Saturday, June 23, 2007

OS PORTUGUESES - Segundo os algarismos (3)

Há muito tempo (que se mede em vários anos) que digo aos meus amigos que um dia destes a economia portuguesa não pode deixar de confrontar-se com uma crise profunda em consequência de uma derrocada no sector da construção. A economia portuguesa depende excessivamente do sector da construção civil, Portugal tem um stock de casas que só pode continuar a crescer indefenidamente se houver financiamentos trazidos de fora da economia regular: o branqueamento de capitais, por exemplo.
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De vez em quando, o assunto vem à tona como as baleias, que logo mergulham para voltarem a aparecer e desaparecer de vista. Hoje, é o Expresso que publica dois artigos (A insuportavel leveza do "imposto do betão" de Luísa Schmidt/Rui Cardoso, e Portugal para 40 milhões, de Paulo Paixão), o primeiro voltado sobretudo para a dupla irracionalidade gerada pela dependência das câmaras das receitas do IMT e do IMI, licenças de construção, etc. e da degradação que o sobrecarrego de construção representa para a paisagem; no segundo, o enfoque volta-se para o absurdo que engravida os PDM com 40 milhões de habitações para uma população de 10 milhões que já dispõe de cerca de 1,3 habitações, em média, por família.
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O peso do "imposto do betão", para usar a expressão Schmidt/Cardoso, representava, em média, segundo o INE, 30,6% das receitas totais dos municípios, atingindo 38,7% no distrito de Faro, 38, 1% em Setúbal, 30,4% em Coimbra, 29,8% em Lisboa. Portalegre, com 8,1%, é o menos dependente do betão.
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Não admira, portanto, que o recandidato à câmara da capital, Carmona, esteja tranquilo quanto à capacidade de resolução do déficit financeiro, que submerge a actividade do município lisboeta,
à custa de "receitas próprias". E lá terá as suas razões: enquanto uma crise profunda não vier fazer ruir esta situação insustentável (as árvores não crescem até aos seus) os autarcas continuarão alegremente a deixar semear construções por todo o lado, animando os construtores, que os animarão a eles e aos partidos.
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Com todo o entusiasmo da banca e a ausência do Banco de Portugal. Ausência que, porventura, ignora porque não sabe de alternativas.

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