O momento é duro, e havia exposição do banco à dívida grega.
- Esse problema foi resolvido assumido nas contas do ano passado. Temos é pela frente exigências de recapitalização que não estão cumpridas e existe uma situação do país que não vai resolver-se no curto prazo. Os bancos tiveram um prejuízo grande. Com aquele problema do envolvimento do sector privado no perdão da dívida, que foi feito naqueles termos. (da entrevista a A. Santos Silva por C. Ferreira Alves - Revista Expresso - 9/6/2012)
(Agora, pergunto eu aquilo que a jornalista do Expresso esqueceu. As respostas de A. Santos Silva retiradas da entrevista de CFA e são transcritas em itálico pequeno).
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Mas por que razão arriscou o BPI investir na dívida grega?
- (O BPI) fez o que muitos bancos fizeram depois de 2007 e da falência do Lehman Brothers, depois da crise dos mercados monetáríos, quando o dinheiro deixou de circular entre os bancos, foi investir em dívida soberana do euro, porque era a maneira de terem a sua liquidez a gerar algum rendimento, baixo.
Mas porquê na dívida grega? Se o objectivo era investir em dívida titulada em euros, porquê não noutra dívida soberana? A alemã, por exemplo.
- As bunds já nessa altura pagavam um rendimento baixíssimo. A dívida grega era a que remunerava melhor.
Essa teria sido uma boa indicação para o BPI ter avaliado melhor o risco que corria, não?
- Nenhum banco da zona euro pensou que podia estar em causa a solvabilidade de qualquer país da zona euro.
Se assim fosse, se não houvesse esse risco, como é que o BPI, e os outros bancos a que se refere, interpretaram o aumento do prémio de risco da dívida soberana grega?
- As regras que existiam até setembro do ano passado eram que a dívida soberana que tínhamos de forma estável não era desvalorizada de acordo com o mercado, era valorizada pelo capital que no vencimento nos ia ser reembolsado.
Que regras eram essas?
- O cumprimento anterior.
É das regras que "os rendimentos passados não garantem rendimentos futuros". Ou não?
- Em setembro, uma coisa que se chama European Banking Authority, ( ) criou uma nova crise no zona euro, quando admitiu que os bancos podiam ter prejuízos sobre a dívida soberana que tinham nas suas carteiras. E que tinham de forma forma estável, e não especulativa. Isso criou a convicção em todos os que especulam sobre dívida pública que uma série de países iam sofrer mais.
Nessa altura, contudo, os mercados já cobravam um prémio de risco sobre as dívidas soberanas que eles consideravam mais vulneráveis. De outro modo a Grécia não remuneraria melhor as suas obrigações de dívida pública e o BPI não teria investido nela. O EBA limitou-se a constatar um facto ditado pelos mercados.
Decisão catastrófica. (observa C. Ferreira Alves)
- Catastrófica. Tomada contra a opinião de vários bancos centrais.
Vários bancos centrais são suspeitos de terem sido capturados pelos interesses políticos locais. O Banco de Espanha é o exemplo mais flagrante, também por ser o mais recente, da responsabilidade do banco central no avolumar dos riscos tomados por grande parte da banca espanhola É, aliás, por essa razão que se fala na centralização da supervisão bancária no BCE.
- Um Conselho Europeu achou, mal, que uma maneira de dar confiança nos bancos era que eles se recapitalizassem pelo montante necessário para cobrir a diferença entre o valor de mercado da dívida soberana e o valor que inicialmente tinham investido. E pior: além de considerarem valor da dívida em títulos do Estado, consideraram equiparados à divida soberana os créditos concedidos às autarquias.
As autarquias não são parte do Estado?
- São, e não são. Neste caso não são.
Quem é que decidiu nesse sentido, e porquê?
- A Alemanha, a França a Inglaterra. Porque tinham muita dívida soberana com mais-valias enormes. As menos-valias que tinham por exposição a dívida soberana a países que estavam pior eram superiores às que tinham em dívida própria. Todos os bancos alemães tinham dívida alemã ( ) tinham comprado quando a taxa de mercado estava a três e naquele momento o valor de rendimento da obrigação já só era dois.
Outros bancos, e em particular o BPI, procederam em sentido contrário. Tramaram-se (tramaram-nos).
- É indiscutível que em 2007 o mundo estava muito alavancado.
Culpa dos bancos.
- Com a crise de 2007 e 2008, os Estados procuraram aquecer a economia para combater a crise de confiança ( ) nos EUA ... na Europa, seguiu-se a mesma linha e passou-se os 3% do limite do défice, inscrito em Maastricht... Com a falência do Dubai e com as eleições da Grécia, a descoberta de que as contas gregas estão mal, a surpresa da dimensão dos problemas, não houve clara consciência do que se impunha fazer.
A prática de sonegar contas na Grécia era conhecida. Hoje toda a gente concorda que a Grécia manipulou as contas (aliás, com a assessoria técnica da Goldman Sachs) e que já o tinha feito para poder entrar na zona euro.
- A Europa não soube enfrentar a situação. ( ) Os políticos estão obcecados com o que pensam os eleitores do que eles fazem.
O senhor ocupou cargos governativos. Esteve na génese do PS, através da Acção Socialista. Nunca entrou, porquê?
- Considerava o programa demasiado radical.
Foi fundador do PSD. Por que saiu no "primeiro apeadeiro"?
- Prefiro ser independente. Houve uma quebra da qualidade da integridade política. É intolerável que alguém vá para o governo sem ser eleito para o Parlamento. Os intelectuais, os cientistas, os criadores que são os "novos descobridores" têm de participar mais e condicionar mais os políticos.
Tenciona ser candidato a deputado nas próximas eleições legislativas?
- Já dei para esse peditório em 1976. Agora sou condicionador.