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Começo a ficar confuso com esta coisa do novo aeroporto: o deserto está na margem sul e os camelos andam a pastar na margem norte.
in O Jumento .
À primeira vista, parece estranho que a Associação Comercial do Porto se mostre tão interessada na questão do futuro aeroporto internacional de Lisboa, reclamando o seu presidente a participação da sua associação no processo de decisão. Entretanto, o ministro M Lino concordou, ontem, receber e analisar todos os estudos que possam contribuir para a decisão mais acertada, e, portanto também o estudo que a ACP se propõe também entregar.
Poderá ver-se nesta súbita disponibilidade do Governo um corolário lógico daquela que assumiu há dias: se outras alternativas não fossem analisadas, e a solução Portela+1, defendida pela ACP e pelas associações de comércio e turismo de Lisboa é a mais reclamada por oposição à Ota, e agora também Alcochete, não se eliminavam de vez as críticas e a campanha para a Câmara de Lisboa continuaria a ser infectada pelo assunto, empurrando António Costa para uma discussão que claramente não lhe convém nesta altura.
Quanto à aliança entre os comerciantes e operadores turisticos do Norte e de Lisboa, faz sentido para os nortenhos na medida em que o aeroporto do Porto se encontra já (ou ainda, essa é a questão a equacionar) muito subutilizado, e, portanto, um novo aeroporto de Lisboa (pressupondo a participação de privados e a privatização da Ana) empurrará o aeroporto do Porto para uma situação ainda mais marginal; quanto aos comerciantes e operadores turísticos de Lisboa, é conhecida a sua perspectiva escondida: se retirarem o aeroporto da Portela para longe do centro da capital, os turistas perdem esse must turístico lisboeta que constitui o seu sobrevoo rasante à chegada, e vão voar para outras paragens. Escondida, porque não explicitada, e sobra como única possível já que não é crível que, se o aeroporto se localizar a 20 ou 30 minutos do centro da cidade, como ocorre na esmagadora maioria dos aeroportos de todo o mundo, o turista desista de Lisboa.
É desta conjugação de interesses díspares que nasce o interesse notável do Porto por Lisboa. No fim de contas, o que está em jogo, neste caso, é a ANA, e as possibilidades de intervenção na gestão dos aeroportos portugueses que o seu domínio permite.
Estranhe-se ou discorde-se com a posição de R Moreira, mas a teoria do deserto também não se aplica ao Norte.
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