Habituem-se!, disse sibilinamente o crânio (o atributo foi dado por Inês Pedrosa) logo que foram conhecidos os resultados que davam a vitória ao animal feroz (auto atributo).
Ocorre-me aquele aviso a propósito da provável vitória do Syriza nas eleições gregas de hoje a quinze dias. Até lá há um apagão nas sondagens. Das últimas conhecidas, umas davam a vitória do bloco de esquerda Syriza, outras aos conservadores da Nova Democracia. Perante a iminência de um caos político mais cerrado do que aquele com que se depararam os gregos após a primeira edição destas eleições legislativas, à superfície nada de novo.
Rajoy garante que a Espanha não está à beira do precipício, propõe (ou pede?) a criação de uma autoridade fiscal europeia, Merkel recomenda-lhe que solicite ajuda externa para safar o sistema financeiro à beira de se estilhaçar de vez, Draghi subscreve a ideia da fiscalização europeia dos bancos e a garantia europeia dos depósitos, Hollande eclipsou-se. Van Rompuy e José Barroso limitam-se a ensaiar uns passos em falso.
E se Tsipras sai vencedor no próximo dia 17, arrebata o bónus dos 50, e consegue a maioria absoluta ou fica por lá perto? E, coerentemente com o que promete, denunciar os acordos de ajuda externa? O que farão Merkel e os dezasseis anões? E os outros dez? E o que fará Tsipras se formar ou influenciar o próximo governo de Atenas se ficar isolado e sem fundos para pagar os compromissos do estado? E se houver corrida aos bancos? E se não houver governo, haverá coronéis?
É difícil acreditar naqueles que garantem que não existe nenhum plano B para a eventual saída da Grécia da zona euro. Até porque, por outro lado, outros (ou os mesmos?) garantem que a saída da Grécia da zona euro teria efeitos colaterais menos dramáticos do que aqueles que ocorreriam se essa saída se tivesse processado há um ano atrás. Talvez. Mas a eventual vitória de Tsipras (em qualquer caso ele sairá sempre vencedor porque nenhum governo minimamente estável poderá ser constituído sem a sua participação) provocará um abanão na União Europeia de uma magnitude a que os seus líderes nunca estiveram habituados.
A simples hipótese da chegada ao poder de uma formação heterogénea de esquerda, onde não faltam grupos radicais, que é tão insólita quanto provável, deve estar a ser monitorada ao minuto de modo a serem desencadeadas as acções que evitem o descalabro global. O tal plano B que Olli Rehn refutou deve estar pronto a ser accionado. E se não estiver?
Esteja ou não esteja, a União Europeia sofrerá de hoje a quinze dias um abanão.
Talvez esteja a precisar dele. Afinal, talvez lhe falte um animal (realmente) feroz!
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