Monday, June 18, 2012

"CADA UM O QUE QUER APROVA"

O comentador tem banca aberta garantida na Antena 1, além do mais, todos os dias úteis, salvo se está constipado, um pouco antes das oito da manhã. Há vários anos. Houve tempo em que no comentário matinal alternavam várias perspectivas da espuma dos dias,  até ao dia que este a que me refiro conseguiu o exclusivo. Porquê, não sabemos mas podemos supor.
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Hoje, depois dos preliminares rebuscados com que sempre começa para enfeitar a prosa, entusiasmou-se com o sucesso dos países intervencionados na zona euro - Portugal, Espanha, Grécia - no Euro 2012. A Irlanda é a excepção, mas os irlandeses não perdem o pio mesmo nas derrotas. Aliás, eluciou ainda o comentador, se a Itália também passa aos quartos de final, e é provável que passe depois do jogo de hoje contra a Irlanda, teremos o sul da Europa, atormentado na zona euro, a bater a Europa do norte no Euro 2012. Safa-se, por agora, a Alemanha, mas a Grécia tem o imperioso dever de fazer o que deve e deitar abaixo os boches. O comentador, diga-se em abono da verdade, não utilizou o termo mas eu interpretei assim a sua fé anti germânica.

Resumindo: Se eles, os do norte, se dizem mais capazes e mais disciplinados, por onde param essas capacidades e essa disciplina dentro das quatro linhas dos estádios de futebol, se baqueiam frente ao sul? Só há uma explicação possível: em matéria de futebol os povos do sul devem ser, para este comentador, genitamente superiores aos do norte.
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"Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães ... o sertão está em toda a parte. " João Guimarães Rosa - Grande Serão : Veredas

O crónico comentador poderia ter feito um raciocínio diverso se correlacionasse o sucesso futebolístico e sucesso económico, do norte do sul. Se o fizesse, e ele é por demais evidente, concluiria que há uma correlação inversa: ao maior sucesso económico corresponde em geral menor sucesso futebolístico, em países com fortes tradições nesse espectáculo. E a explicação é também óbvia: o recrutamento dos ases da bola é feito sobretudo nos meios menos abonados.

Aliás, as equipas de futebol dos países mais ricos tendem a formar-se sobretudo com atletas imigrantes ou descendentes de imigrantes. Não por acaso, a equipa francesa que foi campeã do mundo e da Europa é contituída por africanos e os alemães contam com Gomez, de ascendência espanhola, como o seu principal goleador.

Por outro lado, poderia correlacionar o número de estádios de futebol por milhar de habitantes e, facilmente concluiria que essa relação é em Portugal muito superior à observada na Noruega, na Suécia, na Finlândia (em contrapartida na Finlândia, por exemplo, existem muito mais escolas superiores de música), na Dinamarca, na Áustria e mesmo na Holanda, onde o futebol é também o desporto nacional.   

Poderia, pois poderia, mas interessava-lhe demonstrar não percebi bem o quê. Superioridade genética do sul para o ponta pé na bola?

As convicções de superioridade genética, no futebol e em tudo o mais, estiveram na origem de muitas guerras na história da humanidade. Nas das duas guerras mundiais, por exemplo.    

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