É notável a impotência da autodenominada esquerda progressista para ultrapassar os limites da sua dialética e assumir-se responsavelmente como alternativa aquilo que odeiam: o statu quo do braço dado pelo centrão. Vocacionados como contra-poder derrubam as pontes e ficam do outro lado a fazer manguitos se os desafiam a mostrar o que valem. O PS, pela voz dos seus mais destacados dirigentes, reafirma a cada passo que não há viabilidade para uma governação em coligação à esquerda.
É péssimo. Quando as eleições não atribuem maiorias absolutas, Portugal está condenado a governos minoritários ou a acordos, de coligação ou de incidência parlamentar ao centro. Em situação de crise profunda e prolongada, é dramático. É, sobretudo, nestas ocasiões que a esquerda dita progressista desempenha um papel extremamente nocivo para a democracia e para o País, porque nem quer governar nem deixa governar.
Enquanto, por via de uma solução de sistema eleitoral, não for reduzido o papel dos partidos que se alimentam do descontentamento dos eleitores e recusam acordos que lhes possam atribuir responsabilidades governativas, os eleitores portugueses estão condenados a não terem alternativas credíveis: ou o centrão ou a confusão.
Aqui escrevem uma dezena de economistas que configuram bem a revolta mas também a impotência dessa esquerda que quer mudar o mundo mas não sabe por onde lhe pegar. Hoje, diz um deles, "Isto está tudo mal ligado... " e atribui as culpas aos economistas de Belém, ao actual PR, a Angela Merkel.
Está tudo mal ligado?
Respondi-lhe: Está, claro que está.
Quando o JR faz uma análise crítica disto e culpa os economistas de Belém e Cavaco, até parece que o PR é quem governa.
Não é possível escrever com um pouco mais de isenção?
Por exemplo: Não seria esperável que Alegre, candidato que os LB apoiam, dissesse claramente o que fará se for Presidente?
Demite o Governo e convida o PS a formar uma coligação de esquerda com o BE, eventualmente, e desejavelmente com o PCP?
Se Alegre é apoiado pelo BE e pelo PS, o mais óbvio seria, para bem da separação das águas, que defendesse um governo de maioria à esquerda. Não?
E, então, a influência de Belém passaria pelos LB, que apoiam Alegre.
Assim, nada feito. Os LB continuarão envoltos de revolta contra Merkel, Cavaco etc., mas também na própria impotência da sua esquerda de se assumir, como tal, como alternativa de governo.
Porque é aí que a porca torce o rabo: rabejadores por vocação não sabem como agarrar-se ao cachaço do touro e dominá-lo, de caras ou mesmo de cernelha.
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