Saturday, October 13, 2012

ACERCA DA ECONOMIA DE VIZINHANÇA

Tenho apontado neste caderno algumas notas sobre a necessidade de promover a divulgação do interesse individual que passa pelo interesse comum sustentado numa atitude do consumidor preferir o que é produzido em Portugal ainda que, eventualmente, o preço seja aparentemente mais elevado ou a qualidade menos atraente. Entre outras ocasiões, referi-me aqui ao tema. 
 
João Duque, presidente do ISEG, aborda hoje o assunto na sua coluna habitual no Expresso/Economia, e, através de um exemplo trivial demonstra que a opção pela compra de produções importadas, preterindo as produções portuguesas, por razões comparativas dos preços nos locais de venda, pode redundar numa perda efectiva para o nosso país e, no fim de contas, para o consumidores portugueses, individualmente considerados, que acabam por pagar a diferença aumentada em impostos com que se subsidiam os desempregados.
 
Como sempre sucede, estas questões são mais fáceis de teorizar do que levar à prática. Por um lado, como Duque refere, as aquisições feitas em nome do Estado têm de subordinar-se, geralmente, ao princípio do melhor preço sob pena poderem ser considerados suspeitos de outros interesses os agentes adquirentes. Por outro lado, porque a indicação ostensiva de preferência pelos produtos nacionais é  considerada infracção às regras comunitárias de concorrência.
 
Mas nada obsta a que os cidadãos não sejam informados acerca dos custos que realmente pagam quando negligenciam o conceito de economia de vizinhança e o interesse comum na entreajuda entre vizinhos. Bastava que a RTP, que ocupa uma parte significativa das suas horas de emissão com programas medíocres  - O Preço Certo, por exemplo é paradigmático desta estratégia estupidificante -
dedicasse algum do espaço televisivo, com custos que todos somos obrigados a comparticipar, à informação do que está em causa quando não compramos os produtos nacionais.
 
Quanto às compras feitas em nome do Estado, como sugere João Duque,  é fundamental que  se demonstre à troica que a nossa recuperação económica, e, portanto, a nossa capacidade de honrar os nossos compromissos passa, além do mais, por alguma protecção temporária à produção nacional. Se não, será um exercício de solução cada vez mais impossível.

1 comment:

Anonymous said...

Curiosa teoria económica anunciada nos Estados Unidos.
O tipo chama-se Marc Faber. É analista e empresário. Em Junho de 2008, quando a Administração Bush estudava o lançamento de um projeto de ajuda à economia americana, Marc Faber escrevia na sua crónica mensal um comentário com muito humor:

«O Governo Federal está a ponderar conceder a cada cidadão o montante de 600,00 $. Se o gastarmos no Walt-Mart, vai para a
China. Se o gastarmos em gasolina, vai para os árabes. Se comprarmos um computador, vai para a Índia. Se comprarmos fruta, vai para o México, as Honduras ou a Guatemala. Se comprarmos um bom carro, vai para a Alemanha ou o Japão. Se comprarmos bugigangas, vai para Taiwan, e nem um centavo ajudará a economia americana. O único meio de manter esse dinheiro nos Estados Unidos é gastá-lo com putas ou cerveja, considerando que são os únicos bens realmente produzidos aqui. Eu já estou a fazer a minha parte...»

Resposta de um economista português, igualmente de bom humor:

«Estimado Marc: Realmente, a situação dos Americanos é cada vez pior. Lamento, no entanto, informá-lo que a cervejeira Budweiser foi recentemente comprada pela brasileira AmBev. Portanto, restam somente as putas. Agora, se elas decidirem mandar o dinheiro aos filhos, ele virá diretamente para a Assembleia da República Portuguesa, aqui em Lisboa.»