"Hannah Arendt". Vimos o filme, hoje.
Em Janeiro de 2010 tinha visto no Teatro Aberto "Hannah (Arendt) e Martin (Heidegger).
Decorrem as acções de um e outro espectáculo em períodos diferentes da vida de Arendt - o filme em 1961, e as crónicas que escreveu a propósito do julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém após a sua captura na Argentina, onde se refugiara; a peça de teatro reporta-se à época da relação amorosa de Arendt com o filósofo Heidegger entre 1924 e 1928.
Apesar das distâncias temporais é muito evidente que a tese fulcral da banalidade do mal, a que dedicou grande parte da sua construção filosófica, e que lhe fundamentou a justificação do comportamento de Eichmann enquanto corresponsável pelo extermínio de milhões de judeus, se sustenta nos princípios filosóficos bebidos durante a relação com o seu amante e mentor nos anos da juventude.
Linearmente, para Hanna Arendt, o julgamento de Eichmann foi um erro porque alvejou um indivíduo, que não era mais que uma peça inconsciente de um sistema demoníaco, e ao enforcá-lo não enforcou o sistema que ele, por imposição das funções que desempenhava, serviu esmeradamente. Se esta perspectiva bondosa de Arendt já tinha, só por si, um efeito detonador da ira dos judeus que sobreviveram ao holocausto, a responsabilização que ela carregou sobre alguns líderes judeus, mais disponíveis para a aceitação que para a resistência, por um tão elevado número de vítimas do nazismo, ostracizou-a para toda a vida.
Que culpa tem o indivíduo que não é mais que um elo numa cadeia do mal? Eichmann, argumentava Arendt, não pensava, e a prova que não pensava é que agiu como agiu. Quantas vezes não ouvimos, entre nós, a propósito de crimes incomparavelmente menores, o mesmo argumento invocado por criminosos deixados à solta? Pelos crimes perpetrados no BPN apenas Oliveira e Costa, que aliás ainda nem foi julgado, é responsável?
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