Tuesday, June 05, 2012

UM BURACO AINDA MAIOR

No fim de Outubro de 2011 escrevi uma nota - O maior buraco vai começar a ser aberto dentro de pouco tempo - acerca da evolução do BCP (Millennium não pegou) um case study que se transformou num caso perigoso para os bolsos dos contribuintes.

Passaram-se sete meses. Vão começar os trabalhos.
Segundo o Negócios de hoje, para ajudar os bancos a cumprirem as novas exigências de rácios de capital, o Estado vai injectar um total de 6.150 milhões de euros no BCP, BPI e CGD. Montante pode atingir os 6.650 milhões em caso de insucesso no aumento de capital do BCP.

1650 milhões de euros para a CGD em acções e obrigações convertíveis (coco bonds)
1500 milhões para o BPI em obrigações convertíveis.

3000 milhões para o BCP em obrigações convertíveis. Mas pode ser mais (até mais 500 milhões) se os accionistas privados não subscreverem a parte ou a totalidade do aumento de capital que lhe está reservada. Neste caso, o Estado subscreve a parte não subscrita pelos privados a uma cotação, ainda não confirmada de 0,04 cêntimos por acção. A diluição provocará uma inundação de acções, passando das actuais 7 mil milhões para 19 mil milhões. O Estado será, de longe, o maior accionista, sem direito a voto.
Um absurdo promovido pela troica (ou Merkel), que obriga que o financiamento do BCE aos estados membros se faça através dos bancos e que a recapitalação dos bancos se faça através dos estados*.
 
No caso da Caixa o aumento é a fundo perdido. A menos que a Caixa fosse privatizada e os contribuintes  recuperassem mais este desembolso. Como o accionista é estúpido e o tutor conivente, o chairman continua regaladamente sentado e principescamente remunerado.
 
Quanto ao BCP, diz o presidente que o banco sairá reforçado, uma forma eufemística de dizer que, sem este calço, e que calço!, cairia dentro de pouco tempo. Calçado, quanto tempo se aguentará mais? Não sabemos. E não sabemos porque se desconhece a profundidade das imparidades não evidenciadas no balanço. Mas pode  suspeitar-se que são profundas uma vez que a subscrição do Estado será feita com um desconto de mais de 50% sobre a cotação em bolsa neste momento (abaixo dos 10 cêntimos).  
 
Relembre-se que o Estado garantiu, pelo menos, duas emissões de obrigações (vd aqui) do BCP: uma em Dezembro de 2011 de 1,35 mil milhões, outra já em Fereiro deste ano de 1,5 mil milhões. Tudo contado, o encravanço dos contribuintes neste buraco excederá já, segundo as minhas contas de somar e se não faltam parcelas, os 6 mil milhões de euros depois do aumento de capital.

Até ver o que ainda não se vê.
Há muitos que continuam a acreditar que, no caso do mostrengo que se chamou BPN, ninguém poderia prever o que iria acontecer.
Obviamente, ninguém, é gente a mais.
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Act- aqui: BCP fecha em mínimos abaixo de 9 cêntimos com dúvidas dos analistas sobre reembolso ao Estado.

Há coisas em que só não acreditam os fiéis.
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Correl. Resgate directo aos bancos também poderia implicar políticas condiciopnadas (Draghi - 9 /6)

2 comments:

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Acho que exageras.
Dizes bem que os fundos se destinam a cobrir os novos rácios (impostos pela EBA, Troyca e Banco de Portugal). Portanto, o capital destina-se apenas a cumprir fins de natureza regulamentar, administrativa. Sabes bem que os Bancos tanto funcionam com um rácio de solvabilidade de 10%, como de 8%. Claro que 10% é melhor do que 8%, há mais solidez, mas em caso de, por exemplo, uma corrida aos depósitos, tudo seria igual.
Dizes que o apoio se destina a cobrir imparidades. Não é assim, já que as imparidades foram suficientemente diagnosticadas e contabilizadas aquando dos dois stress test aos Bancos e reforçadas depois da Inspecção da Troyca. Claro que haverá mais imparidades, devido à crise na actividade económica. E aí o apoio obviamente que ajuda.
De qualquer forma, o apoio do estado é muito bem remunerado (7% a 9%)e, caso os "cocos" não sejam reembolsados, transformam-se em capital. Seria, nesse caso, um excelente negócio para o estado.
Como se chegou aqui? Há várias causas, mas a principal está precisamente no estado: os bancos estão cheios de dívida pública, que têm que contabilizar ao valor de mercado, registando as consequentes imparidades; por outro lado, há milhares de milhões de euris de crédito vencido(ou reestruturado) das empresas do estado, nomeadamente de transportes. No fim, o estado não tem dinheiro para pagar o que deve, mas tem dinheiro para emprestar a quem deve. A taxas mais elevadas do que, eventualmente, as debitadas às empresas públicas. É nestas engenharias financeiras tecnocráticas que vamos vivendo!...

rui fonseca said...

António,

Grato pelo teu comentário.
Que é mais do que isso, é um valor acrescentado ao meu apontamento simples.

E não tenho nada a contrapor ao que dizes, que não contraria o que eu digo, salvo num ou dois pontos:

Primeiro - Que existem ainda muitas imparidades por revelar demonstra-o as cotações em bolsa.
Se houver conversão dos cocos o número de acções passará para 19 mil milhões (cálculo da UBS), as quais, a 4 cêntimos, valor referido nas notícias e de que as cotações em bolsa vão a caminho, teremos uma capitalização bolsista de 7,6 mil milhões de euros.

Ora esse é um valor acima do valor actual do BCP. O mesmo é dizer que
se há uma entrada de capitais de 3,5 milhões (cocos, que poderão ser acções, mais acções) e o banco passa a valer o mesmo se, entretanto, não perder mais valor, deduz-se que o valor real do banco hoje é suspeitadamente negativo. Suspeitadamente porque ainda não revelado pelas contas do balanço.

Quanto à capacidade do banco reembolsar o Estado remunerando a entre 7 e 9%, oxalá o teu optimismo acerte e o meu pessimismo erre estrondosamente. Mas não creio que isso se vá passar.

Segundo - Não discuto as causas.
Penso, e digo no meu apontamento, que é um absurdo completo que o Estado, qual Joe Berardo, deva dinheiro ao banco, não lhe paga , e torna-se no maior accionista.

Para onde é que isto conduz? Se A deve a B, e não paga, e B deve a A, e deixa de pagar, mais tarde ou mais cedo tem de acontecer um encontro de contas, não?

Como B deve mais a A que A a B, A tem de ficar com B. No caso em concreto chama-se nacionalização.
E, se assim for, será um desastre maior do que os acontecidos até aqui.

Salvo melhor opinião.