"Monetary policy is no panacea for Europe´s ills", escreve Jens Weidmann, presidente do Deutsche Bundesbank, no Financial Times de hoje.
E não é. Toda a gente sabe que não é, mas Weidmann também sabe que nenhuma cirurgia é prudente se o corpo a ser intervencionado estiver febril. E Weidmann, alinhado com Merkel, não avança qualquer intervenção política para além da medicação que normalize as temperaturas à custa de sangrias, uma terapêutica que, só por si, certamente não curará a Europa.
O texto de Jen Weidmmann não acrescenta nada ao que já se sabe acerca da ortodoxia alemã em matéria de controlo da inflação na Zona Euro. Tudo o resto tem de subordinar-se a este objectivo exclusivo. E o objectivo deste texto é a renovação de um aviso a Hollande, Draghi, Monti, e Rajoy. Em que medida o levarão em conta é o que falta saber para sabermos para onde vai a União Europeia a partir de agora.
Cito, resumidamente: O texto de Jen Weidmmann não acrescenta nada ao que já se sabe acerca da ortodoxia alemã em matéria de controlo da inflação na Zona Euro. Tudo o resto tem de subordinar-se a este objectivo exclusivo. E o objectivo deste texto é a renovação de um aviso a Hollande, Draghi, Monti, e Rajoy. Em que medida o levarão em conta é o que falta saber para sabermos para onde vai a União Europeia a partir de agora.
"Agora que os estímulos fiscais atingiram os limites viáveis, as políticas monetárias são vistas frequentemente como o último reduto. Tendo dominado a inflação nas últimas décadas, os bancos centrais têm agora dado substanciais contributos para combater as crises financeira, económica e das dívidas soberanas, e, mesmo assim, pedem-lhes mais.
O Sistema Monetário Europeu (SME) tem mantido as taxas de juro a níveis reduzidos, injectado liquidez eefectuado compras de activos em larga escala.
Convém, no entanto, advertir que, contrariamente à muito divulgada ideia, a política monetária não é uma panaceia e o poder de fogo dos bancos centrais é limitado, especialmente numa união monetária. Antes de mais, para proteger a sua independência os bancos centrais na Zona Euro enfrentam evidentes restrições nos riscos que podem assumir.
Por exemplo, se o financiamento concedido pelos bancos não é garantido de forma sólida, os riscos serão pagos pelos contribuintes nacionais. Ora esta transferência implícita está fora das competências dos mandatos dos bancos centrais da Zona Euro. O resgate dos bancos através de impostos pagos pelos contribuintes só pode ser decidido pelos parlamentos nacionais.
O cumprimento das regras de estabilidade monetária, muitas das quais fazem parte do tratado europeu, não é uma obesessão legalista: é a chave da aceitação da união monetária pelos cidadãos europeus. Ignorar estas restrições não é uma solução pragmática e os efeitos das suas violações podem ser corrosivos da confiança na moeda única.
Depois, quaisquer práticas complacentes no futuro terão de ignorar as lições da crise financeira. (...)
A política de juros próximos de zero combinada com a intervenção em larga escala nos mercados financeiros terá efeitos secundários que serão tanto mais severos quanto maior for o período de administração da droga.
A investigação sugere que a assimetria de políticas monetárias de ajustamento incondicional, para combater a correcção de um excesso no sector financeiro, encoraja a tomada mais agressiva de riscos. Estudos do Banco para as Compensações Internacionais tem consistentemente sublinhada a necessidade da política monetária ser mais simétrica com o ciclo económico de modo a evitar a produção de desequilíbrios que ponham em causa a estabilidade futura.
Ao mesmo tempo que reduziu as taxas de juro, o SME activou um conjunto de medidas que não se coadunam com o propósito único que lhe está atribuido de manter estáveis os preços e garantir a estabilidade financeira ameaçada pela crise. De tudo isto resulta que os bancos centrais que, antes da crise, injectavam no sistema níveis reduzidos de liquidez, agora estão a substituir ou a dispensar os investidores privados.
Esta prática cria o risco de alguns bancos se tornarem sobretudo dependentes do financiamento do banco central, reduzindo deste modo o incentivo para as reformas necessárias. Até agora os progressos observados em vários países da Zona Euro têm sido debeis, apesar das experiências das crises financeiras do passado, na Suécia e no Japão, por exemplo, nos ensinarem os benefícios da mudança e os perigos de continuar tudo como dantes. Os regularores devem mantar a pressão no sentido dos bancos reestruturarem os seus capitais, e expurgar os bancos inviáveis.
Pelas mesmas razões, se for reduzida a pressão sobre as dívidas soberanas nos mercados abrandam-se as medidas de reequilíbrio das finanças públicas em situação precária. Os desequilíbrios macroeconómicos detectados e os níveis insustentáveis da dívida pública e privada em alguns estados membros estão na origem da crise actual das dívidas soberanas. O apelo ao políticos para se absterem de tomar decisões impopulares e resolver a crise através de políticas monetárias de facilitação deve ser enfrentado pelos bancos centrais. É portanto vital que não haja ambiguidades acerca da natureza temporária das medidas não convencionais que vêm sendo adoptadas.
Contudo, isto também implica que as preocupações acerca de uma política menos expansionista na periferia não devem levar os dirigentes políticos a tomarem medidas que possam por em risco os níveis de inflação na Zona Euro.
Mantendo como seu principal objectivo controlo da inflação é o primeiro requisito para salvaguardar o mais precioso recurso de um banco central: credibilidade.
Em política monetária, como na vida, serás amanhã o que fizeres hoje.
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