Wednesday, February 10, 2010

OS SALÁRIOS DA CRISE - 2

pago (...) a quem me demonstrar que a economia portuguesa está tão desgraçada como está devido aos salários ou às remunerações."
.
Caro OT,
Não me candidato, porque a demonstração é, praticamente, impossível. Creio que nunca ninguém demonstrou nada de forma definitiva.
Mas se não demonstro aquilo posso tentar demonstrar alguma coisa.

Por exemplo:
Pode-se demonstrar:
- que a entrada no euro veio facilitar as importações e dificultar as exportações;
-que os ajustamentos monetários automáticos (via desvalorização/inflação) deixaram de funcionar;
- que o investimento passou a dirigir-se fundamentalmente para os sectores não transaccionáveis (função pública, construção civil, obras públicas, monopólios de facto) que não têm de mostrar o que valem no mercado global e mereceram protecções explícitas ou implícitas;
- que, em consequência, os incentivos que beneficiaram aqueles sectores determinaram a apropriação crescente de um bolo (rendimento nacional) minguante;
- que o governo (este e os outros) administrativamente transferiram rendimento dos sectores dos transaccionáveis para os não transaccionáveis, directamente ou através dos reguladores;
- que, sugados internamente, e atacados por competidores com salários muito mais baixos, os sectores de baixa tecnologia, ou fecharam ou mudaram de ares;
- que em consequência de tudo isto, e de mais, parecido, que não refiro para não alongar demasiadamente a lista, a balança comercial, que já não tinha grande saúde, entrou em desequilíbrio desenfreado. Aumentou a dívida. Aumentou o défice. E como tudo isto se enleia e se alimenta reciprocamente, subiram, subiram até exponenciar com as ajudas sociais que a crise global impôs.

Mas nos bancos, que tiveram (pelo menos disseram que tiveram) lucros a crescer a dois dígitos quando a economia rastejava, as empresas monopolistas de facto, aquelas que têm força política suficiente para impor as condições (os preços) aos reguladores, as empresas subvencionadas (transportes colectivos, RTP, etc), na função pública, aumentaram os salários enquanto o desemprego assaltava do lado daqueles que recebem o que pagam os mercados e não têm emprego garantido.

Aliás, hoje mesmo, leio duas notícias muito exemplificativas da continuação desta situação: "Frente Comum marca greve da função pública para 4 de Março" "Bancos passam custo da crise para os clientes". Quem é que do outro lado, do lado dos filhos de um deus menor, pode fazer estas habilidades?


Que fazer? Além do mais, o governo deve distorcer o que (este e os outros) distorceram, não sei se me faço entender.


Dito isto não digo que o euro seja o grande responsável como alguns querem fazer crer. Não é. Não houve foi o necessário ajustamento da estratégia a um jogo que passou a ser jogado num campo com muito maiores dimensões.

Se nos tivéssemos mantido no escudo a situação seria diferente? Penso que seria globalmente muito pior.

No comments: