Especulo (ou cismo?) por conta própria, não pago impostos por isso nem recebo avenças.
O recado de Jen Weinmann a François Hollande, mas também a Draghi, Monti e Rajoy, que ontem comentei aqui, apesar de não acrescentar nada de novo e insistir repetidamente na necessidade do cumprimento das regras que previnam a estabilidade dos preços e, deste modo, a credibilidade do SME, reconhece que o estrito seguimento desse objectivo já foi ultrapassado e nada adianta quanto às medidas que os alemães adoptarão caso o BCE prossiga uma política monetária complacente que, inevitavelmente, implicará um ajustamento cambial do euro relativamente ao dólar, que não é preocupante, mas também um aumento da inflação na Zona Euro, que assusta Berlim.
Sairão do SME, como alguns já previram, e voltam ao marco, deixando os despesistas do sul entretidos com as suas idiossincrasias? Tecnicamente a saída de uma moeda para outra prometidamente mais forte é fácil, como se observou na transição para o euro. A inversa é complicadíssima. Para os sulistas, uma desvalorização acentuada do euro, resolveria uma boa parte dos problemas do seu endividamento em euros aos bancos alemães e aos bancos daqueles países que acompanhassem a Alemanha na saída por cima.
Quero com isto dizer que se a Alemanha (e mais uns quantos) decidirem sair, sairão quando o BCE tiver encaixado a maioria dos créditos concedidos pelos seus bancos ao Sul, evitando as perdas em cadeia que um processo de cisão entre o Norte o Sul da Europa inevitavelmente desencaderia. Será esse o objectivo do recado de Merkel entregue por Weinmann? Sairem e, quando sairem, dizerem, nós avisámos?
A Alemanha, pela voz de Angela Merkel, tem repetidamente reafirmado a sua vontade indiscutível de continuar a construção da União Europeia, e temos de conceder-lhe o benefício da dúvida mesmo se repetidamente reafirmam que o seu projecto para a União se esgota numa união monetária sem qualquer consolidação política. Até agora, ninguém contestou frontalmente esta opção mas também ninguém avançou com a proposta de um caminho alternativo. A proclamação de que são precisas políticas de crescimento que são incompatíveis com a austeridade severa decretada por Berlim e suportada, até agora, por Paris, é um slogan político que não tem o condão de fazer crescr seja o que for e aonde for.
As economias ocidentais, com poucas excepções, perderam competitividade num mundo globalizado que cresceu no outro lado do globo, e mantiveram as aparências de crescimento com o crescimento dos gastos públicos aumentando a conta dos juros da dívida de forma insuportável. O recado de Weinmann esqueceu-se propositadamente disto: a cura da Europa não passa por políticas monetárias mas nenhuma cura é possível quando a factura dos juros não consente a possibilidade de qualquer recuperação.
Em Portugal, obviamente, não consente. E não será com o aumento da ajuda externa que essa imposibilidade se ultrapassa. Portugal não precisa de mais dívida mas de menos dívida. Precisa, é preciso dizê-lo claramente, de uma redução da sua dívida pública. Antes que o cisma aconteça.
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Correl.- Há mais de 6 mil milhões de dívidas incobráveis em Portugal. Na Europa serão 340 mil milhões.
Correl.- Há mais de 6 mil milhões de dívidas incobráveis em Portugal. Na Europa serão 340 mil milhões.
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