A campanha publicitária do Pingo Doce tem tantas leituras quantos os leitores. E a controvérsia suscitada só ajuda a campanha.
Há um aspecto, contudo, que a mim me parece incontroverso: o Pingo Doce declarou que não fez "dumping", logo não vendeu abaixo do preço de custo váriável.
Se não vendeu abaixo do preço de custo variável, e assumindo que os seus custos fixos são relativamente muito reduzidos (essa é uma das vantagens dos grandes espaços, a outra é a capacidade de negociação com uma multiplicidade de fornecedores) o Pingo Doce arrecada margens que só podem justificar-se se a concorrência não funciona.
Mas se a concorrência não funciona por que razão gastam milhões numa campanha publicitária?
Há dias, Lobo Xavier, que reclamou saber do que fala, dizia no programa televisivo onde é comentador que não precisam os grandes grupos de distribuição de fazer guerra de preços porque todos têm aumentado as vendas ... mesmo em tempos de crise, e que o Pingo Doce, ao fazer esta campanha, terá querido "dar um mimo" aos seus clientes habituais...
Se não houve dumping (os concorrentes não reclamaram), há acordos de preços? Não há. Se houvesse, não haveria campanhas publicitárias desta ordem de grandeza.
Então o que há? Desequilíbrio de forças entre (muitos) fornecedores e (poucos) distribuidores.
Dir-se-á: Mas isso é bom para o consumidor final. Aparentemente, assim é. Acontece que o "dumping" que espreme os fornecedores nacionais é feito por fornecedores externos. O mercado português é, para muitos produtores estrangeiros um mercado marginal. Porque é um mercado onde colocam as quantidades que os mercados mais próximos não absorvem.
Ainda, e mais uma vez, dirá um liberal: Mas isso é excelente, porque com isso ganha o cliente.
Parece.
Inundado por fornecimentos externos, podemos continuar a ter mercado sem ter produções?
Ajudem-se a sair desta, senhoras e senhores liberais.
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Act. - Uma leitura diferente para um acto subversivo
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Act. - Uma leitura diferente para um acto subversivo
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