Os jornais repetem ipsis verbis a notícia anunciada:
"A Galp aumentou o preço do litro da gasolina em 3 cêntimos para 1,564 euros enquanto o gasóleo ficou mais caro em 1 cêntimo, valendo agora 1,404 euros o litro.
Também a Cepsa já mexeu nos preços dos combustíveis, com um aumento de 1,3 cêntimos para o gasóleo e de 2,7 cêntimos para a gasolina. Aqui, um litro de gasolina custa agora 1,559 euros enquanto a gasóleo vale 1,407 euros o litro.
BP e Repsol ainda não mexeram nos preços, mas tal como vem sendo hábito devem proceder a actualizações similares durante esta madrugada.
As gasolineiras de marca branca também subiram os preços. No caso d'Os Mosqueteiros, que controla os supermercados Ecomarché e Intermarché, "em média, os aumentos previstos para esta semana deverão rondar um cêntimo por litro no gasóleo e dois cêntimos por cada litro nas gasolinas, acompanhando a tendência internacional" (aqui).
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Há muita indignação, legítima, contra a forma abrupta como as petrolíferas distribuidoras sobem os preços nas bombas quando os preços do crude crescem em flagrante contraste com a lentidão nas descidas quando o crude baixa. Mais: O alinhamento quase perfeito dos preços dos combustíveis praticados pelas petrolíferas denuncia claramente que o sector é dominado por um cartel de facto, mal disfarçado.
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Que pode nestas circunstâncias fazer a Autoridade da Concorrência? Creio que, praticamente, nada. O anterior presidente, Abel Mateus, desafiava há dias o Governo a tomar medidas que separem a refinação da distribuição mas não é garantido que a proposta, se fosse executada, alterasse sensivelmente a situação.
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Porque o cartel existe, e continuará a existir, mas não é possível surpreender os seus membros em acções comprováveis de concertação dos preços. Quando a procura excede a oferta e os preços sobem num mercado em oligopólio de commodities se um membro do cartel anuncia um aumento os outros juntam-se de imediato com ligeiras alterações. O que é inadmissível é o facto da Autoridade da Concorrência gastar meses e fundos do Estado para declarar que não existe cartel.
A contestação pública dos consumidores é bem mais eficiente para a contenção da gula das petrolíferas que a vigilância da AC, que não sendo cega não consegue ver.
Por outro lado, o lado mais importante desta guerra de preços, se as margens das petrolíferas são abusivas
dos seus privilégios oligopolistas, são os aumento dos preços do crude (e os impostos liquidados pelo Estado que crescem proporcionalmente ao aumento dos preços dos combustíveis) que mais arrombam os bolsos dos consumidores.
A evolução dos preços do petróleo, é um dado adquirido, é incontornavelmente crescente. Porque a procura é crescente e as reservas petrolíferas não são renováveis. Só há uma saída para contornar esta inevitabilidade: reduzir a procura de petróleo. Como? É esse o desafio, e a oportunidade, que o crescimento dos preços do crude e a gula das distribuidoras suscitam.