Thursday, October 13, 2011

BAD BLANK

Leio e releio este teu comentário e não entendo como é que se transferem créditos sem que alguém os pague. Pago eu, pagamos todos os que nada devemos a ninguém?

Cito-te: "...a ideia de criar o tal veículo ou Banco, para onde sairiam as dívidas do sector público, libertando fundos para a economia real..." (aqui)

Sairiam, como? Deixariam de fazer parte dos balanços dos bancos por contrapartida de quê?
Por contrapartida de uma (bad) participação financeira no tal bad bank, reduzindo disfarçadamente o montante do crédito concedido?

E as margens conseguidas ao longo dos anos com a intermediação desses empréstimos continuariam embolsadas pelos bancos?
Grande negócio!!!

Caro António,

Os banqueiros fizeram trinta por uma linha e agora, de calças na mão, pedem socorro. O habitual.
O "moral hazard" sem tirar nem pôr. Realizaram lucros proclamadamente fabulosos, embolsaram prémios, bónus e outras formas de embolsar e agora, que a maré baixou e o lodo tresanda, querem que os desatasquem.

Não tenho dúvidas que não temos alternativa senão pagar por isso e a carga fiscal (que tu tanto abominavas mas que teria sido preventiva), aí está, pesada como nunca.

Era bom que trocássemos umas ideias acerca do assunto.
É tempo de prestação de contas neste País que estiola à míngua de justiça.

Os casos BPN, BPP onde páram?
A operação furacão por onde anda?
Quem, na Caixa, concedeu o crédito para fins especulativos a Berardo e outros compadres?
A quanto montam as dívidas duvidosas aos bancos por créditos a compras de acções outros títulos?
Quantos milhões se encontram aplicados em offshores pela banca nacional?
Por que não intervêm os bancos no repatriamento dos fundos em fuga aos impostos?
Por que não reforçam os banqueiros os capitais próprios dos bancos com as remunerações soberbas (mas afinal ilegítimas) de que se apropriaram promovendo operações incobráveis?

Etc, etc., etc.

Ontem afirmava um banqueiro (por sinal aquele que ainda me merece algum respeito) que há uma "pobreza intelectual" por parte de quem devia decidir a tempo e não decide, e atirava-se à Comissão Europeia e ao FMI. E isto porque os banqueiros são rápidos e os políticos lentos. Pudera: os banqueiros contam sempre com a rede "moral hazard"!

Só que, caro António, eles sabiam, eles tinham obrigação de saber que a rede por vezes, quando os tombos são fortes e frequentes, cede e abre buracos. Quando aquele mesmo banqueiro (que, repito, é o que me merece ainda alguma confiança) fala em pobreza moral, de que falará ele se o confrontarem com o facto de ter intermediado empréstimos à Grécia que custarão ao banco (ele o confirmou) entre 300 e 500 milhões?

Ele não sabia para onde ia a Grécia? Foi a primeira vez que ocorreram problemas de insolvência de dívidas soberanas? Carmen Reinhart e Kenneth S. Rogoff, em "This Time is Different" incluem uma lista longa que eles não desconhecem.

Voltando ao bad bank.
Com ele ou outra "inovação financeira" qualquer (sempre que há inovação financeira alguém vai ser enganado) não nos livramos de pagar a conta. O que deveríamos, no mínimo, exigir, se fôssemos um país de gente colectivamente consciente, era que a factura fosse discriminada e fazer pagar algumas das parcelas a quem comeu o que nós vimos comer.

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