Tuesday, June 12, 2007

SPARTACUS REVISITADO

O programa Prós e Contras de ontem (O trabalho escravo, hoje) teve duas partes bem distintas: na primeira, o coro de lamentações acompanhado por solistas jornalistas que conheciam de perto todas as situações esclavagistas relatadas. A RTP fez deslocar a Amesterdão um repórter para auscultar, no local onde as coisas acontecem, alguns emigrantes portugueses, vítimas das barbaridades neerlandesas. No fim da primeira parte (de longe, a mais longa) a ideia que se terá formado na mente da esmagadora maioria dos telespectadores terá sido a de que cada tulipa holandesa estava manchada de sangue luso.
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Estava a revolta em maré alta quando a animadora do programa entrevistou um português idoso, escritor, radicado nos Paíse Baixos há muitos anos, que baralhou completamente as contas feitas: Como é que aquelas pessoas se tinham deixado engajar por anúncios meio sumidos? Por que é que se aventuraram sem qualquer domínio da língua holandesa, subscrevendo contratos de que não sabiam o conteúdo? Quanto aos horários esclavagistas a que os queixosos se referiam, é conveniente saber que os holandeses são ricos, mas trabalham geralmente mais horas por dia do que aquelas de que os desiludidos portugueses se queixavam. Quanto às condições das instalações, aspas, aspas.
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Era preciso ir à Holanda para perceber o que se passa? Não encontramos nós, aqui, perto de nós, nas mais diversas actividades, estrangeiros que escolheram Portugal para trabalhar? Como explicar o abandono em que se encontra grande parte dos terrenos agrícolas, não havendo quem os queira trabalhar nem leis que desincentivem aquele abandono?
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Num mundo globalizado não há só vantagens. Quem pensa sair de Portugal para ganhar o dobro ali ao lado terá de pensar que, em princípio, terá de fazer qualquer coisa que valha duas vezes mais do que aquilo que aqui faz.
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Esta manhã, noticiava a rádio que a Feira do Melão de Vila Franca não se realizará este ano por falta de melão português. Não iríamos realizar a feira para promover o melão espanhol, disse um responsável pela decisão, correcta. O que parece menos correcto, ou pelo menos, menos entendível é o abandono da lezíria, visível de um lado e de outro da estrada que sai da ponte para o Porto Alto. Alguém, com algum juízo, poderá pensar que será possível continuar a ir cultivar melões a Espanha, ganhando o dobro, e vir comê-los a Portugal por metade do preço?

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