Há dias o primeiro-ministro foi à AR reafirmar aos deputados a sua confiança total no chefe das secretas porque, disse, não tinha nenhumas razões para proceder em contrário. O secretário-geral dos Serviços de Informação da República fez o que devia fazer, garantiu Passos Coelho.
Hoje a primeira página do Expresso é dominada pela afirmação que destitui as convicções do chefe do governo a respeito do comportamento do chefe das secretas.
Alguém está a mentir: ou o Expresso, que denuncia a obstrução do secretário-geral das secretas à investigação da verdade, contrariando as informações que, a esse respeito, chegaram ao conhecimento de Passos Coelho, ou o chefe das secretas que iludiu o chefe do governo acerca da sua intervenção no caso, ou Passos Coelho que, por razões inconcebíveis, pretende manter a todo o custo o secretário-geral das secretas no cargo. A intenção do chefe do governo esclarecer o imbróglio das secretas e o envolvimento do seu ministro-adjunto vai sair-lhe pela culatra se urgentemente não for provado que o Expresso está mentir.
Pode lamentar-se que, recorrentemente, a justiça popular, frequentemente incitada pelos jornalistas, se sobreponha ao apuramento da verdade em sede própria. Pode lamentar-se que as fugas de informação não poucas vezes acabem por beneficiar os infractores. Pode lamentar-se que o segredo de justiça seja violado por aqueles a quem compete guardá-lo. Mas não pode o chefe do governo garantir que quem mentir deve sair, e não sair ninguém. Porque, mais tarde ou mais cedo, a força das badaladas acabará por se impor à ronha das secretas.
Há treze anos, Guterres nomeou Veiga Simão para Ministro da Defesa em Novembro de 1997 e, em 28 de Maio de 1999, "O Independente" publicava a lista dos espiões (com os nomes riscados) ao serviço do recém-criado Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e Militares, enviada à comissão parlamentar de defesa (22 deputados), integrando um relatório, que não tinha sido pedido, sobre operações efectuadas pelo SIEDM, especificando, além da identidade, os estudos, o cargo e o país de colocação de todos os funcionários dos serviços secretos. Alguém tinha feito escorregar ridiculamente o ministro. O escândalo ridicularizou os serviços secretos militares portugueses junto dos membros da NATO.
Veiga Simão demitiu-se nesse mesmo dia, acusando, três anos mais tarde, Guterres de "postura imoral" por permitir "calúnias e vexames a um seu colaborador".
São situações diferentes, pois são. Mas detrás de ambas é o sentido de estado dos protagonistas que está posto em causa. Se alguém está a mentir deve ser demitido, disse Passos Coelho. Proceda então como promete.
2 comments:
Ainda não descobriu que sentido de Estado é coisa que nesta " democracia" já não existe ?
Acredito que haja.
E, afinal, tudo depende de nós.
Por enquanto, pelo menos.
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