Sunday, October 09, 2011

EM VEZ DE

Suspeitei das virtudes da redução da TSU desde que a ideia começou a ser debatida. Coloquei aqui as minhas dúvidas registando neste caderno o comentário colocado aqui, e voltei ao tema várias vezes reforçando as razões dessas dúvidas. Outras opiniões abalizadas (p.e., a que referi aqui) não me convenceram e, entretanto, no coro contra a medida aumentou o número de vozes. Não porque suponha que a redução da TSU seria inócua mas porque os efeitos seriam ténues e a sua aplicação susceptível de aproveitamentos pouco sérios. Recentemente, a troica admitiu informalmente aceitar a troca por outra medida com efeitos equivalentes.

Há dias, ouvi na rádio Campos e Cunha defender uma medida alternativa para aumentar a competitividade das empresas, medida essa, aliás, já sugerida anteriormente por outros economistas: o aumento temporário das horas trabalhadas, por aumento do horário diário, por redução do número de feriados, por redução do número de dias de férias. Resultará?

Em princípio, sim. Um aumento do horário de trabalho é equivalente à redução do salário horário. Se o entrave ao nosso crescimento económico é a falta de competitividade, se a produção aumenta e os custos do trabalho se mantêm os custos unitários reduzem-se, e a competitividade aumenta.

Mas, obviamente, não aumenta em todos sectores na mesma proporção e pode mesmo não aumentar se existir um bloqueamento técnico ou comercial à capacidade produtiva: ou porque não é possível produzir mais porque o aparelho técnico está no limite de utilização das suas capacidades ou porque não há procura para a produção adicional. De qualquer modo, o resultado final seria, certamente, mais positivo que a redução da TSU, do meu ponto de vista.

Tem um obstáculo difícil de ultrapassar: a receptividade por parte da população activa e a oposição dos sindicatos, do PCP, do BE, e, muito provavelmente, do PS . Cavaco Silva teve um dia a bizarra ideia de querer recolocar a terça-feira de Carnaval na sua condição oficial de dia de trabalho, e foi amaldiçoado pela generalidade dos portugueses. Mais recentemente, Sócrates pretendeu que os agentes  justiça passassem a trabalhar mais, reduzindo-lhe as férias de três meses, e teve de recuar porque, além do mais, até o PSD e CDS se lhe atravessaram no caminho com acusações de falta de consideração pelos juízes. 

Não há, então, nada a fazer? Haver, há. A redução dos salários reais e nominais já está a acontecer, o tempo encarregar-se-á do resto, colocando, no entanto, o nível de vida dos portugueses num patamar cada vez mais baixo. 

A menos que a troica venha um dia destes a impor outras medidas, parece provado que, por nós mesmos, não seremos capazes de descortinar outros caminhos para a competitividade. Depois queixamo-nos da perda de soberania.

No comments: