Em nome do Estado acontecem situações repugnantes. Umas vezes do ponto de vista de uns, outras do ponto de vista de outros. Nunca a mesma coisa do ponto de vista de todos ao mesmo tempo. Ainda que se encontrem, frequentemente, de acordo os extremos por razões diametralmente opostas.
Ontem, na repetição do programa da Sic notícias à meia noite, os malfeitores reprovaram na generalidade a intervenção da PSP na intersecção de automobilistas suspeitos de terem impostos por pagar ou manifestações exteriores de riqueza sem declarações de impostos correspondentes.
- É uma intervenção espúria! (talvez as palavras tenham sido outras com o mesmo sentido). O que é que tem a ver a PSP com o ministério da Finanças? Isto é uma situação intoterável. Talvez até inconstitucional! - argumentou um que anda geralmente a sabor das circunstâncias
- Deixámos há muito de viver num estado de direito, confirmou a senhora do nariz arrebitado.
- É normal. Nos dias que correm o Estado está cada vez mais em toda a parte, disse o terceiro.
- É a perseguição aos pequenos delitos. Há quanto tempo andam a tentar legislar o fim do segredo bancário? Lembram-se? Pois é. Quando se trata de perseguir as fugas para os offshores a coisa é demorada; mas as medidas para apanhar os delitos menores aparecem de um dia para o outro, sentenciou o bloquista.
Estiveram, portanto, os quatro de acordo: é um abuso de poder colocar a PSP a colaborar com o fisco.
Uma perspectiva vesga em múltiplos sentidos (não há separação de poderes nos poderes do governo, a intersecção policial atinge também os carros de gama alta, etc.) que, no entanto, é susceptível de ser absorvida pela grande maioria dos que a ouviram, e que decorre do naipe de valores com que se joga na sociedade portuguesa.
Hoje:
- Quanto tenho a pagar?
- O senhor é sócio?
- Não senhora.
- São dezoito euros e três cêntimos.
- Quanto devo?
- O senhor é sócio?
- Sim senhora. Está aqui o cartão.
- São dezoito euros e três cêntimos.
- Não há desconto para sócios?
- Há. Esse é o preço para sócios.
- E se não fosse sócio, quanto pagava?
- A mesma coisa.
- ?
- Mas não levava factura.
- E qual é a vantagem?
- Pode ser interceptado pela polícia.
- E o que é que acontece a um cliente não sócio que seja interceptado pela polícia com a compra que aqui fez na bagageira do carro?
- O problema é dele.
- Mas se ele disser à polícia onde comprou?
- Nunca aconteceu.
- Mas se acontecer.
- Logo se vê.
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