Friday, May 25, 2012

PARA ONDE VAIS UNIÃO?

"Um versão limitada de federalismo é uma solução menos má que uma implosão do euro" 

É a mensagem chave do Economist desta semana num artigo sobre a opção que a União Europeia não pode deixar de tomar quando as circunstâncias, cada vez mais próximas, não consentirem mais paliativos.

Há muito tempo, e várias vezes anotei neste caderno, que não vislumbro outra alternativa para a Europa se não uma fórmula de federalismo mínimo se a União Europeia, onde o peso da Alemanha é preponderante, quiser continuar a existir. Contudo, segundo a edição do semanário Der Spiegel, citada aqui, o governo alemão prepara-se para apresentar um plano de seis pontos de solução para a crise, de entre os quais a criação de zonas francas nos países mais fragilizados. É cada vez mais claro, se esta notícia se vier a confirmar, que Merkel quer continuar a adiar o confronto inevitável com a realidade. 

É por demais evidente que o avanço para o federalismo, mínimo que seja, exige uma passada que não será fácil dar, não só pela compatibilização de valores culturais estruturantes de uma maior integração política como pelo lastro de nacionalismo ainda preponderante num continente historicamente sempre muito repartido. Por outro lado, é na defesa desses valores culturais que reside o factor mais determinante para a continuação da construção europeia. Uma construção que necessita agora de colocar o telhado sob pena de se desmoronarem as estruturas erguidas durante mais de cinco décadas.

Segundo os resultados de uma sondagem revelados ontem, o Syrisa aumentou para 30% a sua posição nas intenções de voto na repetição das eleições dentro de 3 semanas e é cada vez mais evidente que os gregos vão esticar a corda até aos limites da ruptura, convencidos de que a construção europeia não pode prescindir deles. Há muito tempo que também referi neste caderno de apontamentos que a questão grega é, mais de que uma questão financeira (ainda assim crítica pelos reflexos desastrosos mas incalculáveis que uma bancarrota grega poderá determinar) uma questão política. Se a União Europeia deixa cair a Grécia, seguramente que a apararão os norte-americanos (já é hábito virem os norte-americanos solucionar os desaguisados entre europeus) ou os russos. O Expresso do fim-de-semana passado dedicou um longo artigo a esta perspectiva. O que é estranho é que a questão da importância geoestratégica seja preponderante e, continue,  aparentemente, a ser quase ignorado nos comentários dos mais citados analistas internacionais.
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Cito, a seguir, algumas das afirmações do artigo do Economist que comecei por referir:
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"A Chanceler Angel Merkel continua a argumentar que a ameaça do colapso do euro é fundamental para obrigar os governos a prosseguirem com as reformas. Mas esta diplomacia arriscada está a corroer o futuro do euro..."
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"No verão passado o Economist defendeu que para travar a espiral descendente da Zona Euro era necessário que os bancos fossem recapitalizados, que o BCE tivesse capacidade de suporte ilimitado ao sistema financeiro, e terminasse a obesessão germânica pela austeridade ... Lamentavelmente, (tal não aconteceu) ... e a crise aprofundou-se" 

"Nos meses mais recentes concluímos que, quer a Grécia saia, quer a Grécia se mantenha no euro, um resgate exige mais. Se o que se pretende é banir o espectro de uma colapso, a zona euro tem de juntar esforços e, em conjunto, garantir liquidez aos seu maiores bancos e emitir eurobonds para partilhar o esforço da dívida ... A evolução para o federalismo preocupa muitos europeus. É um jogo, mas chegou a hora de arriscar alguma coisa.  Rumores de corrida aos bancos na periferia da Europa colocou depositantes e inestidores em alerta. A zona euro necessita de um plano"    
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A propósito da existência ou não de um plano de contingência para a eventual saída da Grécia, que o comissário europeu para o comércio Karel de Gutch disse esta semana estar em preparação, mas que o comissário das finanças Olli Rehn negou, ouvi na rádio há cerca de uma hora de Gutch reafirmar a existência desse plano porque, segundo ele, seria uma grande irresponsabilidade que esse plano não existisse. Parece evidente, e comentei nesse sentido.
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"Está o euro livre de um colapso? Mesmo os mais entusiastas da moeda única reconhecem agora que o euro foi mal introduzido e pior encaminhado ..."
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"Os que defendem o colapso do euro imaginam um divórcio amigável. Cada governo será livre de decretar que os contratos internos - depósitos e empréstimos, preços e salários, passarão a ser denominados nas novas moedas nacionais. Para evita corridas aos bancos, especialmente nas economias mais frágeis, haverá um período de encerramento e limitação aos levantamentos. Para evitar fugas de capital, haverá controlos impostos pelo governo" 
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"Tudo bem, excepto a desconfiança das pessoas de que a mudança traria mais benefícios que prejuízos ... desencadear-se-ia uma cascata de falências e de processos judiciais. Os governos com défices orçamentais seriam obrigados a reduzir drasticamente as despesas e a imprimir moeda" 

" E este é o cenário optimista. Muito provavelmente, haveria um colapso global dos mercados bolsistas, corridas aos bancos, e o colapso global no fim de tudo. As desvalorizações nas economias mais frágeis e a apreciações nas economias mais robustas seriam desvastadoras para os produtores nestas. O controlo de capitais é ilegal na UE  e o colapso do euro não está previsto na lei, pelo que toda a união entraria num limbo de ilegalidade ... Resumidamente: sem movimento livre de mercadorias, pessoas e capitais, pouco sobraria da UE "
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"O colapso do euro seria uma prenda para os populistas, anti globalização, como Marine Le Pen .."  

"A zona euro enfrenta hoje problemas muito profundos. Os bancos e os seus governos serviram-se uns aos outros como bêbados em sexta-feira à noite. ... (agora) quando as taxas de juro da dívida subiram e as economias estagnam os empréstimos são impagáveis ... "

"Estas as razões pelas quais concluímos que os membros da zona euro devem partilhar a carga da dívida global. A lógica deste raciocínio é muito simples: O problema da zona euro não é o elevado nível da dívida pública (cerca de 87%) contra mais de 100% nos EUA, mas o facto de estar fragmentada. Do mesmo modo os bancos não são demasiado grandes considerando a globalidade da UE, mas para cada governo individualmente considerado."

"Para sobreviver, a Europa tem de se federalizar mais: o que está em causa é quanto mais." 
(Continua)

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