Friday, June 29, 2012

OS ABUTRES

Trabalhou durante mais de 40 anos. Algumas poupanças tinha-as confiado a uma sociedade de gestão de activos financeiros, supervisionada pelo Banco de Portugal. Na sociedade trabalhavam algumas pessoas conhecidas, um deles tinha sido professor assistente na universidade onde se licenciou. De um dia para o outro aconteceu-lhe o que aconteceu a muita gente: viu que tinha perdido grande parte das suas poupanças. Mas não tinha perdido tudo. O contrato de gestão que assinara com a sociedade financeira não tinha sido respeitado por esta.
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Recorreu aos tribunais, os tribunais deram-lhe razão. Houve recursos da outra parte, continuou a ter as decisões da justiça do seu lado. Em qualquer parte do mundo onde a justiça seja o que deve ser, ter-lhe-iam sido entregues os valores  a que tinha direito. Não, em Portugal.

O banco central, na qualidade de regulador e supervisor das actividades bancárias e parabancárias, designou um grupo de peritos para proceder à análise e apuramento dos salvados. Já lá vão anos sem resultados apurados nem notícias de quando possam emergir. Entretanto, os custos da liquidação, que incluem os honorários do grupo liquidatário e as rendas das instalações em que se albergam, progridem a passos largos e a carcaça em avaliação desaparece a olhos vistos.

Olha desesperado o desaparecer da esperança em cada dia que passa de reaver alguma parte das poupanças de uma vida inteira de trabalho, que possa sobrar da gula dos liquidatários.

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