Monday, February 23, 2015

A CAIXA DE PANDORA

O Observador de sexta-feira passada recordava - vd. aqui - que "em março de 1985, Portugal e Espanha negociavam em Bruxelas a adesão à CEE, mas na altura contavam com um opositor de peso: a Grécia. Ibéricos entravam se os gregos recebessem mais fundos". 
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Esta recordatória não é inocente. Numa altura em que as relações entre gregos e o resto da UE atingem níveis de tensão que podem quebrar as amarras cada vez mais débeis e as declarações do governo português, quer do primeiro-ministro quer da ministra das Finanças, são destacadas nos media internacionais como não gratas ao governo grego, relembrar as exigências gregas em 1985 pode ser lida como um sintoma de revanchismo trinta anos depois.
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Mas admitamos, benevolamente, que não, admitamos que o colunista não quis ir mais além do que registar a efeméride. De qualquer modo podemos interrogar-nos se os governos de Portugal aceitaram incondicionalmente e assinaram de cruz as admissões dos 18 países membros posteriores às entradas de Portugal e Espanha.
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No mesmo dia em que o Observador, diário online liderado por José Manuel Fernandes, recordava a chantagem grega de 1985, Vasco Pulido Valente, - vd. aqui - sustentava-se na opinião de D. Pedro V, em 1860, para concluir que "Hoje a Grécia anda pior do que nós. Mas no fundo não somos muito diferentes. Metemos na cabeça, tanto uns como outros, que o mundo era responsável pelo noso conforto e prosperidade: uma triste ilusão que nos levou ciclicamente à pior das misérias. Uma ilusão que não se muda com demagogia ou com chantagem, por muito que que seja o nosso descaramento e fervor."  Registe-se que  VPV considera que, daqueles que escrevem sobre a Grécia, só Almeida Fernandes e José Manuel Fernandes se deram ao trabalho de estudar o que foi e o que é a Grécia.
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Em que ficamos? Se não somos iguais somos parecidos?
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Sobre a idiossincrasia grega, a análise concisa mais certeira que alguma vez li é a de  Samuel P. Huntington em The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order, de 1996. Transcrevi parte do texto aqui em Julho de 2011. Transcrevo agora o excerto completo.
 
"Greece is not part of Western civilization, but it was the home of Classical civilization which was an important source of Western civilization. In their opposition to the Turks, Greece historically have considered themselves spearcarriers of Christianity. Unlike Serbs, Romanians, ou Bulgarians, their history has been intimately entwined with that of the West. Yet Greece is also an anomaly, the Orthodox outsider in Western organizations. It has never been an easy member of either EU or NATO and has difficulty adapting itself to the principles and mores of both. From the mid-1960s to the mid-
1970s it was rulled by a military junta, and could not join the European Community until it shifted to democracy. Its leaders often seemed to go out of their way to deviate from Western norms and to antagonize Western governments. It was poorer than other Community and NATO members and often pursued economic policies that seemed to flout the standards prevailing in Brussels. Its behavior as president of the EU´s Council in 1994 exasperated other members, and Western European officials privately label its membership a mistake. 
  In the post-Cold War world, Greece´s policies have increasingly deviated from those of the West. Its blockade of Macedonia was strenuously opposed by Western governments and resulted in the European Comission seeking an injunction against Greece in the European Court of Justice. With respect to the conflits in former Yugoslavia, Greece separated itself from the policies pursued by the principal Western powers, actively supported the Serbs, and blatantly violated the U.N. sanctions levied against them. With the end of the Soviet Union and the communist threat, Greece has mutual interests with Russia in opposition to their common enemy, Turkey. It has permitted Russia to establish a significant presence in Greek Cyprus, and as a result of "their shared Eastern Orthodox religion", the Greek Cypriots have welcomed  Russians and Serbs in the island. In 1995 some two thousand Russian-owned business were operaing in Cyrprus; Russian and Serbo-Croatian newspapers were published there; and the Greek Cypriot government was purchasing major supplies of arms from Russia. Greece also explored with Russia the possibility of bringing oil from the Caucasus and Central Asia to the Mediterranean through a Bulgarian-Greek pipeline bypassing Turkey and other muslim countries.  Overall Greek foreign policies have assumed a heavily Orthodox orientation. Greece will undoubtedly remain a formal member of NATO and the European Union. As the process of cultural reconfiguration intensifies, however those memberships also undoubtedly will become more tenous, less meaningful, and more difficult for the parties involved. The Cold War antagonism of the Soviet Union is evolving into the post- Cold War ally of Russia."
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Pandora foi, segundo a mitologia grega, a primeira mulher, que, diferentemente de Eva do Antigo Testamento, nascida para acompanhar Adão, foi criada como vingança dos deuses sobre o homem. Pandora transportava uma caixa (ou talvez uma jarra) contendo tudo o que de mal não existia no mundo. Por curiosidade, um dia abriu a caixa, ainda tentou fechá-la, mas o mal nela contido tinha-se instalado no mundo.

Assim vão as coisas no clube.
Para uns, os gregos são uns refinadíssimos safados, para outros, são vítimas dos algozes do norte, em qualquer caso quanto mais depressa ficarem por sua conta e risco tanto melhor para todos.
A tentação de abrir a caixa é grande.
Já amanhã?
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Mitomaior
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