Se vier a ser, não deveria ser.
Mas não é improvável que o que não deveria acontecer venha a acontecer. A situação está demasiado enevoada para se perceber em que coordenadas se move a jangada.
De qualquer modo, a intervenção do Estado português na banca está, para já e ainda sem luz verde, limitada no plano da troica a 12 mil milhões de euros. A nacionalização tout court seria uma tragédia porque transferiria para os contribuintes responsabilidades insuportáveis. Sem qualquer vantagem: Se, por hipótese que se pretende muito remota, ocorresse uma corrida aos bancos, o Governo português não teria quaisquer hipóteses de a suster sem o auxílio do BCE. Assim sendo, é bem melhor que com o BCE se entendam os bancos.
Um dos problemas gordos da banca portuguesa (e não só) são os créditos concedidos ao Estado, empresas públicas e administrações locais e regionais. Andaram os banqueiros anos e anos a lamberem-se de gozo com as comissões, que lhes garantiam honorários e bónus imparáveis, nos empréstimos ao Estado e entidades correlativas. Logo, parece fazer muito pouco sentido tomar o Estado conta dos seus credores precisamente porque não lhes paga.
As dívidas ou se pagam ou se reestruturam. Passá-las para um "veículo financeiro" como pretendem os bancos, segundo o Expresso/Economia de sábado passado, não as levará a lado nenhum. Podem driblar as regras mas não extinguem os ónus.
Mas mais: Há nos bancos (incluindo a Caixa) duas actividades distintas: Uma é a banca propriamente dita, de depósitos e empréstimos para operações não especulativas; outra, dita de investimento, mas que seria mais apropriado chamar-lhe de casino, que se dedica à intermediação de negócios meramente especulativos.
Ora já nos estão a apresentar a factura de fraudes feitas ao abrigo desta última condição no BPN e BPP. Chega, não?
Se o Governo quiser intervir na reestruturação do sector em Portugal faça saber que os contribuintes portugueses não estarão dispostos a continuar com a rede do "moral hazard" estendida para todos os exercícios de inovação financeira que mais não são do que operações de onde os inovadores retiram os lucros e mandam a conta das perdas a nossas casas.
Para já deveria fazer o spin off da actividade de casino que existe na Caixa e vendê-la ao melhor preço. Pouco que dê é melhor que nada e deixa o Estado de ser dono de um casino que quando vai à glória quem também paga sou eu. O que, como é evidente, me chateia.
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Corr. Grécia nacionaliza banco suspeito de branqueamento de capitais.
Se há suspeitas deveria averiguar e mandar prender os branqueadores se as suspeitas se confirmassem.
Se a moda pega ...
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Corr. Grécia nacionaliza banco suspeito de branqueamento de capitais.
Se há suspeitas deveria averiguar e mandar prender os branqueadores se as suspeitas se confirmassem.
Se a moda pega ...
2 comments:
Caro Rui:
Dizes, e bem, que "um dos problemas gordos da banca portuguesa (e não só) são os créditos concedidos ao Estado, empresas públicas e administrações locais e regionais". Pois é, mas, salvo melhor opinião, o que devias concluir é que o Estado devia pagar o que deve, mormente quando se trata de dívida directa ou de dívida com seu aval.
A tua teoria, culpando os Bancos e os banqueiros, é indefensável. Por ela, nenhum crédito devia ser pago, já que, em última e primeira instância, a concessão de crédito é da responsabilidade dos Banqueiros que se babaram de gozo com os ganhos daí resultantes.
Caro Rui: neste momento, não há financiamento à economia. Porque se fecharam os mercados, por via da baixa do rating da República. Esse, o da falta de financiamento às empresas, por falta de liquidez dos Bancos, é um problema grave, o mais grave de todos. A única forma de o resolver é através do pagamento pelo estado da dívida vencida das suas empresas deficitárias, cerca de 40 mil milhões de euros, segundo números vindos a público. Só esse facto pode fazer reciclar fundos para as empresas privadas. Há que renegociar com a Troika nesse sentido, pois essa é uma lacuna grave do Acordo, como agora se sente e o nosso amigo e colega E. Catroga logo disse.
Quanto à intervenção dos Estados no Dexia ou noutros Bancos, por razões de liquidez, deixa-a fazer à vontade, que daí não vem prejuízo. Ou não dão os Bancos uma fonte de lucros? A não ser que o Estado estrague naquilo que mexe...
Abraço
Caro António,
Antes de mais, obrigado pelo teu comentário.
Dizes que a minha "teoria, culpando os Bancos e os banqueiros, é indefensável"
Não sou só eu que digo que os banqueiros são os grandes (mas não únicos)culpados das múltiplas crises financeiras com que o mundo se defronta.
Dois testemunhos:
Assim começa o documento da troica:
"- A economia portuguesa enfrenta desafios consideráveis. Os indicadores de competitividade têm sido afectados, o crescimento económico tem-se revelado fraco e o défice da balança corrente situa-se nos 10% do PIB. A crise global expôs a frágil posição orçamental e financeira de Portugal, com uma dívida pública de cerca de 90% do PIB, no final de 2010, e uma dívida do sector privado de cerca de 260% do PIB. Os bancos que financiaram este avolumar de dívida apresentam actualmente o mais elevado rácio entre créditos e depósitos da Europa. "
É indiscutível que os banqueiros portugueses enfiaram crédito pela boca abaixo dos portugueses até dizer basta.
Sei que me respondes a isto perguntando: E os portugueses estavam inconscientes dos riscos que assumiam e da sua capacidade e crédito?
Respondo-te: Os portugueses em geral, e este teu Amigo em particular, que não deve nada a ninguém, não sabiam nem podiam saber a que nível tinha subido as importações de crédito para financiar o consumo de bens e serviços importados, para alimentar a especulação imobiliária,para suportar as irresponsabilidades dos políticos. Ganhavam comissões, exibiam lucros astronómicos, embolsavam rendimentos de outro mundo.
E porquê?
Pois muito simplesmente porque contavam, e ainda contam, com a rede que os apara quando os exercícios lhes saem mal e dariam trambolhão pela certa. Chama-se a isso "moral hazard" e não fui eu que inventei o termo.
Quem vende assume o risco do crédito concedido, excepto, claro está, os bancos, quando excedem todos os limites colocam em risco os depósitos dos que neles confiaram .
Bern Bernanke dizia numa entrevista à Time, no final de 2008que o maior problema dos EUA é o "to big to fail", que continua, também nos States, por resolver.
E continuará enquanto não forem separadas as actividades de depósitos e financiamento ao investimento não especulativo da banca de casino.
Não, caro António, os banqueiros estavam conscientes do que faziam, mas a gula foi superior à sua consciência cívica e à sua ética, em última análise à sua obrigação de actuarem medindo os riscos que assumiam.
E com esse comportamento a todos os títulos condenáveis contribuiram para colocar algumas economias em situação de falência iminente.
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