Ouço esta manhã na Antena 1 que a ASAE está já a averiguar se houve ou não uma situação de dumping na campanha do 1º. de Maio no Pingo Doce. Era adiantado que, pelo menos em três casos (três produtos?) tinha sido constatado existirem fundamentos para a acusação de ilegalidade. Ouvidos os responsáveis do Pingo Doce, terão confirmado que não praticaram dumping, reconhecendo, deste modo, que as suas margens de comercialização são superiores ao desconto geral de 50% concedido durante um dia.
Três horas depois, volto a ouvir na mesma antena a parte final da informação de alguém (não percebi quem) do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Indústrias Agro-Alimentares acerca das margens recolhidas nos hipermercados: 70% na alface frisada, 60% nas cenouras, 45% na pêra rocha, ... Não garanto a exactidão dos valores mas garanto que eram desta ordem de grandeza. A informação prestada referia-se a sondagens feitas durante o mês de Março.
Mais duas horas depois, o ministro da Economia à pergunta sobre o que pensava sobre o assunto respondia que esperava pelos resultados do relatório da ASAE, mas acabou por dizer que tal tipo de campanhas eram comuns em outros países.
Cerca das quatro horas da tarde estou bloqueado no meio de um engarrafamento de trânsito provocado por uma manifestação de agricultores (umas centenas, informava a rádio) reclamando mais apoios do governo e legislação que lhes permita maior capacidade negocial com os compradores dos hipermercados.
Da Autoridade para a Concorrência não se ouviram notícias.
Em conclusão: Se não houve dumping, e é o Pingo Doce que garante que não houve, só são possíveis margens arrecadadas daquele tamanho se há acordos tácitos entre os grupos concorrentes. Porquê perseguir a prática de dumping (aliás penalizada de modo simbólico - até 30 mil euros) se o Pingo Doce implicitamente confessa que a concorrência não funciona no sector? Afinal para que pagamos aos observadores dos mercados agrícolas e das indústrias agro-alimentares se eles observam e se calam? E a Autoridade para a Concorrência, que dorme. E o ministro, que diz que não diz mas diz o que não devia dizer. E o ministério da Agricultura que continua a não saber ir além dos mistérios dos subsídios.
Três horas depois, volto a ouvir na mesma antena a parte final da informação de alguém (não percebi quem) do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Indústrias Agro-Alimentares acerca das margens recolhidas nos hipermercados: 70% na alface frisada, 60% nas cenouras, 45% na pêra rocha, ... Não garanto a exactidão dos valores mas garanto que eram desta ordem de grandeza. A informação prestada referia-se a sondagens feitas durante o mês de Março.
Mais duas horas depois, o ministro da Economia à pergunta sobre o que pensava sobre o assunto respondia que esperava pelos resultados do relatório da ASAE, mas acabou por dizer que tal tipo de campanhas eram comuns em outros países.
Cerca das quatro horas da tarde estou bloqueado no meio de um engarrafamento de trânsito provocado por uma manifestação de agricultores (umas centenas, informava a rádio) reclamando mais apoios do governo e legislação que lhes permita maior capacidade negocial com os compradores dos hipermercados.
Da Autoridade para a Concorrência não se ouviram notícias.
Em conclusão: Se não houve dumping, e é o Pingo Doce que garante que não houve, só são possíveis margens arrecadadas daquele tamanho se há acordos tácitos entre os grupos concorrentes. Porquê perseguir a prática de dumping (aliás penalizada de modo simbólico - até 30 mil euros) se o Pingo Doce implicitamente confessa que a concorrência não funciona no sector? Afinal para que pagamos aos observadores dos mercados agrícolas e das indústrias agro-alimentares se eles observam e se calam? E a Autoridade para a Concorrência, que dorme. E o ministro, que diz que não diz mas diz o que não devia dizer. E o ministério da Agricultura que continua a não saber ir além dos mistérios dos subsídios.
1 comment:
Tem razão quando diz que em Portugal anda muita gente a dormir.
O que fazia falta aos senhores(as) que se sentam e movimentam nos gabinetes e corredores ministeriais/parlamentares e noutras dependências era um "banho diário de povo" nos transportes públicos. Tinham uma noção directa da vida real do povo português e não atribuíriam tanta importância sanccionária ao acontecimento. Podiam usar toda essa energia para corrigir os males da nossa sociedade.
No dia 2, num destes transportes entre o centro da cidade e a Estação do Oriente ouvi uma conversa sobre os saldos do PD, entre duas senhoras que entraram na zona de Chelas e que iam até ao Parque das Nações onde trabalham para várias patroas das 8h às 20h (patroas sortudas que chegam a casa e têm a casa limpa e o jantar pronto).
Disse uma delas que no fim do mês, depois de pagar todas as despesas da casa não lhe sobram 100 euros para as compras do supermercado; que a filha já se queixa por não terem televisão em casa porque o descodificador para a TDT foi considerado uma despesa supérflua; que o telemóvel dela basicamente só recebe chamadas.
A outra disse que ainda tentou entrar no PD mas não conseguiu, mas que a irmã entrou com o marido e a filha. Os produtos que eles compraram foram listados oralmente à amiga. A lista tinha: dúzias de pacotes de leite, arroz e massas, enlatados de várias espécies, bolachas, batatas fritas, flocos e papas de cereais, azeite e óleo, cerveja, detergentes e vários produtos de higiene doméstica e pessoal. Ainda pensaram em levar vários produtos frescos mas, como viram que a espera era muito demorada nas caixas, só compraram frangos que tiveram que ser cozinhados nessa mesma noite. Também referiu que algumas pessoas consumiram parte do que levavam no carrinho enquanto esperavam na fila da caixa. Que o que causou a balbúrdia, o que as TVs mais mostraram, foi a falta de educação de uns quantos que no bairro já são conhecidos pelos comportamentos quezilentos, mas que não houve assim tantos desacatos na loja onde os familiares estiveram. Segundo ela era só a "confusão dos saldos".
Quando, entre outras críticas negativas ao acontecimento, ouvi uma referência aos 80% de lucro das empresas de distribuição (que somente considera o valor de venda do produtor e o preço na superfície comercial) surgiram-me as seguintes dúvidas:
O que é preferível, ter prejuízo com as prateleiras cheias de produtos que têm prazos de validade e não se vendem, ou esgotar o stock minimizando o prejuízo fazendo saldos/promoções?
E quanto custa transportar, armazenar, refrigerar, transformar, empacotar, publicitar e vender estes produtos aos consumidores em locais próximos da suas residências nas cidades?
Quantas pessoas trabalham para as cadeias de distribuição?
Porque é que os produtores preferem fazer acordos de consignação com as cadeias de distribuição e não vendem directamente os seus produtos aos consumidores?
Que montante é pago anualmente pelas cadeias de distribuição em impostos directos e indirectos?
O que acontece se desaparecerem estas superfícies comerciais?
É que eu lembro-me dos tempos em que havia só em quantidades limitadas os produtos da época e por vezes a preços com margens de lucro muito superiores a 80% do custo de produção. Iogurtes nem vê-los; leite vendido porta a porta e tinha que ser coado e muito bem fervido; só 1 a 2 refeições com carne e/ou peixe durante a semana; vegetais frescos plantados na horta/quintal por vezes trocados por ovos, galinhas e coelhos, e vice-versa. Diariamente, comia-se pão e mais pão, sopas, batatas e couves, e se houvesse, carne e alguns enchidos de produção própria. Chocolates, bolachas, bolos eram luxos para os dias de festa e só se fosse possível comprar. Não é à toa que os jovens actualmente são mais altos do que os jovens dessa época.
E quanto tempo era necessário dispender para conseguir reunir esses alimentos limitados? Hoje bastam duas horas num supermercado para fazer as compras do mês inteiro.
Deixo as minhas dúvidas para reflexão. Cumprimentos
M. Ribeiro
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