Se o ódio tivesse cor, de que cor seria o ódio? Todas, mas a cada qual a sua.
Estivemos a rever Zorba, um retrato de Creta e das suas gentes em meados do século passado, filmado a partir da obra homónima de Nikos Kazantzákis, geralmente considerado o maior escritor e filósofo grego do séc. XX.
Há neste retrato filmado de forma excelente, que é uma ode ao hedonismo helénico, uma cena que brutalmente nos desvia para o pólo oposto, aquele em que a condição humana, subordinada, cultural ou circunstancialmente, à irracionalidade do animal que somos, é capaz de praticar os actos mais abomináveis: a da tentativa de lapidação da viúva seguida do seu assassínio por apunhalamento aplaudido por todos os residentes da aldeia, à excepção do deficiente mental. O contraste entre a dificiência mental, que chora sobre o cadáver da viúva caído no chão, e a irracionalidade extrema de uma sociedade humanamente subdesenvolvida, é inesquecível.
Passaram-se sessenta, setenta anos, quanto muito, mas a humanidade não está hoje menos potencialmente embrutecida que antes, apesar do desenvolvimento económico e social observado, em geral, em todos os cantos do planeta. Há sinais de erupções constantes desse vulcão de ódio semi adormecido que está no lastro de todas as civilizações, mesmo daquelas que se têm por mais desenvolvidas. Se a pressão das circunstâncias é suficiente para detonar a explosão, a corrente de lava de ódio cuspida não se desvia do caminho em que melhor avança.
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Estivemos a rever Zorba, um retrato de Creta e das suas gentes em meados do século passado, filmado a partir da obra homónima de Nikos Kazantzákis, geralmente considerado o maior escritor e filósofo grego do séc. XX.
Há neste retrato filmado de forma excelente, que é uma ode ao hedonismo helénico, uma cena que brutalmente nos desvia para o pólo oposto, aquele em que a condição humana, subordinada, cultural ou circunstancialmente, à irracionalidade do animal que somos, é capaz de praticar os actos mais abomináveis: a da tentativa de lapidação da viúva seguida do seu assassínio por apunhalamento aplaudido por todos os residentes da aldeia, à excepção do deficiente mental. O contraste entre a dificiência mental, que chora sobre o cadáver da viúva caído no chão, e a irracionalidade extrema de uma sociedade humanamente subdesenvolvida, é inesquecível.
Passaram-se sessenta, setenta anos, quanto muito, mas a humanidade não está hoje menos potencialmente embrutecida que antes, apesar do desenvolvimento económico e social observado, em geral, em todos os cantos do planeta. Há sinais de erupções constantes desse vulcão de ódio semi adormecido que está no lastro de todas as civilizações, mesmo daquelas que se têm por mais desenvolvidas. Se a pressão das circunstâncias é suficiente para detonar a explosão, a corrente de lava de ódio cuspida não se desvia do caminho em que melhor avança.
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Na segunda volta das eleições na Grécia, os partidos dos extremos (nazis de um lado, extrema esquerda do outro) conseguiram 41% dos votos. Nos locais de voto destinados aos agentes da polícia venceu o Aurora, o partido da extrema-direita.
Aristides Hatzis, professor de economia e leis na Universidade de Atenas, descreve no seu blog, aqui, num artigo também publicado no Financial Times de ontem, o clima de terror e ódio que hoje campeia na capital grega, sobretudo contra imigrantes.
Se os líderes europeus não forem capazes de perceber que este tenebroso vulcão entrou em actividade debaixo dos nossos pés, e que não se extingue com mais 750 mil milhões de euros para resgate da Espanha e da Itália, "Paracetamol" segundo Olli Rehn através do seu porta voz, mas por decisões políticas, de elevado risco, tenhamos consciência disso, a corrente cega e brutal de lava de ódio destruirá outra vez a Europa.
2 comments:
Rui, parabéns pelo texto.Não sabes só analisar teorias e fenómenos económicos (a tua especialidade e que não sei comentar)como estas situações político-sociais da misteriosa 'condição humana'. Citas um grande escritor do século passado - Nikos Kazantzákis - talvez agora pouco lido e que não chegou a merecer qualquer Nobel, e eu permito-me referenciar 2 outros livros extraordinários pela sua dimensão universal - 'Cristo recrucificado' e 'Liberdade ou morte'.As suas temáticas encaixam bem na cena da velhota e do doente mental do 'Zorba'.O filme, que lhe deu celebridade, tem uma bela realização e ficou conhecido pela originalidade da música, mas o livro... merece ser lido.
Obrigado Francisco!
É muita bondade da tua parte.
Quando é que vamos almoçar?
Abç
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