Aprende-se por volta dos sete, oito anos, salvo os mais precoces ou os mais retardados.
Quando eu tinha oito anos, os cromos (na altura, estampas) vinham embrulhados em rebuçados, os rebuçados da bola que deitávamos fora, e colávamos numa caderneta para ganharmos a bola de "cautchoug, cosida à mão e câmara-de-ar ultra resistente". Já uma vez contei uma aventura acerca disto aqui.
.
O negócio só atribuía uma bola, muitos cromos saíam repetidos, de modo que a troca surgia naturalmente. E, naturalmente, valiam mais os mais raros. Uma bandeira da Bolívia (na altura havia a colecção de bandeiras) não valia mais que duas do México, mas cinco da Suazilândia não chegavam para uma de Porto Rico. A bandeira de Portugal valia três de Espanha no mercado livre. Mas, evidentemente, só trocava quem tinha para troca. A menos que algum amigo emprestasse e ficasse à espera de melhores dias. O que, no entanto, era raro, uma vez que bola ... só havia uma.
.
Recordei-me desta estória quando ontem transcrevia aqui dois artigos (um do Washington Post, outro do Financial Times) acerca do papel que a Alemanha (é sempre mais fácil falar dos deveres dos outros*) deve assumir no relançamento da procura e do apoio financeiro aos membros aflitos, e, para já, à Grécia.
.
Porque o nosso problema da falta de cromos não se resolverá apenas com a maior procura por parte de outros coleccionadores, e nomeadamente da Alemanha. É preciso que tenhamos cromos para a troca. Ainda que nos emprestem alguns, a nossa colecção nunca irá longe e a bola ficará cada vez mais distante.
----
* A propósito dos deveres dos outros, veja-se o artigo publicado por V Bento, hoje, aqui.
No comments:
Post a Comment