FCF - Mas como é que o senhor enfrentou as opiniões contrárias à sua dentro do seu próprio partido?
MS - Sucedeu-me isso quando, dos catorze membros do Secretariado, só três se mantiveram ao meu lado. Mas enfrentei-os, e depois pensei, como é que estes tipos me obedecem?, gente com muito melhor preparação académica do que eu, gente com vinte e dezanove valores ...
FCF - O engenheiro Guterres ...
MS - Sim, o Gueterres, o Constâncio, mas também o Sampaio, todos se viraram contra mim. E eu dei um murro na mesa, e eles obedeceram-me!
Creio que é difícil encontrar melhor síntese do carácter determinado, possante, de antes quebrar que torcer, de Mário Soares.
Figura central da democracia portuguesa, não foi o protagonista pacífico que a bonomia com que mobilizava o aplauso entusiástico de muitos portugueses intuiria parecer. Ficarão memoráveis nas páginas que a história lhe dedicará as rupturas crispadas, em momentos muito distanciados no tempo, com amigos do peito, Zenha e Alegre, entre vários outros.
Depois de ouvir grande parte da entrevista, inquestionavelmente um testemunho imprescindível para compreender a personalidade de Mário Soares, vi, salvo erro na mesma estação televisiva, o programa das cerimónias e o trajecto do funeral entre a saída da sua casa no Campo Grande até ao Cemitério dos Prazeres, em voltas que vão atravessar a parte central e ribeirinha de Lisboa até aos Jerónimos para retornar a locais mais intimamente ligados à sua vida política.
A despropósito, admito-o, mas ocorreu-me a recente peregrinação das cinzas de Fidel Castro de uma ponta à outra de Cuba. A humanidade, quaisquer que sejam as suas convicções sobre a vida depois da morte, nunca admite a inexistência de seres superiores aos comuns mortais mesmo quando se afirma convictamente ateia.
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Pela resistência com que, durante toda a vida, e nas mais diversas circunstâncias, lutou pela democracia,
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