Wednesday, May 16, 2012

REFERENDO NA GRÉCIA, JÁ!

Em 27 de Março de 2010  escrevi aqui isto, a propósito de uma eventual saída da Grécia do euro e, em consequência disso, da União Europeia:

"... Só vejo uma alternativa para a desmobilização deste confronto anunciado: Colocar (aos gregos), através de um referendo, a possibilidade de escolher entre a manutenção no euro sujeitando-se às medidas do catálogo ou voltar à moeda nacional com as consequências fácilmente previsíveis. Quanto mais tarde tal acontecer maior será a probabilidade de vingar a segunda hipótese."

Quando no último dia de Outubro do ano passado, Papandreu, então primeiro-ministro grego, surpreendeu tudo e todos quando anunciou um referendo às condições da ajuda externa, e, implicitamente, à continuidade da Grécia na Zona Euro e na União Europeia, contrariando o movimento de oposição e pressão gerado na altura entre os restantes membros da UE e do FMI, que levou Papandreu a retirar a sua intenção e mais tarde a resignar e aceitar um governo de transição liderado e constituido por tecnocratas, escrevi aqui

".... Se os gregos responderem, Sim, de forma claramente maioritária, Papandreou prossegue mais confortado, a Grécia continuará no caminho que, então, por maioria escolheu, permanecerá na UE e na Zona Euro, a União Europeia suspirará outra vez de alívio. Se votarem, Não, tudo pode acontecer, incluindo mais uma derrocada incalculável do sistema financeiro global. Mas mais: É bem provável, como já algumas anotei neste bloco de notas, que, perante a iminência da saída da Grécia da UE e do Euro, mas também da Nato, os europeus e os norte-americanos, agora de forma conjugada, não tenham alternativa senão voltar a rever a ajuda externa à Grécia e, obviamente, de todo o modelo de solução do imbróglio financeiro em que o Ocidente se meteu. "

Hoje, lê-se no Financial Times que os principais líderes europeus estão a tentar que a repetição das eleições gregas a realizar em meados do próximo mês seja entendida como um referendo à continuidade da Grécia como membro da Zona Euro, o que, sendo uma jogada de alto risco, pode trazer de volta os eleitores que votaram contra as condições impostas pelo resgate mas que desejam manter o euro como moeda do seu país.
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Afinal a jogada que Papandeu se propõs fazer há sete meses atrás, e que aqui, neste bloco de notas, considerei muito oportuna.



Corr.- Governo interino da Grécia diz que Merkel sugeriu um referendo sobre o euro. A Chanceler desmente.
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2 comments:

Luciano Machado said...

Olá Rui. Isto é que é um imbróglio!
E se as eleições/referendo derem uma vitória do não? Como é que se procede para a saída de um país do euro? E a seguir?
Abandoná-lo na sua definhação dizendo que foram eles que escolheram o caminho?
E a UE resiste a isso?
Ontem, mais uma vez o JFA (e outros) refeririu a necessidade urgente de Portugal iniciar uma saída negociada (a ser conduzida em absoluto secretismo até à data do seu anúncio)antevendo um cenário de catástrofe se tal não for feito.
Eu que não partilho desta visão apocalítica fico a reflectir sobre os caminhos alternativos e cada vez estou mais confuso.
Quais os parceiros nesta negociação? Será possível repôr uma moeda própria sem introduzir mecanismos coercivos em vários domínios? Será isto compatível com a manutenção da democracia parlamentar ou exigirá um período indeterminado de supressão das liberdades individuais?
Por seu turno, alta finança continua a agir como se nada se tivesse passado: Veja-se o caso do JPMorgan que vem agora declarar avultadas perdas por especulação sobre derivados e o presidente Jamie Dimon(que já demitiu a responsável directa pelo ramo) continua na maior a defender a auto-regulação (Ver notícia da TVI em http://www.agenciafinanceira.iol.pt/financas/jp-morgan-prejuizos-resultados-agencia-financeira/1348683-1729.html. )Como é que isto é possível?
Estou de acordo com o JFA quando ele diagnostica a doênça deste modelo de sociedade e a sua inviabilidade a longo prazo.
Ando porém à busca de um caminho que me conduza à via alternativa mas não o consigo encontrar.
És capaz de dar uma ajuda?

rui fonseca said...

Olá Luciano!

Obrigado pelo teu comentário.

Quanto à "saída negociada (a ser feita em absoluto secretismo até à data do seu anúncio)" preconizada pelo JFA não vejo como é que isso pode ser feito.

Mas ele, JFA, também não diz nada mais para além do "absoluto secretismo". Que me parece totalmente inexequível.

Estamos a falar de um assunto da maior importância para todos os portugueses, envolve entidades estrangeiras,como é que pode ser negociada e decidida em absoluto secretismo? Penso que é uma ideia delirante de JFA.

Depois há os aspectos técnicos que uma mudança de moeda envolve. Passar de uma moeda fraca para uma moeda forte, é relativamente fácil.

O contrário, é complicadíssimo.

O FT tem vindo a publicar esta semana uma série de artigos sobre este e outros assuntos relacionados com a eventual saída da Grécia e na edição de 2ª feira pode ler-se:

"A impressão e distribuição de novas notas não é uma tarefa fácil. Em 2003 os EUA e os seus aliados conseguiram fazer isso em menos de 3 meses no Iraque. Mas recorreram a De La Rue, o impressor especializado britânico, um esquadrão de 27 Boeings 747 e 500 guardas Fidgis."