Friday, October 21, 2011

STILL LIFE E NATUREZA MORTA

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Fot. de Fernando Cortez

Caro Fernando,

Às designações latinas "natureza morta" , "naturaleza muerta", "natura morta", "nature morte" prefiro
a anglo saxónica "still life". E suponho que nem preciso de explicar porquê, se preciso de  uma palavra estrangeira para considerar um mimo esta tua "still life".

Hoje ao almoço, no canto esquerdo discutimos a pertinência da transferência dos fundos de pensões dos bancos para a segurança social. Uma das questões levantadas, desde logo, é se os pensionistas dos fundos transferidos até ao fim deste ano são abrangidos ou não pelos cortes dos subsídios nas pensões tuteladas pela segurança social. E os outros, os que não são? Estaremos perante mais uma situação da iniquidade fiscal que preocupa o PR? Não sabemos.

Vale a pena, a este propósito, recordar mais uma vez, que a designação de subsídios de férias e de Natal nas pensões  é ridícula, anedótica até, e completamente despropositada. Por uma simples razão: Aqueles que descontaram para a segurança social, enquanto trabalhadores do sector privado, as pensões foram calculadas (conforme os vencimentos, os anos de descontos, num máximo de 40) numa base anual e dividas em 14 prestações por uma acto discricionário do governo. O corte destas prestações (e não subsídios) é, sem tirar nem por, um imposto aplicado apenas a alguns.  

Outra questão é a avaliação das consequências daquelas transferências sobre as gerações futuras, porque, invoca-se,  o Estado arrecada hoje o que terá de ser pago pelas gerações de amanhã. O que é verdade mas não é isso que acontece sobre todo o sistema de segurança social tutelado pelo Estado?  É. O nosso sistema não é de capitalização e são os activos hoje que pagam as pensões dos reformados.

Argumenta-se ainda que essa transferência é ambicionada pela banca porque destaca dos balanços responsabilidades futuras. Não me parece. E não me parece porque presumo que ela é feita prevenindo o reforço dos fundos transferidos se os cálculos actuariais periódicos (anuais, p.e.) concluirem pela insuficiência dos fundos.

A transferência, do meu ponto de vista, cumprirá ao fim de mais de três décadas o preceito constitucional da universalidade dos sistema de segurança social.
Só estranho que alguém que se situe num quadrante político que defende intransigentemente o papel do Estado na gestão da segurança social não aceite esta integração. Não te parece?

Já no período de reunião alargada no terraço, onde dantes havia um limoeiro lá ao fundo, recordaste tu,  a páginas tantas (tu já tinhas saído) veio à baila o inadiável processo de reabilitação da pátria. A tese dicutida assentou nos pressupostos de que 1) o sistema capitalista está em desagregação 2) porque os monopólios capturaram o poder político 3) resultando numa opressão insuportável sobre as classes operárias (rectificado para classes trabalhadoras) que 4) acabarão por revoltar-se sobre a égide de um governo popular 5) que resgatará o país, devolvendo-lhe a independência e a soberania perdidas. Não garanto que esteja a ser inteiramente fidedigno mas foi assim que ouvi, em síntese, aquilo que me pareceu o remastering de uma gravação antiga.

"Still life" "ou "natureza morta", neste caso, hesito. Escolhe tu.
Mas se houver vida para além da revolução à vista, como será?

3 comments:

Anonymous said...

Still life sem dúvida porque para natureza morta já basta o que temos.
Sobre o tema da desagregação da sociedade devido á ambição desmedida do capital, li em tempos que o capital quando não tem contrabalanço, ou seja quando sente que a sociedade não tem forças vivas que imponham alternativas ou se predisponham a lutar, se torna irracional na sua ambição levando á sua autodestruição. Com isto quero dizer que a acumulação de capital por parte de meia dúzia conduz indubitávelmente ao enfraquecimento da economia por falta de circulação deste capital, sendo esta o único meio de gerar mais riqueza. A especulação bolsista produz ricos mas não produz riqueza. O que se assiste neste momento no mundo em relação á divida soberana dos países, quase que se pode decalcar com as dividas do subprime, em que os grandes grupos económicos através das suas empresas seguradoras satélites, tiraram muito mais proveito com a banca rota ddo que iam lucrar com o pagamento da divida, absorvendo assim uma série de bancos menores e produzindo uma acumulação de capital de tal dimensão se torna perigoso para muitos paises cujos orçamento não atigem aquela dimensão. Era pois de perguntar e verificar a quem se deve e como é que estes empréstimos estão protegidos. Talvez se assistisse com surpresa que se está no mesmo processo. Não se percebe as imposições quer de prazos ,quer de juros quer de restrições com impacto negativo na economia dos paises ( este sim o unico factor de garantia de pagamento da divida)são aplicados aos paises, levando ao tão desejado incumprimento.

rui fonseca said...

Subscrevo as suas reflexões e as suas dúvidas.

Tenho, aliás, escrito várias notas que vão sensivelmente no mesmo sentido.

Aguardo mais comentários seus.

Fenix said...

Está à vista de todos, até dos mais ignorantes em economia, como eu, que alguém vai lucrar com as falências dos países, e consequente venda ao desbarato das sua empresas fundamentais.

A questão é esta: Como é possível que os governos e os povos, se deixem espoliar perdendo a sua soberania?! Que terrorismo económico-financeiro é este a que não "podemos" retaliar? Quais são as armas que teremos que utilizar?!