Thursday, June 07, 2007

O DOCE DE COCAÍNA

Ontem foram apreendidas 6 toneladas de cocaína, em Esposende, com um valor estimado de 1500 mil euros, traduzido o preço em gramas, 250 euros/grama, se ninguém se enganou nos zeros. Trata-se, segundo a polícia, de um novo recorde de apreensão de droga, fiquei na dúvida se nacional, europeu ou mundial. No mesmo canal de televisão onde ouvi esta notícia, informavam pouco depois, que, segundo resultados de um trabalho realizado recentemente, 70% das notas de euros apresentavam vestígios de cocaína. Segundo a "Visão" desta semana, "na segunda-feira, 4, um colectivo de juízes absolveu e pôs em liberdade, por "fragilidade de provas" Franquelim Lobo, de 52 nos, que a PJ sempre apresentou como um dos maiores traficantes de droga portugueses. O Franquelim foi à prisão de Monsanto buscar os seus pertences e anunciou uma acção indemnizatória contra o Estado. Para a história fica uma sucessão de erros judiciais e policiais."
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Para além de ridicularizam frequentemente a polícia de investigação e os tribunais em Portugal, configuram-se estes relatos frequentes sobre recordes de apreensão de droga, que se banalizam e já não são notícias, como efectivas acções promocionais do negócio.
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Sabe-se que apenas uma pequena parte do tráfico de droga, a nível mundial, é interceptado pela polícia; sabe-se que o negócio da droga tem uma dimensão, valorizada em termos monetários, equivalente ao da energia, segundo o relatório do PNUD de 1999; sabe-se que essa dimensão sustenta uma parte importante de actividades económicas regulares, a construção civil, por exemplo; sabe-se que para facilitação da conexão entre o dinheiro da droga e as actividades legalmente admitidas, as entidades emissoras de moeda não esqueceram a competitividade dos meios de pagamento (notas de 100 dólares às quais o BCE respondeu com notas de 500 euros); sabe-se que esse dinheiro anda por aí em toda a parte; sabe-se que parte (que parte, ninguém sabe) desse dinheiro justifica a possibilidade de muita gente viver bem acima das suas possibilidades aparentes, exemplificando o adágio popular: "quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem".
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E sabe-se que, representando estas apreensões, por mais recordistas que sejam, uma gota de água no oceano da droga, a sua publicitação é um meio promocional do negócio na medida em que, sem reduzir significativamente a oferta, aumenta nos consumidores a ansiedade pela manutenção de stok de segurança e disponibilidade de resignação para crescentes aumentos de preços.
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E sabem os lobos impunes que captura melhor quem captura no fim.

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