Saturday, June 30, 2007

ANGLER* - 2


O Washinton Post publica on line, e na íntegra, as quatro partes da grande reportagem que realizou acerca da influência de Dick Cheney na administração norte-americana durante os dois mandatos de George W. Bush, e, consequentemente, nos acontecimentos que mais têm marcado esta administração; e, para além dessa influência, a forma como, tirando partido de uma magistratura sem contornos muito definidos, alterou radicalmente o tradicional papel da vice-presidência norte-americana, sem peias nem limites.
.
ver em
.
http://blog.washingtonpost.com/cheney/?hpid=moreheadlines

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA - 4

O meu comentário ao "post" de Miguel Frasquilho deu que falar a outros comentadores do Quarta República. Até ao momento, porém, Miguel Frasquilho não comentou, mas eu não sou tão vaidoso que possa supor que embatucou ou que, por calar, consente. Como prometeu continuar a série com outros "post" talvez, pelo menos nas entrelinhas, venhamos a saber o que pensa sobre o que comentei, e a que acrescentei o seguinte:
.
Os meus amigos agarram-se com unhas e dentes ao consenso.
.
Abandonemos pois o consenso em nome da higiene democrática.
.
Não faço questão disso. Voltemos à proposta do Pinho Cardão: Corte-se na despesa e a despesa acabará por ser cortada.
.
Não é assim. A cada proposta popular corresponde, necessariamente, um custo a suportar. Se não fosse assim já tínhamos voltado, novamente, ao Jardim das Delícias.
.
Ora, em democracia, quem decide dos cortes é quem Governa. Se dizemos ao Governo corte lá nos impostos, o Governo diz que a proposta é populista porque não tem pés para andar.
.
Aliás, este ponto de vista é, muitas vezes, suportado por parte da Oposição. Qualquer que seja o Governo, qualquer que seja a Oposição.
.
Se recuarmos uns (poucos) anos vimos M Frasquilho defender o corte nos impostos no Programa Barroso e a M Ferreira Leite a aumentá-los no Governo Barroso.(Não, não compro a ideia que Barroso não sabia o estado em que Guterres tinha mergulhado as Finanças).
.
De modo que um Programa (uma proposta) não meramente populista implica que a cada proposta de redução de impostos corresponda uma proposta de redução de despesa equivalente.
.
E não estou a inventar nada: Ainda há bem pouco tempo o Congresso norte-americano apreciou (não sei se já aprovou) uma proposta com este alcance. Porque George W.Bush decidiu reduzir os impostos sem assumir compromissos com a redução da despesa. Resultado: aumentou o déficit para níveis que só uma economia como a dos EUA pode suportar. Até quando, resta saber.
.
Que os políticos façam tábua rasa da consistência das suas propostas, percebe-se, porque se habituaram a caminhar sobre areias movediças. Um blogger tem (deve) ter sobre o político e os jornalistas essa vantagem: Ninguém lhe encomendou a sua opinião e ninguém (o que é mais importante) lhe vai dar sequer qualquer tostão furado por ela.

O PAPEL DA CHINA - 4


O mundo é um mundo de contradições. As sociedades mais ricas, que são também as mais liberais, têm vindo a apoquentar-se com a concorrência da China suportada pelo "dumping social", e clamam por regulamentação global.

A girl works at a kiln in Yuncheng, China. A law approved by legislators in Beijing contains safeguards for workers. (Associated Press)
.
A China parece que, só agora, começa a dar-se conta das situações esclavagistas que sempre perduraram no seio do sistema que a libertou do feudalismo.
.
China Enacts Stronger Labor Law
New Rules to Protect Abused Migrant Workers

By Edward CodyWashington Post Foreign ServiceSaturday, June 30, 2007; Page D01

BEIJING, June 29 -- The Chinese legislature passed a law Friday to provide more protection to the millions of farm youths who leave home and become cheap labor in the factories and construction sites that have mushroomed in
China's booming economy.

The Standing Committee of the China People's Congress, in approving the law, presented it as a bulwark against widespread abuses of the often-uneducated migrant workers, such as forced labor, withholding of pay and unwarranted dismissal. The country was alarmed two weeks ago, for example, by the discovery that hundreds of Chinese were forced to work in conditions resembling slavery at dozens of brick kilns in
Shanxi province while local Communist Party officials did nothing to stop it.

In reaction, lawmakers at the last minute added a provision to the long-discussed labor code to mandate punishment for officials who are shown to be negligent or corrupt in allowing entrepreneurs to abuse workers. This and the unusual public rollout of the new law seemed designed to show the Chinese public that the central government of President Hu Jintao is determined to crack down on corrupt officials and protect those left behind by the swift economic growth of the past 25 years.

"The law is meant to protect the workers and their rights," Xin Chunying, who heads the Standing Committee's labor committee, said at a news conference. The Standing Committee is a permanent body of the China People's Congress, a legislature whose hundreds of provincial delegates meet once a year to voice approval for government policies.

Hu and his premier, Wen Jiabao, repeatedly have ordered crackdowns on negligent and corrupt local officials based on existing law, most recently after the kiln workers were discovered. Laws and regulations have long been in place to protect workers. But as is frequently the case in China, the enforcement of the rules has often been frustrated by collusion between local entrepreneurs and party officials eager to promote economic development and supplement their own bank accounts.

China forbids independent labor unions. The official All China Federation of Trade Unions, tied to the same party bureaucrats, functions as an arm of the government -- and thus of economic development -- more than as a watchdog for workers.

Legislators said one feature of the new law that might help workers is reinforcement of the requirement for detailed contracts spelling out what workers are entitled to in return for their time on the job. Construction workers in particular have found that frequently, after six months or a year on the job, their employers refuse to give them their pay, arguing that development companies ran out of cash and did not provide money to the construction companies.

Migrant workers -- as many as to 900 million have left farms to find jobs -- typically get dormitory-style housing and basic food as part of their benefits. They often work without pay until just before the Chinese New Year, when they are supposed to receive their back pay to enable them to return home and shower their families with gifts.

Friday, June 29, 2007

E SE, DE REPENTE, ACABASSE A DROGA? - 2

Em Janeiro, 9, de 2006 coloquei interrogação igual à deste "post" de hoje: E SE, DE REPENTE, ACABASSE A DROGA?. Tenho, entretanto, registado a mesma interrogação em outros "post", a propósito de outros temas.

.
Volto a ele, motivado por um "post" do Pura Economia , onde é comentado o negócio de drogas, remetendo para o Relatório deste ano da ONU, United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), sobre DROGAS E CRIMES.
.
Coloquei as seguintes interrgações:

...O negócio das drogas intriga-me, além do mais, porque nunca vi escrito algum acerca das consequências que teria para a economia mundial (e para a economia portuguesa) o colapso do negócio.
.
Trata-se, evidentemente, de uma hipótese meramente teórica(utópica se quiser), mas que, no fundo, pretende responder a esta questão: em que medida é que a economia depende do crime?Dito de outro modo: Se a si lhe fosse dado o condão de, com um simples gesto da vara mágica, poder acabar com o negócio da droga, brandia a vara?
.
Que consequências prevê que pudessem resultar do seu gesto?Sobre a economia portuguesa; sobre a construção civil, por exemplo.
.
Há muito dinheiro envolvido, segundo as estatísticas da ONU. Ele anda por aí. Por aí, por onde?
.
Resposta:

Do ponto de vista da análise económica, a actividade de produção e distribuição de drogas ilegais tem exactamente o mesmo efeito que qualquer outra actividade económica, legal ou não, prestigiada ou não: gera empregos, cria riqueza. A economia não consegue distinguir uma folha de couve de uma folha de coca. Os empregos que as actividades ilícitas criam e a sua contribuição para o PIB são importantes. Se desaparecessem teriam um efeito recessivo na economia. Os principais afectados seriam os que estão directamente ocupados na produção e comercialização - incluindo agricultores pobres da Colômbia, do Magrebe ou do Afeganistão. Indirectamente seriam afectados os negócios (em geral legítimos) onde os rendimentos desta actividade são aplicados.Não estou a defender a existência destas actividades: o lado puramente económico é positivo, mas há outros aspectos (sociais, médicos, etc) altamente negativos. Em todo o caso, dada a sua ilegalidade, não pagam impostos e proporcionam, por isso, rendimentos elevados. Há quem defenda a legalização do consumo com base neste argumento: uma vez legalizadas e sujeitas a imposto, o consumo de drogas diminuiria.Grande parte dos contributos dos países membros para a UE são estipulados em função do valor do PIB, incluindo uma estimativa da economia paralela. Esta (talvez 20 a 25% do PIB) inclui quer os biscateiros que fogem aos impostos e restaurantes que não passam facturas, quer a economia da droga.A classificação destas actividades como ilegais é legítima e deve ser cumprida. Não sei se o faria de um dia para o outro, mas fá-lo-ia de qualquer modo.
.
Pergunta:

Obrigado pelo seu esclarecimento.Contudo, suponho que a lavagem de dinheiro prefere mais umas actividades que outras. A construção civil é uma dessas actividades que, pela dimensão e pelo valor consistente que oferecem como contrapartida, deve ser das mais entusiasmadas para o efeito.Ora a economia portuguesa é muito dependente da construção civil. Se esta escorregar, a economia, em geral, corre sérios riscos de cair.Ou são fantasias minhas?
.
Se a economia da droga (e em geral de todas as actividades que recorrem ao branqueamento de capitais) é assim tão importante para a economia (percebi que não brandia a varinha mágica, pelo menos até fazer umas contas)não será essa a grande razão pela qual o combate à droga não intercepta se não uma pequeníssima parte do negócio? Dito de outro modo, não será por essa razão que, também a polícia ( ou seja quem for que o possa fazer), está relutante em brandir a varinha mágica?
.
Resposta:
.
Bem, os sectores económicos são como qualquer outro organismo: têm muito amor à pele. Nós também somos assim: se fosse por nossa vontade não morríamos nunca e ficaríamos cada vez mais ricos. Não faz sentido acusar um sector económico de "querer" isto ou aquilo. Também não sei se faz muito sentido exigir responsabilidade social às empresas. Essa responsabilidade reside nos indivíduos, que devem elaborar leis e normas para definir o que é legal ou ilegal, desejável ou indesejável, e atribuir incentivos ou desincentivos em função dessa definição.Parece que as polícias e os tribunais funcionam mal. Resta saber se devemos empurrar a responsabilidade disso para cima, para as "grandes empresas", para os "sectores económicos", etc. ou se devemos procurar a causa ao nível dos comportamentos dos indivíduos. Quantas leis e normas, incluindo coisas como o estacionamento automóvel, chegar a horas, trabalhar com diligência, quantas vezes por dia incumprimos isso ou encolhemos os ombros perante o incumprimento dos outros?Eu creio que a nossa grande dependência do sector da construção é má para a economia (independentemente de haver actividades de branqueamento de dinheiro associadas). Mas o que é que os cidadãos pensam disso? Estarão dispostos a aceitar as consequências de se redimensionar e modernizar esse sector? Já se sabe que os governos andam a toque de caixa dos lóbis (até os economistas têm modelos para explicar isso), mas ainda não percebi o que pensam os trabalhadores e os consumidores de tudo isso. Protestam e atribuem culpas mas não parece existir uma lógica por detrás de toda a agitação, a não ser talvez o desejo de manter tudo como está. E não me refiro à contestação de medidas governativas: aí protesta-se contra a diminuição de direitos, tudo bem. Mas supondo que o governo não fazia nada, o que é que a sociedade estaria a exigir? Eu não consigo saber. Às vezes faço esta pergunta a pessoas informadas e as respostas são confrangedoras.

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA (3)

Miguel Frasquilho volta a insistir na necessidade da redução dos impostos como forma, insubstituível, de relançar a economia portuguesa, em Quarta República
.
Fiscalidade e Competitividade (I) - Que mal, Portugal!...
.
Teve lugar no passado dia 12 de Junho, na Assembleia da República, o colóquio subordinado ao tema “Fiscalidade e Competitividade”, do qual fui um dos principais dinamizadores (grande surpresa, não é?...). Creio que correu muito bem, apesar de a data se ter situado numa altura terrível de feriados e pontes; a verdade é que a bonita Sala do Senado esteve sempre cheia e a comunicação social fez uma boa cobertura do evento. Que contou, entre outros, e a nível internacional, com a presença do Comissário Europeu responsável pelas matérias fiscais, o húngaro László Kovács, e também com o ex-Primeiro Ministro da Eslováquia, Mikulas Dzurinda, responsável pela espectacular reforma fiscal feita naquele país em 2004 – que tão bons resultados tem, reconhecidamente, vindo a ter. Cá do burgo foram oradores (por ordem de aparição) Luís Campos e Cunha, ex-Ministro das Finanças; Pedro Guerreiro, Director do Jornal de Negócios; Basílio Horta, presidente da API; António Lobo Xavier, Fiscalista; João Salgueiro, Presidente da APB; e Xavier de Basto, Professor Universitário.Como era minha convicção que iria acontecer, o colóquio mostrou bem como Portugal é pouco competitivo não só em termos globais, mas também, e muito especificamente, em termos fiscais. O que até foi reconhecido por Basílio Horta que, ocupando a posição de Presidente de uma agência ligada ao Governo, e sabendo-se como este campo tem sido maltratado por sucessivos Executivos no nosso país (sobressaindo, em minha opinião, o actual…), creio estar acima de quaisquer suspeitas…Para mim, que encerrei o colóquio em nome do PSD e fui moderador do painel em que falou o ex-Primeiro Ministro eslovaco, esta iniciativa foi muito gratificante, por três razões principais:(i) colocou no topo da agenda um tema que considero fundamental para o futuro da nossa economia, tendo resultado deste colóquio que a fiscalidade é, de facto, uma área que conta em termos de competitividade e atractividade;(ii) deu a Portugal a possibilidade de conhecer, ao vivo, o responsável pela experiência fiscal eslovaca, introduzida em 2004 e que, estando a ser extremamente bem sucedida, está a constituir um autêntico case study, não só em termos europeus, mas também mundiais; (iii) fez passar a mensagem (que para mim não é uma novidade…) de que Portugal não é, de facto, competitivo em termos fiscais – o que contribui, assim, para que não seja competitivo de todo. No entanto, desde colóquio resultaram, igualmente, três outros aspectos importantes, que por me parecer que merecem um tratamento mais pormenorizado, abordarei, individualmente, nos próximos posts.
.
Comentei:
.
Tenho ouvido e lido os seus comentários e as suas propostas frequentes no sentido da redução dos impostos.
.
O assunto tem merecido a atenção de muita gente, propondo uns a redução do número nas taxas, outros a redução do número de impostos.
.
Há dias o Prof. Campos e Cunha justificava a equação IRC=0, o Prof. Daniel Bessa defendia mais IVA e menos IRS.Não vi nem ouvi ninguém defender ONDE cortar na despesa. Ainda anteoentem dizia isto mesmo, num comentário aqui no Quarta República, ao meu amigo Pinho Cardão. Há quem defenda que é remédio santo cortar nos impostos para forçar a redução da despesa. Em princípio é, se não aumentar o déficit, está visto.
.
Acontece que nunca ninguém convencerá ninguém a baixar os impostos se não houver consenso acerca ONDE reduzir a despesa.Diz o meu amigo Pinho Cardão que há muto por onde cortar. Pois há.Mas é importante concordarmos ONDE.
.
Quanto a mim, por exemplo, cortava na Defesa. E V., por onde começava?

O PAPEL DA CHINA - 3


Tavares Moreira analisa no Quarta República os riscos políticos decorrentes dos desequilíbrios nas trocas comerciais decorrentes da globalização.
.
Transcrevo
.
Globalização: riscos políticos

Foi esta semana noticiado que o Governo Federal da Alemanha se prepara para criar uma agência com funções semelhantes às do EUA Committee on Foreign Investment (Cfius) .O Cfius é um organismo de tipo transversal, integrando representantes de vários Departamentos do Estado, incumbido de supervisionar o investimento estrangeiro podendo dirigir recomendações ao Presidente para bloquear investimentos estrangeiros que sejam considerados de risco para a segurança nacional .Assim aconteceu no ano transacto com a proibição da aquisição de alguns portos marítimos nos EUA por parte de um Fundo estrangeiro (de capitais árabes, salvo erro).O motivo apontado para esta próxima iniciativa do Governo alemão é o receio de que empresas ou fundos controlados por Governos de reputação democrática muito baixa - como é o caso da China, da Rússia e de alguns países produtores de petróleo - possam, com o enorme poderio financeiro que têm vindo a acumular, adquirir posições influentes ou mesmo de controlo em sectores económicos estratégicos.Este é claramente um dos riscos maiores da globalização: nem todos os países jogam com as mesmas regras e, em economias como a China, a Rússia e Arábia Saudita, é bem conhecido que a gigantesca acumulação de reservas está fortemente concentrada no sector público e como tal sujeita a controlo político.O investimento dessas reservas obedece em boa parte a motivações políticas (por exemplo manter um câmbio da moeda nacional artificialmente baixo) e pode facilmente transformar-se num instrumento de pressão política doutro tipo.Convém não esquecer que as reservas oficiais da China, por exemplo, ultrapassam já USD 1,3 triliões e estão crescendo ao ritmo quase inimaginável de USD mil milhões por dia!A este ritmo, a China durante o ano 2008 atingirá os 2 triliões de dólares em reservas, controladas pelo poder político e então pode comprar “quase tudo”.Veja-se, por exemplo, a força dos capitais chineses em África, para nós mais conhecida no caso de Angola, onde puseram à disposição do País vários milhares de milhões de USD – para começar.Daí que os Governos de economias muito mais abertas e sem o mesmo controlo político sobre a riqueza financeira tenham de se acautelar para não caírem na situação de “casa assaltada, trancas à porta”.A Globalização é muito “bonita” mas também tem destes riscos...
.
Comentei:
A questão da acumulação de divisas norte-americanas (não só, mas sobretudo)tem sido dos assuntos económicos mais debatidos de há alguns tempos a esta parte.
.
Na penúltima edição do Economist, mais uma vez o assunto é abordado e, mais uma vez, as opiniões não são, nem de longe nem de perto, coincidentes. Analistas ao serviço de reputadas instituições financeiras discordam entre limites que vão de 50% de subvalorizaçãon do yuan relativamente ao dólar até à sobrevalorização da moeda chinesa.
.
Afinal a medida de equilíbrio de uma taxa de câmbio é muito mais subtil que o câmbio via BigMac pode sugerir.
.
As discordâncias, contudo, não se quedam pela taxa de câmbio mas também pela vantagem em pressionar a China a deixar valorizar a sua moeda. Há quem veja na actual situação uma boa fórmula de proporcionar aos chineses o prazer de trabalhar, não receando os norte-americanos uma súbita queda do dólar que, se ocorresse, em consequência de uma inundação de dólares no mercado, traria maiores perdas para outros países que para os EUA.Entretanto, alguns avisos têm sido enviados: imposição de uma taxa alfandegária elevada sobre a importação de um tipo de papel com uma participação mais que negligente nas transacções entre os dois países, obrigatoriedade de destruir 400 mil pneus, supostamente não conformes com as exigências de qualidade, etc.
.
De tudo me assalta uma questão motivada por este seu "post" de hoje: Uma acumulação de reservas tem, pelo menos, um limite: aquele a partir do qual os seus detentores decidem livrar-se delas.Se a esses detentores não for possível adquirir activos imobiliários ou mobiliários em qualquer parte do mundo, que alternativas lhes restam se não deixarem de gostar de trabalhar tanto?
.
Quem ganha com isso?
.
Alguns sectores mais libertários, inspirados na Escola Austríaca, voltam a repor a ideia do retorno ao Padrão Ouro. Com a dimensão que os fluxos financeiros internacionais atingiram faz algum sentido esta proposta?

O NANI, O TONY E A ZÉZINHA

O Nani mudou-se para o Manchester, o Sporting arrecadou uns milhões, ficou toda a gente satisfeita com o negócio, incluindo os leões que viram parte dos seus problemas de caixa resolvidos. O Tony Blair foi ver o Papa, porque se converteu à religião da mulher. Ninguém protestou, cada qual é (deve ser) livre de adorar Deus como bem entende. Só a transferência da Maria José Nogueira Pinto para a equipa de António Costa levantou protestos e insultos de ambos os lados: do lado a que pertence e do lado para que se virou.
.
Quando, há muitos anos, o Pérides se transferiu do Sporting para o Benfica (ou terá sido ao contrário?) interroguei-me acerca do que era, afinal, o clube da minha preferência: Os adeptos, os jogadores, o estádio ou as camisolas. Mesmo contemporizando que é o conjunto, não pode negar-se que são (eram) os jogadores a referência mais marcante de um clube de futebol. Porque o que convoca (convocava) os adeptos são (eram) os jogadores, e não o contrário. Quanto às camisolas e o estádio são emblemas transmutáveis: nada impede que um clube não tenha um estádio próprio (dois estádios na segunda circular, em Lisboa, só são possíveis porque somos perdulários ou muito distraídos). De modo que, transferindo-se o Pérides para o inimigo, admissível se tornava que podiam os adversários de sempre trocar de jogadores todos os fins-de-semana, ficando eu sem saber por onde parava o meu clube. Um dia, anos mais tarde, fiz esta reflexão num almoço de amigos e conhecidos, e só não fui linchado porque tal prática passou de moda. As pessoas, diz-se, podem mudar de tudo mas não mudam de clube, e eu não sei, afinal, do que é que elas não mudam.
.
O caso Maria Josá Nogueira Pinto é, portanto, o único, destes três casos, sintomático da intolerância que atravessou a história e chegou aos nossos dias através de fundamentalismos de fé, que, como tal, não se suportam em argumentos racionais. Se MJNP é, como muita gente insuspeita testemunha, a pessoa indicada para dar seguimento à renovação da Baixa lisboeta por que razão não deve ser convocada?
.
Curioso é que são geralmente os mesmos que criticam (e com razão) o clientelismo partidário na nomeação para cargos da administração pública que atiram pedras à Zezinha, que aceitou, e ao Costa, que convidou.
.
Às vezes vejo o mundo ao contrário.

A GRANDE BATOTA








A Call for Competition

As No-Bid Deals Soar, House Panel Wants More Oversight

By Dana HedgpethWashington Post Staff WriterThursday, June 28, 2007; Page D01

Roughly half of the money spent on all federal contracts in 2006 was awarded with little or no competition, according to a congressional report released yesterday.
The report, prepared by the House Committee on Oversight and Government Reform for its chairman, Henry A. Waxman (D-Calif.), found that the federal government spent $412.1 billion on procurement last year. Of that, $206.9 billion, or 50.2 percent, was awarded through contracts that required either no bidding process, had limited competition or otherwise fell short of "full and open competition."

No-bid contracts alone amounted to $103 billion in 2006, a 43 percent jump from the previous year, the report said.

The report also said that audits and investigations had found that 187 contracts, valued at $1.1 trillion, "have been plagued by waste, fraud, abuse, or mismanagement."

Titled "More Dollars, Less Sense: Worsening Contracting Trends Under the Bush Administration," the report is the second since last year that Waxman has released examining government spending. He and other lawmakers have been highly critical of the contracting process and have proposed legislation they say will bring more government oversight to spending.

Waxman's report is based on information from Eagle Eye, a database of government contracts, audits and investigations by the Government Accountability Office and other inspectors general.
Industry representatives were critical of the report. Alan Chvotkin, senior vice president and counsel for the Professional Services Council, an industry trade group, said some emergency responses such as those after Hurricane Katrina make no-bid contracts necessary.

"You need to get food and supplies in there," he said. "Those are no-bid. They don't put out a solicitation and then ask for bids in seven days. No one would stand for that. There are some legitimate reasons for no-bids."

Chvotkin and other critics said Waxman's report may have mischaracterized some transactions as no-bid contracts. For example, after some contracts are awarded through competition, individual task orders connected with those contracts do not have to be put out for bid. But critics say Waxman may have counted those as no-bid, which would have inflated his numbers. "Everything is lumped together," Chvotkin said.

Larry Allen, executive vice president of the Coalition for Government Procurement, a trade group for government contractors, said Waxman "has his mind made up that the procurement system is broken, and he's looking at facts only in a way that supports that conclusion."

"This is one of those areas where you can cut it any way you want to make it look the way you want," Allen said.
The report noted that the $412.1 billion spent on procurement last year was more than double the $203.1 billion spent in 2000. Much of the increase has been driven by the wars in Iraq and Afghanistan and by homeland security, analysts say.

Over that six-year period, spending by the State Department rose most steeply: 280 percent, from $1.2 billion in 2000 to $4.7 billion last year. The Department of Homeland Security raised its spending from $3.5 billion in 2003, the year it was created, to $15.1 billion last year -- a 337 percent increase.

Among companies receiving procurement money, Lockheed Martin ranked highest in 2006, with $31.5 billion from 14,016 contracts. "Federal spending on this one company in 2006 exceeded the gross domestic product of 109 countries, including Iceland, Jordan and Guatemala," the report said.

Halliburton, the oil-services firm once headed by Vice President Cheney, was identified as one of the fastest-growing major contractors during the Bush administration. In 2000, Halliburton ranked 28th, receiving $763 million; in 2006, it was ranked sixth, receiving more than $6 billion.
Waxman has said that the large amount of spending requires strong oversight but points out in his report that the number of government acquisition workers has stayed relatively constant for the past six years.

"It's become a problem because we've lost a lot of control and oversight on government spending that's made it difficult to make sure federal dollars are being spent wisely," said Scott Amey, general counsel at Project on Government Oversight, a watchdog group.

"We're seeing that competition has become the exception rather than the rule," he said. "You're not being assured you're getting the best prices at that point."

Thursday, June 28, 2007

O INSUSTENTÁVEL DÉFICIT DEMOCRÁTICO - XIAMEN

Quando visitámos Berlim pela primeira vez, ainda antes da queda do muro, ficou-nos a sensação de que era insustantável que uma vizinhança cosmopolita e afluente, que vivia dentro do muro, não contagiasse a sociedade acabrunhada e economicamente deprimida que vivia à volta. A diferença, notória mesmo para os mais distraídos, entre um e o outro lado da cidade dividida, era tão ostensiva que não podia perdurar num tempo em que as ondas da rádio e hertzianas não tinham fronteiras e escapavam com mais ou menos facilidade à vigilância apertada da Stasi.
.
A queda do muro aconteceria três ou quatro anos depois.
.
As notícias que hoje são divulgadas acerca duma manifestação convocada por telemóveis em Xiamen, China, remetem-nos para Tiananmen e para a queda do muro de Berlim. Mas também para a posição assumida pelo primeiro-ministro chinês, que aqui transcrevi anteontem, e que demonstra inequívocamente que a China tem um problema urgente a resolver .
.
O espantoso crescimento económico chinês, sobretudo na última década, não pode deixar se não de impor uma revolução democrática. Que fracassou em Tiananmen (porque não era ainda o tempo da fruta madura) mas, muito provavelmente, deu mostras em Xiamen.
.
Notável é ainda o facto desta manifestação ter sido convocada a propósito de uma questão ecológica. É por demais evidente que uma parte da China (urbana, a mais desenvolvida economicamente, mas muito minoritária em termos populacionais) se descola cada vez mais do pelotão de mais de 1 bilião que vive nos campos. E esse constitui, sem dúvida, o maior handicap chinês para a continuação de uma evolução pacífica, mesmo tendo em conta a proverbial paciência que lhe injectaram nos genes.
.
Text Messages Giving Voice to Chinese


Opponents of Chemical Factory Found Way Around Censors


By Edward CodyWashington Post Foreign ServiceThursday, June 28, 2007; Page A01


XIAMEN, China -- By the hundreds of thousands, the urgent text messages ricocheted around cellphones in Xiamen, warning of a catastrophe that would spoil the city's beautiful seaside environment and foul its sweet-smelling tropical breezes.


By promoting the construction of a giant chemical factory among the suburban palm trees, the local government was "setting off an atomic bomb in all of Xiamen," the massive message sprays charged, predicting that the plant would cause "leukemia and deformed babies" among the 2 million-plus residents of this city on China's southern rim, just opposite
Taiwan.

Mobilized by cellphone, thousands marched in Xiamen against a new chemical plant. Authorities have halted the project. The environmental activists behind the messages might have exaggerated the danger with their florid language, experts said. But their passionate opposition to the chemical plant generated an explosion of public anger that forced a halt in construction, pending further environmental impact studies by authorities in Beijing, and produced large demonstrations June 1 and 2, drawing national publicity.

The delay marked a rare instance of public opinion in China rising from the streets and compelling a change of policy by Communist Party bureaucrats. It was a dramatic illustration of the potential of technology -- particularly cellphones and the Internet -- to challenge the rigorous censorship and political controls through which the party maintains its monopoly on power over
China's 1.4 billion people.

"I think this is a great precedent for China," said Zhong Xiaoyong, a Xiamen resident who, in his persona as the blogger Lian Yue, wrote extensively on efforts to stop construction of the factory.
Despite efforts by local Public Security Bureau technicians to block the cellphone campaign, thousands of people heeded the alarm during the last days of May. Despite warnings from city hall and a large turnout of uniformed and plainclothes police, they marched in hot, muggy weather through the streets of Xiamen to protest the chemical factory being built on Haicang, an industrial and residential island across a narrow strait from downtown Xiamen.


The demonstrations were largely peaceful, except for pushing against policemen lined up to stop the march, witnesses said. About 8,000 to 10,000 people participated the first day and half that many the second day. But something unprecedented occurred that gave the demonstrators a power even they had not envisioned: Citizen journalists carrying cellphones sent text messages about the action to bloggers in
Guangzhou and other cities, who then posted real-time reports for the entire country to see.

"The second police defense line has been dispersed," Wen Yunchao, one such witness, typed to a friend in Guangzhou. "There is pushing and shoving. The police wall has broken down."


Chinese tuned in to the blogosphere in great numbers, viewing written accounts and cellphone photographs. Sites carrying the live reports recorded thousands of hits. Some sites were knocked out by security monitors. But by then their reports had bounced to other sites around the country, keeping one step ahead of the censors. Many of those tuned in were traditional newspaper and magazine reporters whose editors were afraid to cover the protests because of warnings from the Xiamen party Propaganda Department.


"The Chinese government controls the traditional press, so the news circulated on the Internet and cellphones," Wen, also a blogger, said later. "This showed that the Chinese people can send out their own news, and the authorities have no way to stop it entirely. This had so much impact. I think virtually every media worker in China was looking at it and keeping up with it."
Wen said he and his friends have since concluded that if protesters had been armed with cellphones and computers in 1989, there would have been a different outcome to the notorious
Tiananmen Square protest, which ended with intervention by the People's Liberation Army and the killings of hundreds, perhaps thousands, in the streets of Beijing.

Scientist Snubbed, Blogger Steps In


The campaign against the Tenglong Aromatic PX (Xiamen) Co. Ltd. factory had started months earlier. Zhao Yufen, a U.S.-trained chemistry professor at Xiamen University and a member of the Chinese Academy of Sciences, had organized a petition in which she and 100 other signatories argued against the 300-acre, $1.4 billion factory complex.


The factory, being built by Taiwanese businessman Chen Yu-hao, was to make paraxylene, which is used in plastics, polyester and other synthetic products. Paraxylene can cause eye, ear, nose and throat irritations and, with prolonged exposure, damage to the nervous system. But Zhao's real objection was the danger of an accident. Such an eventuality was not without precedent. A chemical factory exploded in northern China in 2005, sending toxic chemicals into the Songhua River and fouling the water supply in the major city of Harbin.


Zhao also pressed her case with local officials and, in Beijing, with the National Development and Reform Commission. But with economic development as the party watchword, they were not moved. The government, including the State Environmental Protection Administration, had already approved the project, she was told, so there was nothing more to discuss.


He Lifeng, the Xiamen Communist Party secretary, was pushing hard to get the factory built. It would almost double the city's gross domestic product to $26 billion, officials here argued, making the deal a potential milestone on He's career path. Moreover, Chen, the Taiwanese owner, was known as an opponent of Taiwanese independence, thus a businessman to be cultivated.

A letter from He cited in the Oriental Weekly magazine, affiliated with the official
New China News Agency, urged people in the Xiamen government to disregard the objections. As a result, the Xiamen party Propaganda Bureau made sure the reservations of Zhao and others were not discussed in public. Instead, local newspapers and television news programs ran story after story on the economic benefits that would come to Xiamen because of the new factory.

"They only had positive news about it," recalled Zhong, the blogger known as Lian Yue. "They just said it was a great project. . . . But little by little, the news broke through the blackout."


One reason was Zhong, who used his blog to raise Zhao's questions and spread them among the Xiamen public. Zhong, 37, was making his living mainly by freelancing commentary to newspapers and magazines, and his wife, a lawyer, had steady work in the city. As a result, he was less subject to pressure from the Propaganda Department than his colleagues at Xiamen's newspapers and television stations, who risked losing their salaries, health insurance, housing subsidies and other benefits if they defied orders from the censors.


"They were afraid," he said. "As for me, I don't rely on any work unit, so I had less to worry about. If I had been working in a regular job, I couldn't have done it."
.
Interest Widens, Beijing Takes Notice

As Zhong and other Internet commentators spread the alert, reporters from national magazines started to show up in Xiamen to interview Zhao and report on the hazards. Inspired by the Propaganda Department, local newspapers ran stories about how the outsiders were practicing "yellow journalism" and harming Xiamen's reputation. Several of the national reporters said their editors were contacted by Xiamen's Propaganda Department and warned against running the story.

"They thought they could control the national media the same way they controlled the media in Xiamen," one of them recalled, speaking on condition of anonymity out of fear the Xiamen censors could still harm him or his editors.

The cellphone campaign, meanwhile, picked up momentum. Residents of Xiamen, whose gentle hills overlook a sun-splashed bay dotted with islands leading into the Taiwan Strait, have long been proud of their city's natural beauty; they were quick to mobilize against what they were being told was a threat to the environment.

Authorities in Beijing and Fuzhou, the Fujian provincial capital, also started to take notice. President Hu Jintao was about to travel to Germany for a meeting with leaders of the Group of Eight industrialized countries, where China's reputation as a polluter would be a topic of discussion, and this was no time for an embarrassing environmental dispute.

As a result, He and his party committee were summoned to Fuzhou on May 29 to review environmental studies carried out when the factory was approved in 2005. Since then, city officials acknowledged, residential neighborhoods had been allowed to rise near the factory site. A delay was agreed; He visited the construction site May 30 and said nothing would be harmed by taking a second look.

But by then the protest momentum had grown too strong to stop. Xiamen residents no longer trusted the government on the factory issue, participants said, and they feared the new study would only confirm earlier authorizations. The protest marches went off as scheduled, ignoring announcements by the Xiamen city government -- including one made while the demonstrators were in the street -- that the factory project was on hold.

"Protect our children's health," the banners read.
Xiamen authorities accused the marchers of violating the law. Well-intentioned citizens were being manipulated by troublemakers, the Public Security Bureau warned. Du Mingcong, vice director of the Xiamen People's Congress standing committee, expressed concern that demonstrating in such hot weather could "damage the participants' mental and physical health."
But such concern found no echo in Beijing. Pan Yue, deputy director of the State Environmental Protection Administration, said Xiamen should think again about the chemical plant. People's Daily, the Communist Party newspaper, ran a front-page editorial condemning local officials who had disregarded President Hu's admonitions to preserve the environment.

The message was received loud and clear here in Xiamen. Mayor Liu Cigui, speaking to reporters in Hong Kong, agreed that the project might have to be shelved. His spokesman, Shen Canhuang, said the decision had been deferred to the central government.

Professor Zhao, meanwhile, warned that the anti-pollution bureaucrats might consider only whether the plant endangers people living in the nearby housing developments. Although she declined a formal interview, saying it would have to be approved by the Propaganda Department, Zhao said in a telephone conversation that the real problem remains whether the plant should be built near Xiamen at all.

"This is for the environmental safety of Xiamen," she said. "Xiamen is special."

Wednesday, June 27, 2007

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA (2)

Os impostos, já se sabe, são uma praga de que só se livram os que não têm e os que se escapam.
,
O comum dos mortais não se livra deles nem da morte. É, portanto, natural que frequentemente apareçam no mercado remédios para reduzir uns e adiar a outra. Quanto aos impostos, não posso se não concordar que devem ser reduzidos, se possível, a zero. Mas não sei como isso se faz. Posso concordar que há quem viva muito melhor que nós pagando muito mais impostos mas, apesar disso, preferia pagar menos. Ora o meu amigo Pinho Cardão acaba de publicar no Quarta República um "post" que dá pelo elucidativo título O dia dia de um tanso fiscal .
.
Perguntei-lhe:
.
.
Quem ler este teu "post" e continuar a ver passar a procissão não pode regatear palmas aos andores.
.
Porque, meu caro Pinho Cardão, tu tens carradas de razão, desculpa o prosaico da rima. Já há dias, ao ler um outro "post" teu sobre a mesma praga, estive tentado a dizer o mesmo: Bem visto!
.
Pessoalmente, pus-me a fazer as contas, devo estar a ser esportulado para o Estado com nada menos de 60% dos meus recebimentos mensais. É demais!
.
De modo que, caro amigo, não é por esse lado que te vou incomodar, porque estou inteiramente de acordo contigo. Aparte aqueles que têm engenho e arte para escapar substancialmente a este saque (saberás, por exemplo, se o Berardo paga tanto do tanto que exibe?), a esmagadora maioria, está de acordo.
.
O problema começa, como bem sabes, do outro lado.Dizias tu há dias, e dizias bem, que a única forma de reduzir tanta gula do Estado é cortar-lhe na ração.Apoiado!Aliás, é prescrição infalível: se os gordos deixarem de comer terão, fatalmente, de emagrecer.
.
Há contudo, neste paralelo, uma incómoda diferença que nos baralha as contas: quem cortar nos impostos, fatalmente terá de cortar nas depesas. E aí é que a porca torce o rabo. A menos que proceda como o G.W.Bush e deixe crescer o déficit.Coisa que, irritantemente, também não nos resolverá o assunto: do que não formos sacados nos impostos seremos espoliados pela inflação.Ou não?
.
E chego aqui sem ter descoberto a pólvora: resta cortar na despesa.
.
Parece, no entanto, que a carga que nos carrega é, sobretudo, constituída pelos vencimentos dos funcionários públicos.Despedimo-los?
.
Por mim não vejo mal. Mas parece que é anti- constitucional.
.
Perdoa a rima e diz lá quem sai de cima.

NOTÍCIAS DA GUERRA DO PETRÓLEO

Conoco, Exxon Exit Venezuela Oil Deals

U.S. Firms Fail To Agree on Chávez's Terms

By Steven MufsonWashington Post Staff WriterWednesday, June 27, 2007; Page D01

Conoco Phillips is pulling out of its Venezuelan oil ventures after failing to agree on new contract terms with the populist government of President Hugo Chávez, and Exxon Mobil said it had also reached an impasse in negotiations there.

The stalemate follows the Venezuelan national oil company's seizure of majority stakes last month in four projects in an area containing one of the largest oil deposits in the world. The move was part of a wider effort by Chávez to boost state control over parts of the economy such as utilities, television and telecommunications. It also reflected a recent trend in some oil-rich countries, such as Russia, toward squeezing foreign oil companies to a point where many of them prefer to leave.

Four other major oil companies signed deals yesterday giving the Venezuelan state oil company 60 to 83 percent interests in their ventures. The companies were Chevron, Statoil, Total and BP.

The dispute is a blow for Conoco, which said it expects to take a $4.5 billion write-off this quarter while it continues to negotiate with Caracas over compensation. Fadel Gheit, an oil analyst for Oppenheimer & Sons, said Conoco would lose about 5 percent of its crude oil production and about 10 percent, or more than 1 billion barrels, of its total oil and gas reserves.
Exxon Mobil said in a statement that it was "disappointed" but held out some hope, adding that "we continue discussions with the Venezuelan government on a way forward." Exxon's share of crude oil produced by its Venezuelan ventures represents about 1 percent of the company's total; its Venezuelan reserves are less than 2 percent of its total.

The disputes will have no immediate impact on U.S. consumers, but analysts said that oil output in Venezuela could gradually decline because the state oil company, Petroleos de Venezuela, lacks the expertise to effectively manage the projects. Oil in the region that Conoco is quitting, known as the Orinoco Belt, is heavy, which makes it hard to extract and refine. Foreign companies have invested about $17 billion in heavy-oil projects that make up about a quarter of Venezuela's production.

Venezuela produces about 2.3 million barrels a day, analysts said, compared with 3 million barrels it produced daily before 2002, when a strike left the state oil company with fewer skilled workers.

The U.S. government greeted the news about Conoco and Exxon with dismay. "It's not just Venezuela," said Energy Secretary Samuel W. Bodman. "We have problems with Nigeria. We have problems with Russia with development of resources."

State Department spokesman Tom Casey said: "The government of Venezuela, like any other government, has the right to make these kinds of decisions to change ownership rules. We want to see them meet their international commitments in terms of providing fair and just compensation."

Oil analyst Gheit said that even before the May 1 takeover of controlling interests by the state oil company, the Venezuelan government had been squeezing foreign oil companies with a combination of new taxes and royalties. Last year Conoco said it earned about $800 million, or $21 a barrel, on oil it produced in Venezuela. In the first quarter of this year, however, it earned $27 million, or about $3.75 a barrel, Gheit said.

The increase in taxes in the first quarter could be intended to strengthen Venezuela's position if it goes to international arbitration to determine the value of the Conoco and Exxon operations, Gheit said. Chávez "can skew the value of these assets," he said.

Conoco's Venezuela production also dropped, to 82,000 barrels a day in the first quarter from about 100,000 barrels a day last year, because Venezuela imposed cuts as part of its agreement with other members of the Organization of the Petroleum Exporting Countries to bolster oil prices.

Shares of
ConocoPhillips fell $2.24, or 2.9 percent, to $75.80 in New York Stock Exchange composite trading. Shares of Exxon Mobil fell 55 cents, to $81.82.

A (FALTA DE) VISÃO DA CHINA

Os dirigentes chineses enfrentam um problema aparentemente insolúvel: como continuar a abrir a economia ao mercado sem avançar para democracia, burguesa segundo os seus conceitos.
Até quando será possível desenvolver uma sem consentir a outra?
.
Describing Vision for China, Hu Defends Reforms, Rejects Calls for Democracy

By Edward CodyWashington Post Foreign ServiceWednesday, June 27, 2007; Page A13

BEIJING, June 26 -- President Hu Jintao, in a solemn speech laying out his views, said that China's swift economic reforms must continue but that the Communist Party should retain its monopoly on political power for the foreseeable future.
Hu's declaration, made Monday at the Central Party School and splashed in the official press Tuesday, constituted a broad leadership platform for the 17th Party Congress scheduled in the fall, when Hu is expected to cement his leadership by placing trusted loyalists in key government and party positions.

In anticipation of the congress, debate has percolated behind closed doors in the 70 million-member Communist Party. Some old-line members, particularly academics, have advocated slowing the move toward a market economy, arguing that China has betrayed its socialist heritage. Other members, including academics but also former officials, have argued that the time has come for a political opening to match the economic reforms and that democracy is the only response to the social tensions increasingly visible among China's 1.4 billion people.

Hu, true to his reputation as a cautious bureaucratic operator, rejected the suggestions of change from both ends of the spectrum. With China's senior leadership at his side to add authority to his words, he vowed instead to hew to the down-the-middle course he has set since taking over as party leader from Jiang Zemin in 2002 and as president the following year. In U.S. political terms, he called for "staying the course."

"Reform and opening to the outside world are a requirement to liberate and develop socialist productive strength and create systems and mechanisms with vigor," he declared, using party jargon for the economic reforms set in motion by Deng Xiaoping. "The facts have strongly justified that the policy of reform and opening to the outside world is a path that must be taken in developing socialism with Chinese characteristics and revitalizing China."

But he also made clear that now is not the time for China to embrace democracy as commonly understood in the West. This has been a repeated theme of Hu's leadership. He and Premier
Wen Jiabao have asserted that China eventually will evolve a form of "socialist democracy" more in tune with its national characteristics.

"We have to insist on the party's leadership, the principle of people in charge and rule by law so as to push self-development and improvement of the socialist political system," Hu said.
To emphasize the importance the party leadership intended to give Hu's declaration,
People's Daily, the party newspaper, filled its front page with the speech, topped by a photograph showing Hu on a dais with other members of the decision-making party Politburo.

O QUE NÃO PARECE

(Isto não é um conto neo-realista serôdio)

Não sei o que é feito do Dionísio. Nunca mais o vi. Alguém sabe que é feito do Dionísio? Ninguém sabe. Um dia, o Dionísio desapareceu. Procuraram-no três dias por toda a parte, esvaziaram-se até os poços, sem resultado, podia ter-se afogado, há momentos na vida em que atirar-se um homem ao poço ou saltar de lá depende duma palavra. Passados meses, constou que tinha abalado para a Borda-d’água, talvez me tenha aparecido, como figurante, num daqueles romances neo-realistas dos anos 50, mas figurante é isso mesmo, só temos olho para os protagonistas. Desapareceu-me o Dionísio e desapareceram-me quase todos os outros. O único que ainda vou vendo, de vez em quando, é o Cansado. Se há outros sobreviventes, desapareceram deste mapa. Às vezes olho mais atentamente para uns cabelos brancos, uns peitos contraídos, umas pernas cambadas, uma olheiras inchadas, para tentar descortinar por detrás das fachadas degradadas algum sinal daqueles que um dia tiraram a fotografia de grupo: metade sentados no muro da cerca da escola, os outros à frente, quase todos convenientemente descalços para jogar à bola em pé de igualdade, três de casaco e gravata, e sapatos, obviamente. O Dionísio é aquele ali à esquerda, de boné na cabeça, as calças coçadas, de casaco herdado de algum irmão mais velho, quase da altura do Novais, o professor, que está do lado contrário. Não há nenhuma miúda no grupo, as miúdas tinham aulas ao lado, em sala com acessos separados.

Ao Cansado repesquei-o, há já alguns anos, pela boca: estava ele a comprar tabaco no local onde fui comprar o jornal, e identifiquei-lhe a voz, estava ele de costas. Quando se voltou, perguntei-lhe: És o Cansado, não és. Era. Fixou-me por alguns instantes, a rebobinar a memória, e depois demo-nos um abraço. Que é feito de ti? E de ti? Trabalho, não sei fazer mais nada, tenho três filhos e oito netos; E pôs-se a contar a vida de trinta anos em cinco minutos. Quem ouviu e sorriu ficou por demais ciente que o Cansado só era cansado de nome. Se o nome trouxesse sorte o Dionísio teria levado uma vida flauteada.

Quando chegámos à quarta classe, sentávamo-nos na fila em frente da secretária do professor, à esquerda do estrado e do quadro negro. À nossa direita, os da terceira, depois os da segunda, no lado oposto os da primeira. Reger aquela sinfonia a quatro andamentos desgarrados com alguma eficiência exigia muito pulso e alguma bondade. À tarde, enquanto os mais novos cantavam a tabuada da soma, os da segunda aperfeiçoavam a leitura, os da terceira faziam o ditado, e os da quarta faziam os possíveis para poder sair dali no fim do ano lectivo. De manhã pairava o silêncio sobre os da primeira que mordiam a língua a desenhar o abc, os da segunda e da terceira que faziam as cópias e as contas; Ouvidos abertos para o professor, só os da quarta, na ala esquerda da sala.

O professor Novais tinha-se casado há pouco tempo, e, às quartas e quintas, a mulher, que parecia mais da nossa idade que da dele, costumava estar na escola, depois do almoço. E ajudava no que podia, geralmente lendo o ditado ou corrigindo os exercícios de aritmética. Sentava-se ao lado do marido, junto à secretária, em posição pouco cómoda, que a obrigava a traçar e destraçar as pernas bastas vezes.

O Dionísio era o mártir da escola. Muito mais velho que nós, já tinha completado os catorze anos, continuava a não dar conta do recado, e era a maior vítima da palmatória que o Novais retirava sorrateiramente da gaveta quando eram horas de ajustar contas. Por razões que ninguém entendia, mas que gerava suposições várias, o professor Novais redobrava a força com que brandia a malvada nas tardes em que voltava para a escola de braço dado com a mulher. Era nesses dias que o Dionísio mais devia excomungar a sorte de ter nascido para se levantar às seis da manhã, fazer três quilómetros, descalço, para se apresentar na escola e levar pancada. À tarde, ou à noite, consoante a estação do ano, voltava para casa, os três quilómetros para cumprir depressa, em casa tinha afazeres atribuídos, quanto mais tarde se despachasse mais tarde se deitava, no dia seguinte recomeçava a penitência de pecados que não cometera.

Geralmente, os castigos impostos pelas leis do Novais endureciam-se com o aproximar do exame final. Três erros, seis reguadas; duas falhas na acentuação ou na pontuação, equivaliam a um erro para os fins ditados no ponto anterior. De modo que ao Dionísio não bastava, na maior parte das vezes, uma mão para lhe espiar os erros. Começava por estender a esquerda, mas, se a dose era pesada, avançava com a direita, alternando outra vez em casos extremos. Sem pestanejar. Quanto muito soprava nas palmas quase ensanguentadas, e às vezes sorria, suponho que para nos tranquilizar.

Porque o Dionísio era também o bom gigante que equilibrava as forças entre os mais espigados e arraia-miúda. Era ainda o professor de educação sexual. Habituados a ver procriar e parir os animais, a maior parte de nós não supunha, contudo, que era feito e parido segundo as mesmas leis. O Dionísio ria-se da ingenuidade à volta, e deitava por terra a ideia que as crianças eram compradas na feira, contando tim-tim-por-tim-tim o que sabia, e que não era pouco. Na passagem da segunda para a terceira já tínhamos todos a cadeira feita.

Foi por uma tarde de uma quinta-feira de Maio, tinha-se antecipado o Verão e fazia calor de trovoada, que, se não se deu um milagre, aconteceu qualquer coisa parecida: Era dia de revisão da matéria dada, e o Dionísio acertou em cheio em todas as perguntas, deu três quartos de erro no ditado, por sorte ou não, acertou que um certo se era integrante e não condicional nem reflexo, até disse cotilédones sem trocar as sílabas, as contas saíram-lhe certas, apontou no mapa, sem hesitações, a Gardunha, o Marão e o Espinhaço-de-Cão, soube onde nasce o Sado e onde desagua o Minho, explicou porque razão a terceira dinastia foi filipina. Com a folha limpa, pela primeira vez, o Dionísio não levou pancada. O Novais, se ficou intrigado, não tugiu nem mugiu, podia ter felicitado o Dionísio, mas não disse nada, como era seu hábito.

Acabadas as perguntas, foi o Dionísio sentar-se no seu lugar, que era na última fila, junto à porta, mesmo no enfiamento do lado onde se sentava a sôssôra (era assim que a tratávamos, mulher de sôssôr só podia ser sôssôra, segundo as regras) e as provas continuaram sem mais milagres. Se alguma coisa havia a reparar era o facto da sôssôra ter deixado de cruzar as pernas, mantendo-as ligeiramente separadas, e movendo o vestido por causa do calor; e ainda o facto de do Dionísio se ter apoderado um nervosismo pouco habitual nele, que atribuímos ao sucesso inesperado daquela tarde memorável. O certo é que o Dionísio, no curto espaço de alguns minutos, deixou cair o lápis três vezes para o chão, o que teria passado despercebido se ele não tivesse de se agachar para os apanhar, mas o despropósito quebrou-se com um olhar reprovador do professor Novais. Viemos a saber isto tudo, mais tarde, pelos da segunda classe, que se sentavam na fila ao lado, dadas as circunstâncias e as posições relativas, ninguém mais na sala deu pelo incidente, aliás irrelevante.

Quando, á noite, me perguntaram, em casa, o que é que tinha acontecido uma hora depois, eu contei que, de repente, o sôssôr tinha suspendido as perguntas que estava a fazer aos da quarta classe, e berrou alto: Dionísio! Chega imediatamente aqui!

Voltámo-nos todos para o Dionísio, que se levantou com algum vagar, a compor a fralda da camisa e a apertar o cinto. Chegado junto ao estrado, o Novais tirou a palmatória e o Dionísio estendeu a mão para uma série de reguadas que só terminou quando o castigado já não conseguia suster as mãos no ar. Então, o Novais arrumou cuidadosamente, como era seu hábito, a palmatória, e o Dionísio passou por nós, a chorar pela primeira vez, a caminho da porta.

Nunca mais o vi.

Tuesday, June 26, 2007

ANGLER *

O Washington Post está a publicar desde o passado domingo uma série de longos artigos acerca da personalidade do actual Vice-Presidente dos Estados Unidos da América, e da sua influência nos acontecimentos que têm marcado a Administração Bush, com particular destaque para as acções de guerra.
.
O que parece incontestável é que este Vice-Presidente tem desempenhado a função, desde que foi empossado, duma forma nunca experimentada na história dos EUA, onde a vice-presidência sempre se remeteu, ou foi remetida, para papéis de representatividade simbólica.
.
Notável é também a forma como o Washington Post decidiu abrir uma discussão que, certamente, abrirá uma perspectiva diferente para a avaliação dos "ticket" que se concorrerem às eleições do próximo ano.
.
Terá Cheney aberto um precedente ou ficará na história simplesmente como uma excepção que manobrou nos bastidores as acções mais controversas, e também as mais dissimuladas, que têm marcado a actual administração norte-americana?
.
A publicação do conjunto de quatro longos artigos termina amanhã. A controvérsia promete durar anos.
.
* Angler é o nome de código de D. Cheney e título da série de artigos que o Washington Post está a publicar sobre o Vice-Presidente.

Monday, June 25, 2007

DUPLA DEPENDÊNCIA

Há uma dupla dependência da economia portuguesa que, até hoje, que se saiba, ainda ninguém quantificou: a economia é fortemente dependente da construção, e o grau (elevado) dessa dependência conhecido; o que se desconhece (?) é a dependência da construção civil da entrada de fundos provenientes da economia não regular. O que vale por perguntar, em que medida a economia portuguesa depende dos fundos que vêm para a barrela. Interrogação que já vem de longe e continua impávida.

A DEPENDÊNCIA DO CIMENTO

.
Volto a escrever a uns quantos fusos horários daí, e, talvez pela distância, dificilmente percebo o teor de alguns comentários que o seu "post" até esta hora recebeu.
.
Porque é inquestionável que este Governo, como todos os os que o antecederam, gere o ciclo económico em conformidade com as suas conveniências políticas.
.
Honra lhe seja, contudo, por ter tomado algumas medidas durante os dois primeiros anos (pouco politicamente correctas) que, se não eram inadiáveis, eram inevitáveis. Com várias delas V. mesmo, caro J., esteve em desacordo e suscitou apoiados de vários comentadores.
.
Concordo, portanto, com a sua perspectiva, à qual gostaria, contudo, de colocar as seguintes ressalvas:
.
1 - Lamentavelmente o povo português ainda avalia as realizações de um governo, seja ele central ou local, pela "obra feita". Atitude que merece o regozijo de construtores civis e dos bancos, além de outros interessados.
.
2 - A educação e a justiça são coisas que se reclamam mas não se aceitam. Os portugueses, em geral, não querem aprender, querem um canudo; Quanto à justiça é qualquer coisa com a qual se habituaram a divertir-se e não os revolta.
.
Este Governo teve uma intenção, sincera ou não, de alinhar os seus objectivos com aqueles que fizeram a Irlanda próspera e a Finlândia um modelo de desenvolvimento para este século. Foi sistematicamente ridicularizado.
.
Não tenho, nunca tive, não vou ter, por todas as razões e mais uma, qualquer enfeudamento político. Devo a este Governo o mesmo que devo a todos os outros: nada, a não ser o que resulta, por tabela, para qualquer cidadão. Mas percebo, ainda por outro motivo, a sua ânsia em investir no cimento.
.
Explico o meu ponto de vista, resumidamente: Portugal tem já o maior número de habitações por família, há em Portugal maior número de segundas habitações por habitante que nos EUA, por exemplo. O endividamento das famílias (mesmo descontando o facto de parte de se dirigir à compra de habitação) está a chegar a níveis dificilmente sustentáveis. A economia do país depende excessivamente da construção. Se o Governo não arranja meio de colmatar a falha que se prevê, a economia cai redonda.
.
E V. vê alternativa?
.

PORTUGAL (SEC XV, XVI) EM WASHINGTON




At the Sackler, Art That Meant the World to Portugal


By Stephen BrookesSpecial to The Washington PostSunday, June 24, 2007; Page N01


To look at Henricus Martellus's 1490 map of the world is to behold a strange, unsettling planet. Europe seems vaguely familiar, but beyond the Mediterranean everything dissolves wildly into myth. Africa is a squarish blob, connected to Asia by a long strip of land. A huge island called Taprobana dominates the Indian Ocean, and there's no hint of the Americas or the Pacific Ocean; the map simply stops at China. Half the world is a confused jumble, and the other half is not yet even imagined.


But jump ahead a half-century to Pero Fernandes's map of 1545 -- and the planet is utterly transformed. A huge wave of exploration has brought the world into focus for the first time: Africa has taken on its distinctive shape, India is no longer an insignificant bump, the Pacific is there in all its vastness, and the Americas have appeared. Guesswork has given way to knowledge: A new world, with all its complexities and possibilities, has suddenly come into being.

The two maps -- works of art in themselves -- are part of a massive new exhibit opening today at the Sackler Gallery. Called "Encompassing the Globe: Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries," it's a broad, impressionistic look at the trading empire built by the Portuguese that stretched from Brazil to Africa to Japan -- an empire that brought an explosion of knowledge to the Renaissance, fueled European expansionism and launched (for good or ill) the integration of the modern world.


"It's hard for us to imagine how transformatory this period was," says Julian Raby, the director of the Smithsonian's Sackler and Freer galleries. "It's the first moment of globalization -- information about the variety of the world, in terms of its peoples and cultures, was just pouring in. And part of what we want to get across is that sense of wonder at the complexities and textures of the world."


With roughly 275 objects on display, that shouldn't be a problem. "Encompassing" is the largest single exhibit in the Sackler's 20-year history -- taking up all its exhibition space and spilling over into the adjacent Museum of African Art -- and undoubtedly the most diverse. There are African ostrich eggs in ornate gold mounts, intricately carved crucifixes from Sri Lanka, a life-size oil painting of a Brazilian cannibal, Chinese astrolabes, Indonesian puppets, a Japanese shield covered in the skin of a ray, and a bewildering array of other wonders.


Yet, despite its global scope and almost runaway eclecticism, the exhibit is more than just souvenirs from a sprawling empire. "We looked for works of real aesthetic significance," says Jay Levenson, the show's guest curator, who scoured more than a hundred collections around the world to assemble the exhibit. "Works that told the story of the voyages, but that also documented the interchange among cultures."


For all that it changed the world, Portugal's empire remains largely unknown in America, overshadowed by the Spanish voyages to the New World. But the explorations that started in 1419 under Prince Henry the Navigator (particularly Vasco da Gama's opening up of a sea route around Africa in 1498) were at least as important, laying the foundations of global maritime trade and establishing an empire that endured until modern times; the last outpost, Macau, was only handed over to China in 1999.


But it was an unusual empire, designed not for conquest but for trade and, to a lesser degree, for spreading Christianity. The early voyages down the coast of Africa were aimed at breaking the Islamic world's monopoly on trade with the East, and forging an alliance with the mythical Prester John, a Christian king thought to rule somewhere in Africa. Using small, lightly armed flotillas of ships, the Portuguese established trading relationships rather than colonies. And as they ventured ever more deeply into Asia, they found themselves interacting not with the primitive world they'd expected but with complex, deeply embedded cultures and flourishing economies.


"It's much more about relationships between equals," says Levenson. "It's about trade and the exchange of knowledge."


Empire-building of any kind is rarely a pretty business, though. And in fact, the Portuguese weren't out to foster greater understanding among the peoples of the world -- they were after control of the trading routes, and they were ruthless. Slave trading was rampant, uncooperative ports were bombarded, and piracy abounded. In one memorable episode, da Gama himself locked nearly 400 Muslims onto a ship and burned them alive -- including women and children.
"Many of the artworks were gained at a very high price," says Raby, "whether it was the death of indigenous peoples, through the diseases that were brought by Europeans, or by often quite violent encounters."


And in a sense, that's part of what makes "Encompassing" such a fascinating exhibit: It puts objects on display that reflect disturbing ambiguity more often than cheerful multiculturalism. Each of the encounters was different, but the artworks that resulted rarely show a free hybridization of cultures; many, in fact, almost seethe with tension.

Take, for example, a remarkable ivory saltcellar from 16th-century Nigeria. Probably made as a trade item for European collectors, it's a beautiful, intricately carved piece that shows a group of Portuguese sailors (who would have been involved in the slave trade) supporting a ship. The sailors' faces are carved almost like African masks, and the ship's captain holds an African spear in one hand. The effect is charming -- until you notice the small, wide-eyed face peering out from inside the ship, and the objet d'art suddenly takes on a disturbing edge.


The complex relationships between the Portuguese and the cultures they encountered becomes even more apparent in the art from Asia, or "Estado da India," as the network of Portuguese enclaves throughout the region came to be known. Most of the outposts were small trading centers, designed to manage the lucrative spice trade. But Lisbon also held substantial territories, including Bombay and Goa, and where the Portuguese held physical control, they held cultural and religious dominance as well -- driven in part by Jesuit missionaries seeking converts.

PhotosEncompassing the GlobeWith the opening of "Encompassing the Globe: Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries," the Smithsonian's Sackler Gallery celebrates the largest exhibit in its 19-year history. Nearly 300 objects speak to the cultural exchange that took place between Portuguese explorers and people in Africa, India, Oman, Sri Lanka, Indonesia, China, Japan and Brazil.

"Goa in the 16th century was a territory of some hundreds of square miles, with maybe a million people," says Sanjay Subrahmanyam, a professor at UCLA and author of "The Portuguese Empire in Asia, 1500-1700." "And there you're talking about forcible conversion, the destruction of Hindu temples, the elimination of the Muslim population."


It wasn't all conversion by force, but even so, the degree of Christian influence is striking in the exhibit's Indian artworks. Many are stunning; a 17th-century communion table from Gujarat mixes European and Indian styles with effortless grace, and an elaborate ivory carving with Christ as a lute-strumming shepherd draws deeply on Indian sculptural traditions; at first glance it could be taken for a work of Buddhist art.


But a far more revealing work may be the ivory plaque that depicts the infant Jesus sailing one of the Portuguese trading ships. It's called "Young Christ as the Mariner on the Ship of Salvation," but the obvious ingratiation goes deeper than the title. The masterful Sri Lankan artist who carved it purged all traces of his culture from the work; it looks like something out of an Italian Renaissance workshop. As art, it's lovely. As an exercise in cultural self-abnegation, it's somewhat chilling.
* * *
Other imperial tensions simmer throughout the exhibit, in remarkably different ways. In China, the Portuguese impact was so weak as to be almost undetectable; Beijing adopted Lisbon's superior astronomical knowledge but kept the rest at a studied distance.


In Japan, however, things turned disastrous. There the Portuguese initially met with success, winning some 150,000 converts to Christianity. But it quickly became their undoing; the ruling shoguns outlawed the religion, expelling missionaries and forcing suspected Japanese Christians to stamp their feet on bronze plaques bearing the face of Jesus -- known as fumi-e -- to prove their indifference.


It was only in Brazil, in fact (discovered virtually by accident by Pedro Alvares Cabral in 1500), that the Portuguese were able to build a large-scale colony as opposed to smaller outposts. Easily overcoming the indigenous Tupi people, Lisbon eventually set up huge sugar plantations, bringing hundreds of thousands of slaves over from Africa and, over the next few centuries, becoming the leader of the transatlantic slave trade.


Although that disturbing side of the empire is touched on only lightly, several paintings of Africans and Tupi by the 17th-century Dutch painter Albert Eckhout offer a gripping insight. Scaled to heroic size, the paintings were commissioned as "promotional literature" to encourage investment in the plantations, says the Sackler's Raby -- designed to show Europeans how native peoples benefited from the civilizing aspects of colonization.


And for all its multicultural aspirations, it's hard not to hear faint echoes of a similar spin in "Encompassing the Globe." Ever since its discoveries were celebrated by Luís Vaz de Camoes in his epic 16th-century poem "The Lusiads," Portugal's empire has been at the heart of its national identity, the rough edges softened and the myths massaged. Financed largely by Portugal's Ministry of Culture and dozens of Portuguese banks and corporations, "Encompassing" could be read as a paean to Portuguese imperialism, sheltering from hard questions in its own sheer vastness. But in the end, the artworks reveal a deeper and infinitely more satisfying story -- the tense, difficult and sometimes brutal birth of the modern world.