Thursday, January 19, 2017

UMA DESTRUIÇÃO COLOSSAL NA BANCA PORTUGUESA

O Negócios online resumia na sua edição de ontem as declarações de Fernando Ulrich* num encontro com os jornalistas. Transcrevo, vd. abaixo* o artigo, não vá a pérola perder-se pelo caminho.

Ulrich sempre se destacou do comportamento sonso dos seus confrades banqueiros Em alguns momentos foi premonitório, noutros polémico, em alguns casos surpreendente pela falta de razoável contenção ou equilíbrio no discernimento. Registei e comentei algumas das suas declarações públicas: aquiaqui, aqui, aqui ( Ulrich : Fusão PT/Oi é uma tragédia que deve ser travada imediatamente), aquiaquiaquiaquiaqui (se a medida relativa à taxa social única avançar, o BPI deverá ter um ganho de 10 milhões de euros em 2013), aquiaqui.

Ontem, as declarações de Ulrich registadas por Maria João Gago, só são surpreendentes quando "defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas ...". 
Mas só são surpreendentes para quem desconheça a convicção desde sempre cimentada na cabeça dos banqueiros de que lhes assiste o direito de embolsar rendimentos estratosféricos sob todas as formas possíveis e imaginárias, e endossar as perdas para os contribuintes quando os accionistas dos bancos batem a asa. Moral hazard, no jargão anglo-saxónico, uma designação dúbia para uma iniquidade evidente que torna legal a penalização dos inocentes. 

Não há outra explicação possível para interpretar a petulância de julgar responsável pelas perdas resultantes de actos de gestão quem não é, nunca foi, nunca será interveniente, nas decisões e moscambilhas dos que se aproveitam ou aproveitaram delas.

Em Outubro de 2006 escrevi aqui:

"É um facto indesmentível, porque eles próprios se encarregam de propagandear, que os lucros dos Bancos (consistentes ou não, um dia se verá) nada têm a ver com a miserabilidade em que a economia portuguesa se arrasta já há alguns anos. Não há Banco que se preze que não anuncie, semestralmente, pulos de lucros sempre de dois fortes dígitos.
Como é possível uma vaca esquelética ser tão generosa na produção de leite?"

Em Janeiro de 2013aqui

"Há muitos anos, em reunião com um banqueiro que hoje é presidente do banco de que na altura era administrador, referi que, com o andamento que se observava na economia portuguesa, enfezada e cada vez mais sugada pelos bancos, um dia a vaca acabaria por tombar para cima dos que dela mamavam em excesso.
Respondeu-me o banqueiro: Esteja tranquilo, os bancos nunca vão à falência.

E, até agora, o tal banqueiro acertou. O moral hazard que permite aos banqueiros tudo e mais alguma coisa, em Portugal não abriu até agora uma única excepção. "

Em Junho de 2014, aqui :
"Olhando para trás, da geração de banqueiros que se vangloriava dos lucros espantosos no meio de uma economia débil por, diziam eles, terem sabido aumentar os seus níveis de produtividade quando ela estagnava nos outros sectores, quantos sobram hoje? A maioria caiu dos pedestais para onde haviam pulado em trampolins manhosos de formas diversas mas geralmente indignas. Dos da primeira divisão sobra Ulrich, ou, se se preferir, a dupla Artur Santos Silva e Fernando Ulrich. Todos os outros tropeçaram, mais ou menos estrondosamente, nos seus próprios dribles."

Sabe-se agora que o La Caixa vai adquirir cem por cento do Grupo BPI.
O srs. Artur Santos Silva e Fernando Ulrich, reformam-se, ainda que muito provavelmente continuem com um pé no estribo e financeiramente bem estribados. 

Nada estribados estão os portugueses com as dívidas que os banqueiros importaram. Se a taxa média de juro subir mais 1 ponto percentual, só não haverá novo resgate se a tempestade sobre a Europa for tão forte que nem um novo resgate seja possível. 

--- 
* Desde 2001 "houve uma destruição colossal de capital" na banca portuguesa" ""O BPI fez contas ao capital injectado em cinco bancos e aos seus dividendos e resultados e concluiu que houve "destruição" de 35 mil milhões em capital. Ulrich defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas e outros países."  - aqui

"Cinco dos maiores bancos portugueses - CGD, BCP, BES/Novo Banco, Banif e BPN - destruíram cerca de 35 mil milhões de euros em capital injectado pelos seus accionistas entre 2001 e 2017, de acordo com as contas feitas pelo BPI com base em informação pública, cujas conclusões foram apresentadas esta quarta-feira, 18 de Janeiro, por Fernando Ulrich, num encontro com jornalistas.
"É uma história de destruição de capital brutal. Em 16 anos é uma verba verdadeiramente colossal", sublinhou o banqueiro. Em causa está "19% do PIB estimado para 2016".
Já o balanço dos apoios do Estado aos bancos analisados mostra que as perdas públicas nos bancos podem variar entre 4,4 e 6,4 mil milhões de euros, ou seja, o equivalente a 2,4% a 3,5% do PIB. "Até agora, o esforço efectivamente suportado pelo Estado e pelos contribuintes foi muito baixo quando comparado com o dos accionistas e o que foi suportado pelos outros países", defendeu Ulrich.
Com base nestes dados, o banqueiro pretende contestar a ideia muitas vezes transmitida na opinião pública de que "os custos dos bancos têm sido suportados pelos contribuintes. É mentira!", sublinhou o líder do BPI.
O levantamento também incluiu o BPI, mas no caso do banco que lidera, Ulrich conclui que entre dinheiro injectado pelos accionistas e os dividendos pagos, o balanço é positivo, já que os accionistas fizeram um esforço líquido de dividendos de 53 milhões. 
Já o apoio do Estado ao banco foi liquidado em 2014, com ganhos líquidos de 102 milhões de euros para o Tesouro "Os bancos não são todos iguais", frisou o banqueiro, garantindo que destacar a diferença do seu banco não foi o objectivo da análise realizada." 

No comments: