Saturday, February 06, 2010

OS PORTUGUESES

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Concordo consigo que o exemplo do Luxemburgo é famoso mas não é lá grande coisa. Eu próprio já escrevi várias vezes acerca do assunto no meu caderno de apontamentos. Também concordo consigo que a amostra emigrante é enviesada. Retiro o exemplo.
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Mas subsiste o argumento que é tão aplicável aos portugueses como aos chineses. As pessoas (todos os seres vivos) respondem a incentivos. Se os incentivos prevalecentes vão no sentido de não trabalharem, muitos optam por não trabalhar. Se o funcionalismo público é mais atractivo teremos uma sociedade de funcionários públicos. Se gerir um banco é mais seguro e rentável que gerir a CP, a CP continuará a ser um desastre. Se o erário público continuar a pagar as dívidas da RTP teremos “O preço certo” a entreter o pagode.
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Há quem pense que o mercado tudo resolve e que, mais tarde ou mais cedo, as coisas equilibram-se. O que é verdade. Leva é muito tempo e passa por cima de muitos destroços. Se queremos evitar que o tempo resolva, porque resolve, mas geralmente resolve muito mal, temos de eliminar as causas do nosso descontentamento.
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Como?
Há coisas que sabemos que não podemos mudar. Não podemos mudar os portugueses, ainda que alguns emigrem, mas os que emigram respondem, ou pensam responder a incentivos.
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O Vasco P. Valente tem muitos seguidores: Para VV, Portugal não tem solução porque os portugueses são o que são e não há volta a dar-lhes. É uma concepção racista porque supõe que uma vez entranhada no ADN a incapacidade colectiva, sendo congénita, não é modificável. É o fado vascovalentino.
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Há excepções, claro: O VV e as suas amigas, por exemplo. Tudo boa gente e inteligente, continuam a facturar internamente, mas não emigram. Sabe-lhes bem estar ao quentinho.
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Há também quem não perca a oportunidade para incensar a malta quando precisa dos votos: Segundo eles, naquele segundo, a maior riqueza de Portugal são os portugueses, os tais que deram novos mundos ao mundo, Nação valente (outra vez) e imortal… etc. e tal.
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Ora, meu caro JCS, não somos melhores nem piores que os outros. O nosso afastamento secular da Europa arredou-nos do combate e tornou-nos brandos. Voltámos à Europa e uma coisa que não devemos fazer é afastarmo-nos outra vez dela. Mas para não nos afastarmos, ou não nos afastarem, precisamos de cumprir minimamente as regras do clube.Isso implica não gastarmos mais (vá lá, muito mais) do que produzimos. O mundo social é um mundo de trocas. Se pouco temos para a troca, mais tarde ou mais cedo receberemos pouco por troca.
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Podemos, entretanto, endividar-nos, é o que temos feito, aliás, mas as dívidas não chegam aos céus. Há quem diga que o euro complicou tudo. Pura balela. Se tivéssemos continuado com o escudo (ou se voltássemos a ele, deixando a Europa) nada de fundamental se alteraria. As importações (que excedem as exportações) seriam mais caras, o escudo cairia, o poder de compra cairia na mesma medida, pelo menos. Os mais pobres ficariam mais pobres.
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Uma vez que não podemos ter Portugal sem portugueses (o que é que teríamos, então?) a saída está na modificação dos incentivos, privilegiando aqueles sectores (ditos transaccionáveis) de modo a que eles se tornem atractivos para o investimento financeiro e humano. Porque a raiz dos nossos problemas não é financeira mas económica. A debilidade de uma parte importante do sector produtivo está na origem do desequilíbrio financeiro.
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É preciso ter consciência colectiva (e alguém deveria assumir o papel de o dizer claramente aos portugueses) que, não aumentando o rendimento nacional, a apropriação de fatias crescentes do bolo estacionário ou minguante por parte dos não transaccionáveis (função pública incluída) se faz à custa dos transaccionáveis. Estes, cada vez mais debilitados, fecham as portas ou procuram outros ares. E o desequilíbrio externo cresce. E a dívida cresce. E o défice cresce.É assim tão complicado perceber isto?
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Não é.
Ainda ontem, segundo li no Público online, (…) “a estrutura sindical (leia-se CGTP, leia-se PCP & Cª) – que reivindica aumentos salariais de 4,5 por cento e um aumento mínimo de 50 euros por trabalhador – considerou haver motivos para protestar contra a precariedade, por aumentos salariais dignos e pela suspensão do Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho da Função Pública”.
E fez uma manifestação junto a São Bento.
Que faz São Bento minoritário e monopartidário, orgulhosamente só? Encolhe-se.
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À espera que o tempo resolva? Não sei.
O que sei é que São Bento não tem condições para governar nas actuais circunstâncias. O País precisa de um governo maioritário pluripartidário para enfrentar a crise começando por informar claramente o que tem de ser feito. E fazer. Sem recorrer a eleições antecipadas que não resolveriam nada e comprometeriam tudo ainda mais.
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Era neste sentido, penso eu, que deveriam ser mobilizados os portugueses. Porque não sendo uma questão de sobrevivência (o País não fechará para obras) é uma questão de fuga à decadência.

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