Caro Pinho Cardão
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Vim até à Quarta República, anteontem, para declarar a minha ingenuidade perante aquilo que, pelos vistos, muitos consideram uma ameaça às liberdades, a propósito da intenção do Governo em criar uma base de dados que lhe permita ter informações acerca daqueles que trabalham para o Estado, e de que eu, confesso, ainda não percebi onde está a intenção orweliana.
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Vim até à Quarta República, anteontem, para declarar a minha ingenuidade perante aquilo que, pelos vistos, muitos consideram uma ameaça às liberdades, a propósito da intenção do Governo em criar uma base de dados que lhe permita ter informações acerca daqueles que trabalham para o Estado, e de que eu, confesso, ainda não percebi onde está a intenção orweliana.
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Vem isto a despropósito deste teu "post", que eu titularia com uma sentença batida: Uma quarta classe bem feita fica para toda a vida, ou sem bons alicerces não há obra sólida. Vale isto por dizer que, concordando inteiramente contigo, e, se me permites, querendo também prestar homenagem ao meu professor primário, discordo com a responsabilização que atiras inteiramente para cima das costas dos Ministros da Educação.
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É inquestionável que os níveis de exigência na educação se deterioraram para limites inconcebíveis, a começar logo nos primeiros anos de escolaridade. Ainda ontem, na revista Pública, o dr. Daniel Sampaio referia a verdadeira tragédia que tem constituído o hábito de não haver exames e a ansiedade que se apodera das famílias onde esses actos, que deveriam ser normais na vida de todos, constituem uma prova de pavor. Acontece, no entanto, que os portugueses se habituaram (ou os habituaram) a uma desresponsabilização geral. Desresponsabilização que assume, no caso da educação, os seus limites extremos. Concordarás que este Ministro, o anterior, o anterior do anterior, e por aí fora, sempre para trás...foram, segundo a apreciação pública, todos maus.
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Por quê?
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Porque perdemos alguns hábitos de exigência e (quase) ninguém quer aprender, (quase) todos querem ter um canudo. É por isso que volto ao tema com que iniciei este arrazoado: Quando este Governo, quando qualquer Governo, pretende impor alguma ordem a bordo, surgem logo brados de denúncia por todo o lado. A mim, que não sou nem nunca fui partidário, não me custa perceber por que é que estas coisas acontecem.O caderno reivindicativo do pós 25 de Abril reclamava: Paz, pão saúde, habitação. O caderno foi satisfeito: Temos paz, temos dos níveis médios de consumo de calorias e proteínas dos mais elevados do mundo, a esperança de vida está ao nível dos EUA, a mortalidade infantil é das mais baixas do mundo, temos mais casas por família que todos os outros, salvo os espanhóis.
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Que nos falta? Educação. E Justiça. Mas, curiosamente, nem uma nem outra não faziam parte do caderno reivindicativo.De modo que, meu caro Pinho Cardão, ainda que ninguém nos dê ouvidos, aqui fica a minha sugestão para o aleijão que tu denuncias e de que (quase) todos nos queixamos: sem um pacto que defina e instale um grau de exigência em todos os graus de ensino, e de cujos efeitos impopulares nenhum dos principais partidos cobre dividendos, não sairemos de junto do muro das lamentações.
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Porque lamentar é o nosso jeito mas não deveria ser o nosso fado.
1 comment:
Caro Rui:
Pois eu também tenho opinião de que alguns pactos deveriam ser feitos. Mas cada vez acredito menos que eles possam ser concretizados com a actual classe política.
Por isso, como os partidos não querem pactos, as coisas devem ser exigidas aos Governos e aos Ministros. No caso do Ministério da Educação, não creio que qualquer alteração seja possível com a actual tecnocracia instalada.Os ministros passam e eles ficam; aliás os ministros sempre me pareceram uns "anjinhos" nas suas mãos, criando-lhes o complexo de que se não aprovam o deletério experimentalismo vigente são uns animais das cavernas.
Com este Ministério da Educação não se vai a lado nenhum. Não sendo reformável, só pode ser extinto. A solução é fechar e abrir noutro lado, com nova gente.
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