Wednesday, October 12, 2011

QUEM SABE FAZER, FAZ

O sociólogo que participou no programa a que me referi no apontamento de ontem, aqui, repetiu uma afirmação frequente: "Em média, os empresários portugueses têm menos habilitações (literárias, oficiais, se bem se entende o sentido da afirmação) que as dos seus empregados" .Verdadeira ou não, nunca a vi contestada mas também nunca lhe vi mencionada a fonte. Admitamos que tem fundamento.

E então, senhor sociólogo, e todos quantos afirmam o mesmo, que fazer? Irradiam-se os que não fizerem prova de diplomas pelo menos equiparados aos seus colaboradores? Enviam-se a campos de reeducação e submetem-se a provas? Proibe-se a entrada a futuros candidatos que não apresentem certificados adequados? Impedem-se os actuais e futuros empresários de admitirem colaboradores com habilitações superiores às suas?

Que habilitações?

Bill Gates e Steve Jobs, dois nomes marcantes do avanço tecnológico e científico nas últimas décadas, por exemplo, não concluiram cursos superiores e admitiram milhares de engenheiros e cientistas altamente academicamente qualificados. São excepções? Vamos então aos valores médios.

É por demais evidente que a Universidade em Portugal foi, e em certa medida ainda continua a ser, castradora do emprendedorismo. Com um canudo, ainda que rafeiro, o licenciado prefere a segurança de um emprego na função pública ou numa actividade privada que arriscar empreender num negócio. Já dediquei ao assunto alguns apontamentos neste bloco de notas. Em muitos casos, o empresário em Portugal, tornou-se empresário à força por  falta de habilitações que lhe garantissem o sossego de um emprego. 

O senhor sociólogo pertence, certamente, ao primeiro grupo e, provavelmente, faltar-lhe-iam capacidades (habilitações, portanto) para pertencer ao segundo. 

Se um indivíduo ou um conjunto deles tem habilitações (literárias) superiores aquelas detidas pelo empresário para quem trabalha, este tem certamente capacidades (outras habilitações) que os seus empregados não dispõem, caso contrário inverter-se-iam os papeis e seria empresário quem mais habilitações literárias tivesse. 

Um questão menor? Não é.
E não é porque é esta perspectiva vesga de ajuizar em função de diplomas e não de resultados que continua ainda a comandar o comportamento dos portugueses em geral.  

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