"Austeridade não basta" foi o tema do Prós e Contras de ontem à noite. Que, como é habitual, terminou cerca da uma da manhã. E continuo a perguntar-me: Quem vê aquele programa até ao fim, a que horas se levanta na manhã seguinte, a que horas começa a trabalhar, com que resistência física e psíquica enfrenta o dia de trabalho? Se a intenção do serviço público da RTP, que custa milhões aos constribuintes, ao colocar o programa aquelas horas, é entorpecer os trabalhadores portugueses, o objectivo é seguramente atingido.
Dos seis convidados para o painel de comentadores, destacou-se pela clareza dos argumentos e pela serenidade convicta das suas intervenções o dr. Manuel Pedro de Magalhães, cirurgião, presidente do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa. Disse algo de novo? Não disse. Mas o que disse só não convenceu quem, por razões de enquistamento ideológico ou exibição mal disfarçada de galões académicos, não quis entender.
E o que disse, no essencial, o cirurgião: Que a alternativa a austeridade é produzir mais e melhor. Elementar, portanto. Se não podemos desvalorizar a moeda nem reerguer as barreiras alfandegárias, não temos alternativa senão, para já, trabalhar mais horas.Tal ideia ainda há dias foi relançada por uma intervenção de Campos e Cunha, que comentei aqui. O contraditório que se seguiu foi, geralmente, decepcionante.
Dos três economistas de serviço, dois professores universitários, um discordou, porque, dizia ele, não tinha horário de entrada e saída e trabalhava muito mais horas do que aquelas que a lei determina. Como se a economia fosse um conjunto de professores de economia com horário livre. Outro, Pedro Lains, posicionou-se na tese que defende há muito: Deixem-se de iniciativas, isto vai aos eixos é uma questão de tempo, o nosso futuro aos outros pertence, somos periféricos nunca seremos ricos como os do centro. Isto não é, nunca foi nem nunca será outra Suiça. O terceiro, professor de marketing, recomendou aos jovens que façam o que houver para fazer e não aquilo que um dia pensaram que queriam fazer.
O psicólogo recomendou uma terapêutica de confiança mas não disse quem administrará o elixir nem como é que ele se toma. O sociólogo atirou-se aos empresários (em média, mais ignorantes que os trabalhadores que os aturam), em resumo: os ricos que paguem a crise.
Intervieram ainda quatro convidados sentados na plateia: um, ex-quadro da Jerónimo Martins (um grupo fantástico, uma escola a valer) que trocou a condição de empregado com um futuro auspicioso pela de empresário na área da panificação. Tem sido bem sucedido mas é grande a dificuldade para recrutar pessoal capaz e permanente. A maior parte dos candidatos apresenta-se para obter o carimbo de que se candidatou e apresentá-lo na Caixa para renovação do subsídio de desemprego, a rotação é enorme porque trabalho não é propriamente emprego, custa-lhes até esboçar um sorriso para os clientes.
O segundo, professor, trabalha há vários anos a recibos verdes, ao ouvir o anterior disse pensar estar noutro planeta mas acabou por dar recomendações aos desempregados que ele, pelos vistos, não sabe praticar.
Os restantes dois falaram deles, uma bióloga que se passou para a área da motivação pessoal. Motivada como anda, disse que está sempre a trabalhar, salvo enquanto dorme, mas não apoia o aumento de horas de trabalho. O quarto, já era tarde demais para perceber onde ele quis chegar.
Em conclusão: salvou-se o cirurgião mas não se salva este país onde a propensão para a divagação afasta quaisquer hipóteses de construir alternativas para a austeridade.
Como concluiram, sem apelo nem agravo, dois dos economistas: estamos condenados a ser pobres.
Pelo menos enquanto não mudarmos de economistas quem quiser livrar-se deste fado escape-se o mais rápido que puder.
Dos três economistas de serviço, dois professores universitários, um discordou, porque, dizia ele, não tinha horário de entrada e saída e trabalhava muito mais horas do que aquelas que a lei determina. Como se a economia fosse um conjunto de professores de economia com horário livre. Outro, Pedro Lains, posicionou-se na tese que defende há muito: Deixem-se de iniciativas, isto vai aos eixos é uma questão de tempo, o nosso futuro aos outros pertence, somos periféricos nunca seremos ricos como os do centro. Isto não é, nunca foi nem nunca será outra Suiça. O terceiro, professor de marketing, recomendou aos jovens que façam o que houver para fazer e não aquilo que um dia pensaram que queriam fazer.
O psicólogo recomendou uma terapêutica de confiança mas não disse quem administrará o elixir nem como é que ele se toma. O sociólogo atirou-se aos empresários (em média, mais ignorantes que os trabalhadores que os aturam), em resumo: os ricos que paguem a crise.
Intervieram ainda quatro convidados sentados na plateia: um, ex-quadro da Jerónimo Martins (um grupo fantástico, uma escola a valer) que trocou a condição de empregado com um futuro auspicioso pela de empresário na área da panificação. Tem sido bem sucedido mas é grande a dificuldade para recrutar pessoal capaz e permanente. A maior parte dos candidatos apresenta-se para obter o carimbo de que se candidatou e apresentá-lo na Caixa para renovação do subsídio de desemprego, a rotação é enorme porque trabalho não é propriamente emprego, custa-lhes até esboçar um sorriso para os clientes.
O segundo, professor, trabalha há vários anos a recibos verdes, ao ouvir o anterior disse pensar estar noutro planeta mas acabou por dar recomendações aos desempregados que ele, pelos vistos, não sabe praticar.
Os restantes dois falaram deles, uma bióloga que se passou para a área da motivação pessoal. Motivada como anda, disse que está sempre a trabalhar, salvo enquanto dorme, mas não apoia o aumento de horas de trabalho. O quarto, já era tarde demais para perceber onde ele quis chegar.
Em conclusão: salvou-se o cirurgião mas não se salva este país onde a propensão para a divagação afasta quaisquer hipóteses de construir alternativas para a austeridade.
Como concluiram, sem apelo nem agravo, dois dos economistas: estamos condenados a ser pobres.
Pelo menos enquanto não mudarmos de economistas quem quiser livrar-se deste fado escape-se o mais rápido que puder.
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