Friday, June 15, 2012

QUE UNIÃO POLÍTICA, FRAU MERKEL?

Merkel tem vindo a repetir nas últimas semanas a sua proposta de união política da Europa, como se refere neste  resumo da sua intervenção de ontem no Bundestag.

Com Sarkozy, propõs um governo económico. Nunca lhe conhecemos os contornos. Agora, com Hollande na presidência francesa, e a união à beira de estilhaçar-se, parece sondar a sensibilidade alemã e a dos outros europeus a uma ideia que tanto pode ser ambiciosa, talvez até ambiciosa demais se a tomarmos nos seus precisos termos, como não passar de um balão de ensaio. 

Porque, ao mesmo tempo que propõe essa ideia vaga de uma união política, Merkel finca-pé na prioridade à austeridade imposta aos países económica e financeiramente fragilizados, o objectivo de unir politicamente os europeus sem enunciar como nem quando presta-se às mais variadas leituras possíveis.

O que parece estranho, contudo, é que uma ideia destas não mereça uma discussão generalizada e uma pergunta óbvia que ainda não foi feita: Que união política, Angela Merkel? Em vez dessa pergunta óbvia, ouve-se uma conversa de surdos. Merkel apoia a proposta de supervisão dos bancos pelo BCE mas rejeita a globalização das garantias dos depósitos.

Ora sem globalização das garantias bancárias pode ser evitada a corrida generalizada com massivas injecções de liquidez no sistema (previstas se os resultados das eleições gregas do próximo domingo derem a vitória ao Syriza e Tsipras fizer o que prometeu: renunciar unilateralmente os compromissos assumidos como contrapartida da ajuda externa) mas não se evita a continuação da drenagem de depósitos para bancos mais seguros, alemães, sobretudo. Nem se inverte essa situação insustentável que permite à Alemanha financiar-se a taxas de juro negativas enquanto os países fragilizados persistentemente ameaçados também em consequência dessa drenagem os pagam com língua de palmo.

Se Alexis Tsipras promete aos gregos o melhor dos mundos (manter-se no euro e renunciar a dívida externa) todos os outros, por razões diversas ouvem Merkel e assobiam para  o ar, e ninguém pergunta a  Merkel  em que união política, e para quando, está ela a pensar.   

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