"Precisamos por isso de perceber as pessoas para encontrarmos as soluções. Portugal atravessa uma fase muito complicada e o problema, salvo melhor opinião, não é só de modelo económico, é sobretudo de modelo cultural."
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Caro JCS,
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Perceber as pessoas é precisamente perceber porque é que vão para um lado em vez de ir para outro. Porque é que preferem ser funcionários públicos a empresários, por exemplo.
Mas este perceber não pode partir da hipótese que os portugueses (que portugueses? há um tipo genético português? não há) são mais calaceiros que outros povos, ainda que haja uns portugueses mais calaceiros que outros, mas o mesmo acontece em qualquer parte do globo.
No fado vascovalentino, a letra conta que o português não tem saída porque, coitado dele, nasceu assim, não há volta a dar-lhe. Há umas quantas excepções, Vasco Valente e as suas amigas estão nelas.
O homem é ele e as suas circunstâncias, dizia o filósofo, e não andará longe da verdade.
Dizer que os portugueses são menos trabalhadores que os suíços, por exemplo, e que os americanos são mais naif que os alemães, não faz sentido nenhum. Que portugueses? Que suíços? Que americanos? Americanos são mais ou menos 300 milhões, é gente demais para haver um modelo americano. Os alemães?
O chinês é mais trabalhador que o português? Não é nada. Pode é a comunidade chinesa, onde quer que ela se encontre, ser desafiada por incentivos que não se colocam a uma comunidade portuguesa.
Coloquei ontem no meu caderno de apontamentos um caso curioso que li num livro sobre o colapso financeiro finlandês. Pode ver aqui.
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Caro JCS,
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Perceber as pessoas é precisamente perceber porque é que vão para um lado em vez de ir para outro. Porque é que preferem ser funcionários públicos a empresários, por exemplo.
Mas este perceber não pode partir da hipótese que os portugueses (que portugueses? há um tipo genético português? não há) são mais calaceiros que outros povos, ainda que haja uns portugueses mais calaceiros que outros, mas o mesmo acontece em qualquer parte do globo.
No fado vascovalentino, a letra conta que o português não tem saída porque, coitado dele, nasceu assim, não há volta a dar-lhe. Há umas quantas excepções, Vasco Valente e as suas amigas estão nelas.
O homem é ele e as suas circunstâncias, dizia o filósofo, e não andará longe da verdade.
Dizer que os portugueses são menos trabalhadores que os suíços, por exemplo, e que os americanos são mais naif que os alemães, não faz sentido nenhum. Que portugueses? Que suíços? Que americanos? Americanos são mais ou menos 300 milhões, é gente demais para haver um modelo americano. Os alemães?
O chinês é mais trabalhador que o português? Não é nada. Pode é a comunidade chinesa, onde quer que ela se encontre, ser desafiada por incentivos que não se colocam a uma comunidade portuguesa.
Coloquei ontem no meu caderno de apontamentos um caso curioso que li num livro sobre o colapso financeiro finlandês. Pode ver aqui.
Diz o autor que para a instalação de uma central geotérmica gigante, num clima gelado e sem qualquer contacto com o exterior, uma empresa italiana incumbida de contratar pessoal recrutou portugueses e chineses. Parece paradoxal, não?
Não, Caro JCS, o que comanda fundamentalmente os comportamentos dos indivíduos são as circunstâncias, são os incentivos.
Diz v. que "Este país nunca teve tantos incentivos ao famoso empreendorismo, como será então que está essa fila?"
Respondo-lhe: A fila está nas expectativas para entrar para o funcionalismo público, por exemplo. É evidente que se o funcionalismo público, os monopólios de facto*, e todas as actividades não submetidas às leis da concorrência têm vindo a observar aumentos de rendimentos quando o rendimento nacional decresce, quando, portanto, do bolo minguante há uma parte que suga em crescente, facilmente se percebe de que lado estão os incentivos.
Não, Caro JCS, o que comanda fundamentalmente os comportamentos dos indivíduos são as circunstâncias, são os incentivos.
Diz v. que "Este país nunca teve tantos incentivos ao famoso empreendorismo, como será então que está essa fila?"
Respondo-lhe: A fila está nas expectativas para entrar para o funcionalismo público, por exemplo. É evidente que se o funcionalismo público, os monopólios de facto*, e todas as actividades não submetidas às leis da concorrência têm vindo a observar aumentos de rendimentos quando o rendimento nacional decresce, quando, portanto, do bolo minguante há uma parte que suga em crescente, facilmente se percebe de que lado estão os incentivos.
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Porque, a esses que não têm de mostrar no mercado o que valem, vale-lhes o Estado que, através do Governo, decide quanto devem eles receber. Mas como eles têm muitos votos, fazem greves, têm emprego seguro, o Governo compra-lhes os votos sob a forma de retribuições que a economia não gerou.
A questão, aliás, não é original. A propósito convido-o a ler uma história que também ontem coloquei no meu caderno de apontamentos, aqui.
Porque, a esses que não têm de mostrar no mercado o que valem, vale-lhes o Estado que, através do Governo, decide quanto devem eles receber. Mas como eles têm muitos votos, fazem greves, têm emprego seguro, o Governo compra-lhes os votos sob a forma de retribuições que a economia não gerou.
A questão, aliás, não é original. A propósito convido-o a ler uma história que também ontem coloquei no meu caderno de apontamentos, aqui.
Pois é assim, Caro JCS: Salvo melhor opinião tenho razão. Mas gostava não ter.
E fico na expectativa da sua discordância.
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*Quando o rendimento nacional decresce:
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