Sunday, October 23, 2011

O ESTADO DO DESASTRE E O DESASTRE DO ESTADO


Vinda de quem vem, nesta altura, a afirmação de RS parece uma "boutade" mas percebe-se bem o que está por detrás dela: Em caso de recapitalização dos bancos (no caso português, já prevista no acordo com a troica), que ontem mereceu o acordo maioritário dos países membros da UE (estiveram contra, Portugal, Espanha  e Itália), Ricardo Salgado verá entrar-lhe em casa quem ele gosta de ver do outro lado da mesa só de vez em quando. 

Ricardo Salgado foi tido como o banqueiro do regime, condição que se acentuou nos tempos de Sócrates. A liquidez jorrava em todo o sistema como um manancial inesgotável, a preços de saldo, o Estado e seus apêndices, os monopólios de facto, as construtoras de obras públicas, eram, supunha, ou queria supor, Ricardo Salgado, devedores de risco nulo; os devedores por crédito à habitação e ao consumo, de risco baixo, porque muito disperso. Como lhe sobrava ainda algum, forneceu armas para abater alguns amigos de peito: A Berardo, p.e., entregou 200 milhões para este, com a ajuda de outros amigos, entrar em força no BCP e mudar os donos do concorrente. Agora, Berardo, porque a troica manda, vai ver executada a dívida ao BES, ao BCP (400 milhões, também para acções do próprio banco), à Caixa (400 milhões, uma jogada de Santos Ferreira e Armando Vara, preparada com  o governo PS) mas as acções dadas em garantia dos mil milhões da dívida valem às cotações actuais não mais que 50 milhões. Quem paga o resto?

Ricardo Salgado & Cª foi por aí fora, entusiasmado com tanta margem, tantos lucros, tantos bónus, que não se deu conta, ou não quis dar, que ia a caminho de ficar sem pé.
Como o BES, há inúmeros casos de abuso do moral hazard que apara as habilidades de facto irresponsabilizáveis dos banqueiros, cá dentro e por esse mundo fora. Tantos que ninguém consegue avaliar qual é a dimensão do desastre ainda que todos receiem que pode ser apocalíptico se começar por tombar uma das peças deste dominó fantasma.  

Reclama Ricardo Salgado & Cª.,  que lhe pague o Estado aquilo que lhe devem as empresas públicas e o problema da falta de liquidez que sufoca a economia será ultrapassado. A recapitalização, pelo contrário, introduzindo o Estado nos bancos (os 12 mil milhões reservados no plano da troica ultrapassam os capitais próprios de todo o sistema em Portugal) introduziria inevitavelmente a entropia de um desastrado em gestão bancária.

Ricardo Salgado & Cª, considerando alguns factos relevantes (e altamente dolorosos para os contribuintes portugueses) tem em grande parte razão, ainda que, ele mesmo &Cª, se tenha comportado de forma desastrada mas bem paga. 

A gestão da Caixa, que é o caso-contraste em avaliação, que nos tempos da outra senhora se comportava como quem conduz um paquiderme, tornou-se volúvel e engajada com a troupe, imitando os tiques e seguindo os toques de Ricardo & Cª. Financiou operações especulativas de assalto, privilegiou a economia protegida e  Estado,  instalou os jogos de casino, eufemisticamente designados por investimentos, expandiu, ou induziu a expansão, até limites criminosos as responsabilidades do Estado no BPN (vd. Relatório do OE/2012, pag 103).

Em conclusão: A recapitalização da banca portuguesa parece-me uma péssima ideia porque de qualquer envolvimento do Estado com estes parceiros é enorme a probabilidade de ficarem os contribuintes ainda mais lesados e mal pagos. Se com os 12 mil milhões o Estado renegociar (haveria uma antecipação de pagamento e uma redução do risco) e pagar, não perderemos mais. Se o Estado lá entra, é melhor começarmos nós a fugir. 

Subsiste o nó górdio, subsiste o moral hazard.
Que só será minimizado quando for feito o spinoff da banca de casino da banca de depósitos e investimento à economia produtiva. Um passo importante, no caso português, seria começar pela Caixa, vendendo o casino e restringindo a sua acção ao financimento do investimento reprodutivo.  

1 comment:

pvnam said...

Sem dúvida que o objectivo final de tudo isto é a implosão das soberanias...


--> A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
--> Só não vê quem não quer: está na forja um caos organizado por alguns - a superclasse: uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo.

--> Marionetas dos 'Bilderbergos' (ex: Sócrates e afins) fizeram o seu trabalho: silenciaram 'Medinas Carreiras', e armaram a RATOEIRA para a falência: endividamento esperando um - ILUSÓRIO - crescimento perpétuo...



ANEXO:
-> Muito muito mais importante do que a crise... é o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA!
Resumindo e concluindo: Não vamos ser uns 'parvinhos-à-Sérvia'.... antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência... e SEPARATISMO!...


ANEXO 2:
Os políticos não são - nem podem ser - 'paizinhos'!!!
Há que exigir, isso sim, é UM MAIOR CONTROLO sobre a actividade política!
Votar em políticos não é passar um 'cheque em branco'!!!
O Presidente da República pode vetar uma lei... sem querer derrubar o governo!!!
Os contribuintes devem poder vetar uma despesa com a qual não concordam... sem querer derrubar o governo!!!
Democracia verdadeira, já!
Leia-se: DIREITO AO VETO de quem paga (vulgo contribuinte):
- blog fim-da-cidadania-infantil.
{um ex: a nacionalização do negócio 'madoffiano' BPN nunca se realizaria: seria vetada pelo contribuinte!}