácter - ou a falta dele - de quem comenta) reflecte, infelizmente, o modo de pensar de muitos portugueses. Mas, para além desses, há também os que concordam contigo mas procedem como os outros.

Vezes sem conta já dei por mim a protestar contra esta falta de civismo sem freio que se exibe por todo o lado. E acabo por me ver, a mim mesmo, como um ET, demasiado velho ou demasiado inocente.

Numa dessas vezes, creio que já contei este episódio no meu caderno de apontamentos, encontrava-me numa reunião anual de proprietários da urbanização onde resido. A vizinhança é constituída por gente geralmente nova, e, penso, não mal sucedida na vida. Presumo que a maioria terá frequentado a Universidade.

Muitos dos pontos em discussão já transitavam de anos anteriores e tinham que ver com questões que o bom senso supunha deverem há muito tempo estar resolvidas: excrementos de cães nos passeios, cães vadios à solta, carros em cima dos passeios, etc.

Quando chegou a vez dos carros em cima dos passeios, perguntei porque razão, pelo menos, não colocava a segurança um papel dos pára-brisas dos prevaricadores e relembrar-lhes que os passeios eram para as pessoas passarem e as ruas para os carros andarem ou estacionarem.

Levantou-se um comproprietário, visivelmente incomodado, a perguntar-me que transtorno me fazia um carro meio estacionado no passeio?

Respondi-lhe que, segundo a lei e os bons costumes, os carros não deveriam estacionar em cima dos passeios. Da assistência, nem uma só voz se levantou para me apoiar. Nunca mais voltei às reuniões de proprietários. Nem vou voltar. E não vou voltar porque sei que, deste modo, nada se resolve.

Como é que se resolve, então? Francamente não sei.
Mas sei como se deveria resolver: com o esforço de cumprimento da lei por parte de quem sociedade atribuiu essas responsabilidades: a polícia, os tribunais.

Infelizmente, e esse é o grande problema de uma sociedade que se torna cada vez mais complexa (e não estou a pensar já apenas nos carros em cima dos passeios mas em todas as infracções - algumas de tamanho imensamente maior - que estão muito para além das interacções micro sociais e atingem todas as relações a nível global) a fuga ao cumprimento das leis e ao respeito pelos valores universais está cada vez mais generalizada.

Dizendo isto não defendo uma sociedade, um mundo, basicamente repressivos, mas afirmo a minha convicção de que não deve a liberdade ser tão complacente que consinta que sobre ela se abatam os seus inimigos, e a convivência entre as pessoas, entre as sociedades, entre os povos, entre as nações, seja comprometida irremediavelmente.

Há uma crise generalizada da justiça. Em Portugal, como em muitas outras situações, essa crise está exacerbada. Só sairemos dela numa situação de ruptura total? Receio que sim.

Olhando para fora do buraco, no entanto, as perspectivas não são animadoras.

Fala-se muito hoje na ncessidade de maior regulamentação dos mercados, e sobretudo dos mercados fiannceiros, e era esperável que uma crise do tamanho da actual já tivesse levado os responsáveis mundiais a mudar as regras. Mas até agora pouco ou nada mudou. Talvez, afinal, o grau da crise não tenha sido suficiente. Não sei.

O que sei é que com mais regras não se resolve o desregramento que vão desde os carros nos passeios até às manobras contabilísticas e outras com que meia dúzia de, até agora, inimputáveis abalaram o mundo.

Porque, mais do que leis, do que se precisa é subordinar os homens e as sociedades ao respeito pelas leis que eles próprios aprovaram.

Enquanto isso não for feito o tal motorista andará impunemente a 180 à hora.

Lamento, mas não sei de outra solução mais original.

O QUE É ISTO?

clicar para aumentar NGC 2440: Cocoon of a New White Dwarf

Saturday, February 20, 2010

ARRIBARIBATEJO*

Espero que isto ajude a perceber o que eu queria dizer no artigo mencionado no post anterior”
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Lamento
professor, mas a mim não me ajudou nada. Para ser inteiramente franco consigo, até me confundiu. Ainda que esteja convicto que o professor tem razão mas eu não sei por quê. Contando com a sua paciência, a seguir exponho algumas das minhas dúvidas.
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Escreve o professor que
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O crescimento não vem de reformas, vem do trabalho, do investimento, da tecnologia e da inovação. Ponham em cima da mesa um caso de crescimento com base em reformas estruturais e, quando virem que não conseguem, chegarão à mesma conclusão que aqui se expõe.
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Se bem entendo a sua tese (o desenvolvimento precede a reforma, a reforma nunca promove o desenvolvimento) não encontra experiência histórica que a conteste. E aqui saltou a primeira dúvida a um leigo interpelado por um artigo de um especialista em história económica.
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Quem pensa em reforma, pensa em Lutero, em Calvino, em Max Weber, na influência do protestantismo no alvorecer do capitalismo, na atitude exigente social e económica dos europeus do Norte por oposição ao relaxe dos europeus do Sul. Por exemplo.
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(…) é tempo para encontrar a verdadeira solução do problema. Qual é ela, ninguém sozinho sabe. Mas é para a encontrar que pagamos os gabinetes e os funcionários onde estas coisas se discutem e os problemas se encontram.
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Segunda dúvida, e, não lhe escondo, a minha crescente perplexidade.
O professor desconfia da reforma como causa motora do desenvolvimento, se bem o entendi. Logo de seguida, contudo, entrega aos gabinetes e aos funcionários a incumbência de encontrarem as soluções que a situação exige. Mas acha o professor que aos funcionários se pede trabalho, investimento, tecnologia e inovação, para usar as suas palavras, que transcrevi atrás, ou aquilo que eles devem fazer, e a que geralmente se chamam reformas?
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Mais perplexo ainda porque o professor depois de atribuir aos funcionários a responsabilidade de encontrar soluções critica as pessoas, e neste particular aspecto estamos de acordo, por preferirem sempre que as culpas sejam de um governo perto de si.
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Mas é quando procura estabelecer um paralelo entre a inconsequência das reformas estruturais no crescimento económico e na agricultura que a minha perspectiva mais se opõe à sua tese.
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Se você for de esquerda pensará ou pelo menos já pensou, quando isso era importante, que o atraso dos países atrasados vinha da agricultura que não tinha tido uma revolução verde. (…) Nesta equação não há lugar para coisas como excesso de gente na terra, fraca instrução dos trabalhadores, falta de bois ou, muito mais tarde, tractores, ou falta de investigação sobre as qualidades da terra e das sementes, etc. Não, a culpa era dos maus que não deixavam que se fizessem reformas agrárias.
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E se não for de esquerda nem de direita mas pensar que é possível olhar os problemas sem baias nem credos?
Sempre que se fala de reforma agrária em Portugal pensa-se na ocupação das terras alentejanas e a sua devolução alguns anos mais tarde. Se houve reforma, houve contra reforma, e a Sul continuou mais ou menos tudo na mesma.
Dizendo isto não faço uma apreciação crítica mas apenas uma afirmação de facto. Mas já afirmo comprometidamente que, nunca nenhum governo partiu do princípio que para além do Tejo há um Arribaribatejo há muitos, muitos anos, à espera de uma reforma estrutural.
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A actividade agrícola, como qualquer actividade económica para ser competitiva necessita de investimento, competência e dimensão. A transferência dos recursos humanos das actividades agrícolas para os sectores secundário e depois para o terciário, que se acelerou a partir de meados do século passado, era inevitável, mas deixou para trás os mais velhos, os mais mal preparados, os menos capazes, salvo aquelas excepções que confirmam as regras.
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Tinha de ser assim? Ou, voltando ao presente, tem de ser assim?
Não tem. Mas se o desenvolvimento pressupõe investimento, trabalho, inovação, tecnologia, como é que pode acontecer essa conjugação astral ficando a olhar para a lista? A lei da inércia explica que para haver movimento tem de haver uma causa motora. Não será a isso que costuma chamar-se reforma? Revolução, se os meios são mais drásticos?
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Caro professor: Arribatejo está em muitos casos com tantos silvados como no tempo em que o senhor Dom Afonso Henriques veio por aí abaixo com os seus amigos e pessoal abarbatado. E Portugal continua mais dependente do que nunca do fornecimento exterior de bens alimentares. Aliás, é curioso, mas li há dias um resumo de notícia (estou fora e não tenho acesso a algumas notícias na íntegra) acerca da constituição de um stock de reservas alimentares estratégicas. E achei curioso porque há já muito tempo anotei no meu caderno a minha estupefacção com os gastos na defesa (contra que inimigo possível, não sabemos) e o relaxe na ausência de defesas numa frente que nos pode colocar a morrer à míngua como os sitiados no tempo do já referido senhor Dom Afonso Henriques.
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Professor: Temos um Ministério da Agricultura, temos um Instituto Superior de Agronomia, temos muita gente, certamente credenciada, concedo, muito credenciada, que nunca na vida fez nada pela agricultura, Arribatejo. Falo-lhe com conhecimento de causa. A agricultura em Portugal não morreu com a entrada do País no euro. Já estava moribunda há muitos anos, perante a passividade de quem devia e podia ter feito muita coisa. Um jovem que na década de 50 quisesse optar por ser agricultor não tinha, na prática, meios de aprendizagem e estava condenado a fazer o que via fazer, que era o que vinha sendo feito desde a Idade Média. Não exagero, não.
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Depois, anos e anos de corte e recorte, deixaram a propriedade sem dimensão crítica.
Resultado: Há falta de formação, condição imprescindível para o surgimento da inovação, da tecnologia, do investimento, juntou-se a falta de terras com capacidade para atrair os mais jovens. Deu-se a debandada, ficaram os velhos entre as ruínas e as silvas.
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Como é que pode mudar-se se nada for mudado?
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Já agora, e a terminar, para não abusar da sua pachorra, antecipo uma eventual dúvida da sua parte: E temos qualidade de terra que justifique algum empenho, alguma reforma?
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Dou-lhe um exemplo: Não sei se já esteve em Almeria, no Sul do Espanha. Também já não vou lá há alguns anos. Quem sai de Alicante terá de atravessar o deserto de Almeria. As condições vegetativas são tão agrestes que, em grandes extensões, não consegue o turista vislumbrar um ponto verde no solo ressequido. Foi aproveitado há alguns anos atrás para rodar
westerns.
Aproximando-nos da costa, começa-se a vislumbrar, lá em baixo junto ao mar, um mar de
plástico: são os invernaderos, um mar de estufas para culturas hortícolas e frutícolas instalado onde não havia mais nada senão areia e vento, que constituem as âncoras de um cluster com dezenas de outras actividades à volta.
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Aconteceu, por quê? Por milagre, por inspiração divina?
Não acredito. E você, professor?
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* Apontamento redigido para colocar aqui. Tentativa, no entanto, frustrada por o blog de Pedro Lains não estar a consentir comentários.

TOBIN OR NOT TOBIN


Richard Curtis encena campanha a favor da taxa "Robin dos Bosques"Depois de ter escrito livros que inspiraram alguns dos maiores êxitos de Hollywood, como "Quatro Casamentos e um Funeral", e de ter conquistado fama na TV como argumentista de "Mr. Bean", a mais recente obra de Richard Curtis é o guião de uma campanha contra os salários bilionários da banca e a favor da velha taxa Tobin, reconvertida em "Taxa Robin dos Bosques". Veja aqui o vídeo.
Todos os Vídeos
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350 economists call for a financial transaction tax
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This is the complete text of a letter calling for a financial transaction tax. It is signed by 350 economists from dozens of countries, including two Nobel laureates. The letter was discussed by Sean O’Grady in today’s
Independent Newspaper.
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Dear G20
As economists from across the world, we call on you to implement a financial transaction tax (FTT).
This tax is an idea that has come of age. The financial crisis has shown us the dangers of unregulated finance, and the link between the financial sector and society has been broken. It is time to fix this link and for the financial sector to give something back to society.
Even at very low rates of 0.05% or less, this tax could raise hundreds of billions of dollars annually and calm excessive speculation. The UK already levies a tax on sharetransactions of 0.5%, or ten times this rate, without unduly impacting on the competitiveness of the City of London.
This money is urgently needed. The crises of poverty and of climate change require an historic transfer of billions of dollars from the rich world to the poor world, and this tax would offer a clear way to help fund this.
Given the automation of payments, this tax is technically feasible. It is morally right. We call on you to implement it as a matter of urgency.
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Yours.
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O JOGO DA CABRA CEGA

O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) pediu hoje, através de um comunicado, que o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que clarifique as afirmações que fez esta semana em entrevista à revista Visão, quando sustenta que este caso foi uma "armadilha política”, sugerindo que podem ter sido dessa ordem os objectivos de quem pediu a investigação. “Pretende-se conseguir determinados fins políticos utilizando para tal processos judiciários e as instituições competentes. É velho o esquema”, afirmou Pinto Monteiro à revista.
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Deduz-se, do que afirma Pinto Monteiro, que a Justiça, de que o Ministério Público é trave mestra e Pinto Monteiro o seu guarda-mor, se deixa levar por velhos esquemas. Donde, ou Pinto Monteiro anda geralmente distraído ou deixa-se geralmente distrair. Os casos de escutas perdidas pelos corredores são tantos em Portugal que não podem deixar de fazer crer ao homem da rua que se são perdidas de propósito, utilizando velhos esquemas, a quem, se não a Pinto Monteiro devem ser imputadas responsabilidades por tanta negligência propositada?
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Se Pinto Monteiro conhece os velhos esquemas por que razão não acaba com as causas que os permitem continuar a funcionar? Está à espera de quem?

NÃO COMAS ISSO!

Friday, February 19, 2010

TELETRADIÇÂO

O João S.C., enviou-me dois vídeos.
Este, uma reportagem da Morte do Galo, na Guarda.
E este, do Enterro do Entrudo, também nas proximidades da capital beirã interior.
Revivências pagãs moldadas aos dias de hoje, prolongam ainda alguma tradição, que não existe de todo nos carnavais cariocas, pelintras e pacóvios, com que alguns autarcas gastam o que não têm, sem se saber com que objectivo, para além de entreter o pagode e promover a caça ao voto.
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Há já alguns anos convenceram-me a ver um destes corsos carnavalescos, a desfilar na avenida ao longo da praia. O Sol esteve tímido, por detrás de nuvens que prometiam chuva. Não choveu mas o frio tocado pelo vento fazia tremer o queixo. No desfile, elas, a imitarem baianas mal alimentadas, sacudiam-se o que podiam talvez para não morrer de frio porque da instalação sonora colocada ao longo do percurso não saía samba mas ... fado.
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Obrigado, João. Manda mais.

OS RATOS REUNIDOS EM CONSELHO

Já uma vez coloquei aqui no Aliás uma fábula contada por João de Deus Ramos no Livro da Capa Verde mas, se outras razões não existissem, a minha gratidão pela sua obra justifica, só por si, que o recorde de vez em quando. Tinha sete anos quando a li.
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E ocorre-me sempre que leio um manifesto.

SEDES - OUTRO MANIFESTO

por H. Neto, Medina Carreira, J. Salgueiro e Campos e Cunha
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(...) o produto registou um crescimento anual médio de apenas de 0,3% (2001 a 2009);
a dívida pública bruta aproxima-se dos 80% e
a total, directa e indirecta, terá subido de 88% para 100% do PIB (de 2005 a 2009) e
o endividamento externo líquido de 38% para 104% do PIB (entre 2000 e Junho de 2009);
o nível de fiscalidade ronda já os 38% do PIB (2008), correspondendo-lhe um dos mais elevados esforços fiscais da União Europeia, para o nosso nível de desenvolvimento;
a taxa de desemprego, da ordem dos 4% em 2000, situava-se nos 7% em 2005 e excede os 10% actualmente.
(...) se projectássemos a políticas prosseguidas, chegaríamos a 2015 com resultados das seguintes ordens de grandeza:
1) Despesa pública total, 55% do PIB (43% em 2000);
2) Dívida pública total (directa e indirecta), 125% do PIB;
3) Despesas com pessoal e as prestações sociais equivalentes a 87% da despesa primária (70% em 2000 e 75% em 2009);
4) Nível de fiscalidade de 46% do PIB, para um défice de 3%;
5) Dívida externa líquida correspondente a 175 % do PIB.
(...) O consenso partidário deve servir para novas políticas com base: numa estratégia em que a ética do bom governo esteja na primeira linha das preocupações nacionais; no hábito, entretanto perdido, de vivermos de acordo com os nossos recursos; na prossecução de reformas estruturais, sempre prometidas e sempre adiadas; na moralização da vida pública, como condição para pedir aos portugueses os sacrifícios adicionais agora inevitáveis.

TÍTULOS DO DIA

O país está em crise.
Qual crise?
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"Sol" revela bastidores do apoio de Figo a Sócrates Armando Vara garante que nunca falou com Sócrates sobre a TVI Actividade económica e consumo continuaram a melhorar em Janeiro Alfredo Barroso critica candidatura de Fernando Nobre Aguiar-Branco admite chamar Sócrates à AR Sócrates passa ao ataque e diz que acusações sobre os media são “delirantes” Conseguirá Mourinho completar oito anos sem derrotas? Passagem dos fundos de pensões da banca para o Estado de novo discutida Ainda não foi desta que o Benfica ganhou na Alemanha Ferreira Leite acusa Sócrates de mentir ao negar tentativa de intervir nos media Veja o vídeo que justitica o contrato de publicidade entre Figo e o Taguspark Alberto Costa disse que Sócrates prometeu represálias a magistrados que investigassem o caso Freeport Rui Pedro Soares "pensará que é dono do mundo" Bolsa acompanha pessimismo europeu com PT e JM a pressionar O dia em que todos os interesses se juntaram na PT Figo em Agosto: "Eu vejo a energia de José Sócrates" Pinto Monteiro aconselhado a abrir inquérito "Nem tudo o que não é crime é aceitável"

EUROGREGOS

The late Eddie George once remarked to me that the euro project, which was launched in 1999, came 10 years too early. He was wrong. It was 20 or 30 years too early or perhaps should not have been launched at all. The former governor of the Bank of England was far too strict a constitutionalist to pronounce in public on the issue of British membership but there was little doubt where he stood. For a long time the euro project seemed to be doing well and confounding the sceptics. But with the emergence of the Greek problem the weaknesses of the project are there for all to see.
It is no secret that the German government and business establishment were also dubious about what they saw as a French-led project. What decided the matter for Helmut Kohl, the then German chancellor, was his belief in a federal Europe. He originally hoped that monetary union would be coupled with a political union. But, when he realised that was not to be, he still hoped that the monetary union would itself lead to a political one.
The economic weaknesses could not, however, be hidden for ever. Economists had argued for ages about what they called an optimal currency area; and the magic word “convergence” was often used. The convergence that matters is that of domestic costs. The mistake I made was to suppose that monetary union might itself be a sufficient influence for that convergence.
A country with its own currency has two safety valves, which
Greece and others that may be in a similar position lack. First, it can issue its own money; so it can pursue a fiscal policy attuned to domestic needs, without being dependent on the international bond market. Second, and most important, it has the safety valve of currency devaluation. Both these safeguards can be abused; and instead of full employment without inflation a country can end up with inflation without full employment. But it can learn from its mistakes; and it can act without provoking an international crisis. Within a functioning monetary union, however, an individual member has no more control over its macroeconomic policy than the state of Ohio over that of the US.
Meanwhile, we are witnessing a game of bluff and counterbluff between Greece and its eurozone partners. Greece holds more bargaining cards than generally realised. There is a widespread and justified fear that
the exit of Greece – which in contrast to Ohio always has this option – would mark the start of the fragmentation of the eurozone. If the Greek authorities play their cards well they have no need to accept financial terms deeply damaging to their economy. They have no need to accept the kind of terms that the International Monetary Fund imposed on Asian countries in the late 1990s and which left such a bad taste that they built up their foreign exchange reserves to avoid such humiliation again.
There are several available options. The first is what Americans call cold turkey. After having negotiated down the European Union’s demands for fiscal “slash and burn” as far as it can, Athens can grin and bear it.
At the other extreme, Greece could leave, or be ejected from, the eurozone. In spite of all the complications, such as renegotiating financial instruments denominated in euros, it could be done. People forget that one of the oldest currency unions in history, that between the UK and Ireland, was brought to an abrupt end when Ireland abandoned sterling – first for the European exchange rate mechanism and then for the euro. Nevertheless, one should hesitate before urging purely destructive courses. A Greek exit would turn the spotlight on other countries – Portugal, Italy and Spain – and eventually on the euro project itself. It is one thing to regard the project as a mistake and another to provoke a messy disintegration.
I am attracted to Professor Martin Feldstein’s idea (Financial Times, February 17) of a
temporary euro exit for Greece followed by re-entry at 20 or 30 per cent below the present level. But if that occurred there might not be a euro to rejoin. So it is a last resort. There is an alternative to try first, which might be called an internal devaluation. When Margaret Thatcher was struggling to wean her colleagues from pay and price controls she at one stage considered a compromise: a temporary wage freeze – in an emergency – after which normal negotiating procedures would be restored. In the case of Greece today it would have to be not just a freeze, but a negotiated reduction in nominal wages. Such a course would cut against Greece’s fiercely independent habits and traditions. But surprises can always occur.
Finally, an offbeat idea which is not an alternative to the others, but can run alongside. Countries in the Middle Ages often operated with two or more currencies: an international one such as the ducat or florin, and local currencies with more restricted use. Could not such a local currency, whether or not called the drachma, emerge in this way with or without the sanction of the Greek government? It would surely be better than being crucified by the international financiers.

O QUE É ISTO?

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Thursday, February 18, 2010

O QUE DIZ BLANCHARD

A entrevista no Real Time Economics antecipa um artigo publicado hoje e que visa repensar a política macroeconómica. (e.conomia.info )
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IMF’s Blanchard Thinks the Unthinkable
By Bob Davis
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The International Monetary Fund’s chief economist, Olivier Blanchard, is thinking what for the IMF is the unthinkable. Should inflation be higher? Should regulation be used to fight asset bubbles? Should new social spending programs be put in place to fight downturns? Mr. Blanchard says such a rethinking is necessary because the global financial crisis showed how complacent policy makers had become. The IMF plans to release a paper, “ Rethinking Macroeconomic Policy,” outlining the thoughts of Mr. Blanchard and IMF economists Giovanni Dell’Ariccia and Paolo Maruo on Friday.
Mr. Blanchard, who taught earlier at Massachusetts Institute of Technology, discussed his views the Wall Street Journal’s Bob Davis. Below is an edited transcript.
What was the goal of your exercise?
Blanchard: We were trying to force people to rethink a number of things. I was in a good position to think what had gone wrong and what we could do better. The larger goal is to indicate the International Monetary Fund is able to think too.
You suggest that before the global recession, policy makers had become too complacent and relied too much on a single tool, monetary policy.
Blanchard: Yes. Even monetary policy had become extremely simplified. There was sense all we had to look at the policy interest rate and that was it. We thought we had come to a level of detail. That wasn’t quite right.
The most striking suggestion you make is that nations should consider aiming for a higher rate of inflation,
Blanchard: Before the crisis, if you talked to policy makers, the idea of being stuck at zero interest rate would have struck them as very unlikely. That happened in Japan. But most people convinced themselves that the Japanese didn’t know what they were doing.
Now we realize that if we had a few hundred extra basis points to rely on, that would have helped. We would have had to rely less on fiscal policy. So it would have been good to start with a higher nominal rate. The only way to get there is higher inflation.
Policy makers have generally chosen a 2% (inflation rate target). But there was no very good reason to use 2% rather than 4%. Two percent doesn’t mean price stability. Between 2% and 4%, there isn’t much cost from inflation.
So should we change the inflation target?
Blanchard: If I were to choose inflation target today, I’d strongly argue for 4%. But we have started with 2%, so going from 2% to 4% would raise issues of credibility. We should have a discussion about it.
What’s an inflation level we should fear?
Blanchard: When you get to high numbers – 10% and above– people see uncertainty. They don’t know to know what’s gong to happen. You don’t how to plan from retirement.
Would you need to get an international agreement among central bankers on a higher inflation target?
Blanchard: Going international would increase credibility. It’s probably not needed but it would be helpful.
You also suggest a much bigger role for financial regulation to handle macroeconomic problems.
Blanchard: If there are things going wrong in financial markets, don’t try to use interest rate to kill bubbles. The collateral damage is just too much. Central banks should be in charge of (financial) regulation. The central bank should have these (regulatory) tools at their disposal.
Another area that you say is ripe for change is automatic stabilizers, which are government programs that increase spending or reduce taxes during economic downturns, such as unemployment insurance.
Blanchard: Automatic stabilizers weren’t designed to stabilize the economy. They were designed for other purposes (such as social equity or helping individuals). We should be thinking of automatic stabilizers which are designed to stabilize the economy.
An example is a cyclical investment tax credit. It would come into effect when economic activity slows down. Companies would get it automatically without Congress having to vote on it.
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COPY/PASTE

Copy/paste de aqui
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Caro Rui Fonseca
Vejo que o seu espanto é genuíno. Ensinei História do Pensamento Económico durante muitos anos num departamento de economia pluralista que deixou de existir enquanto departamento pluralista. Enquanto professor procurava exactamente dar uma visão da pluralidade teórica na economia. Recusando a transformação do dito departamento imposta a golpe, e para não ter de me envergonhar de ser professor nessas condições, saí. Acontece.
Processos semelhantes ocorreram noutras faculdades. Agora há em todo o lado um molde, o chamado “core” (micro-macro-econometria). Como poderá constatar com uma consulta aos planos de estudos dos cursos de economia pós-Bolonha, em Portugal a História da Economia, a Metodologia e Epistemologia a História Económica e as outras Ciências Sociais foram praticamente banidas, remetidas para as pos-graduações ou nos melhores casos tornadas optativas. Tudo o que cheire a cultura desperta a fúria dos talibans.
O meu amigo conhece os “talibans” que pesam saber “como deve pensar um economista” e querem obrigar os estudantes a “pensar como economistas”? A Economia que se ensina é maximização da função de utilidade sujeita a restrições com variações em ré menor. As vozes dissonantes relativamente à perspectiva “neoclássica” dominante existem mas situam-se actualmente próximo da quota dos 5% de que falava o Samuelson.
É claro que para os 95% tudo corre bem no melhor dos mundos. Vale a pena informar-se relativamente ao que se passa e julgar por si próprio. A situação é bem diferente (e pior) do que a conhecemos quando fizemos os nossos cursos. A própria liberdade e autonomia dos docentes nas suas aulas está em risco. O estado do ensino da economia em Portugal é um problema público que (ainda) não foi reconhecido como tal.