Tuesday, October 04, 2011

PARA LÁ DA CRISE FINANCEIRA

No mesmo dia que os ministros das finanças do  Ecofin adiavam a decisão de entrega da próxima prestação do contrato de resgate, o Governo grego fez saber que, afinal, tem dinheiro até meados de Novembro.

Sabe-se que os gregos têm uma péssima relação com as contas de somar (não só os gregos, reconheça-se), e parecem esquecer-se que têm à perna uma coisa recentemente inventada chamada troica. Até hoje, clamava desde há algumas semanas que não tinha com que pagar a funcionários e a fornecedores depois dos primeiros dias de Outubro; agora, talvez porque alguém os obrigou a reverem as contas erradas, admitem ter folga para mais um mês. Também recentemente passaram a admitir que não irão cumprir os objectivos assumidos no compromisso de ajuda externa. Mas, neste caso, muito provavelmente acertam.

É neste contexto de suspense em que a  frieza lenta da decisão da troica se confronta com a renitência grega
que as bolsas se afundam e os juros voltam a escalar os limites dos créditos incobráveis. 

Para lá  do risco sistémico que um default da dívida soberana com consequências incalculáveis poderia provocar junta-se o risco político. Entregue à sua sorte e ao caos superveniente, a Grécia poderia ser o primeiro palco de um golpe militar num país membro da UE e da NATO. Culturalmente, na opinião de Huntington, mais próxima da Rússia que dos EUA (segundo inquérito recente os gregos são maioritariamente anti norte-americanos), a saída da Grécia do euro e da União Europeia dificilmente deixaria de por os gregos debaixo de outras asas militares.

Os gregos sabem disto, e essa é uma das razões por que erram tantas vezes as contas de somar.

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