Monday, February 28, 2011

QUANDO PARA CIMA TODOS OS DIABOS EMPURRAM

Ouço na Antena 1 que a Galp aumentou  preço da gasolina para um máximo histórico de 1,564 euros/litro.
Os jornais repetem ipsis verbis a notícia anunciada:
 "A Galp aumentou o preço do litro da gasolina em 3 cêntimos para 1,564 euros  enquanto o gasóleo ficou mais caro em 1 cêntimo, valendo agora 1,404 euros o  litro. 
Também a Cepsa já mexeu nos preços dos combustíveis, com um aumento de 1,3 cêntimos para o gasóleo e de 2,7 cêntimos para a gasolina. Aqui, um litro de gasolina custa agora 1,559 euros enquanto a gasóleo vale 1,407 euros o litro.
BP e Repsol ainda não mexeram nos preços, mas tal como vem sendo hábito devem proceder a actualizações similares durante esta madrugada.
As gasolineiras de marca branca também subiram os preços. No caso d'Os Mosqueteiros, que controla os supermercados Ecomarché e Intermarché, "em média, os aumentos previstos para esta semana deverão rondar um cêntimo por litro no gasóleo e dois cêntimos por cada litro nas gasolinas, acompanhando a tendência internacional" (aqui).
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Há muita indignação, legítima, contra a forma abrupta como as petrolíferas distribuidoras sobem os preços nas bombas quando os preços do crude crescem em flagrante contraste com a lentidão nas descidas quando o crude baixa. Mais: O alinhamento quase perfeito dos preços dos combustíveis praticados pelas petrolíferas denuncia claramente que o sector é dominado por um cartel de facto, mal disfarçado
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Que pode nestas circunstâncias fazer a Autoridade da Concorrência? Creio que, praticamente, nada. O anterior presidente, Abel Mateus, desafiava há dias o Governo a tomar medidas que separem a refinação da distribuição mas não é garantido que a proposta, se fosse executada, alterasse sensivelmente a situação.
Porque o cartel existe, e continuará a existir, mas não é possível surpreender os seus membros em acções  comprováveis de concertação dos preços. Quando a procura excede a oferta e os preços sobem num mercado em oligopólio de commodities se um membro do cartel anuncia um aumento os outros juntam-se de imediato com ligeiras alterações. O que é inadmissível é o facto da Autoridade da Concorrência gastar meses e fundos do Estado para declarar que não existe cartel.

A contestação pública dos consumidores é bem mais eficiente para a contenção da gula das petrolíferas que a vigilância da AC, que não sendo cega não consegue ver.

Por outro lado, o lado mais importante desta guerra de preços, se  as margens das petrolíferas são abusivas 
dos seus privilégios oligopolistas, são os aumento dos preços do crude (e os impostos liquidados pelo Estado que crescem proporcionalmente ao aumento dos preços dos combustíveis) que mais arrombam os bolsos dos consumidores.

A evolução dos preços do petróleo, é um dado adquirido, é incontornavelmente crescente. Porque a procura é crescente e as reservas petrolíferas não são renováveis. Só há uma saída para contornar esta inevitabilidade: reduzir a procura de petróleo. Como? É esse o desafio, e a oportunidade, que o crescimento dos preços do crude e a gula das distribuidoras suscitam.

Sunday, February 27, 2011

INXALÁ

Ando a apontar isto neste caderno quase desde que o comecei: Se um dia a Al Qaeda põe a mão na torneira e corta ou reduz o abastecimento de crude, consoante os seus desígnios, o caos tomará conta do mundo.

Dir-se-á: Há reservas que podem sustentar o consumo durante largos meses. Pois há. Mas como ninguém saberá por quanto perdurará a escassez, a reacção imediata seria o aumento exponencial dos preços (e esse será o lado menos mau do imbróglio, até pelo racionamento que impõe dos consumos), e, sobretudo, o açambarcamento não só de combustíveis mas de todos os consumíveis vitais: alimentos e medicamentos.

Por outro lado, assistir-se-ia, de imediato,  a uma guerra total pela posse dos hidrocarbonetos disponíveis num mercado bloqueado por um incomensurável excesso de procura sem resposta.

Dito de outro modo: Não sendo previsível que em tais circunstâncias possa ser estabelecido o diálogo com os fanáticos islâmicos, ou continua a guerra surda, preventiva, como até aqui, suportando o Ocidente os xeiques actuais ou outros com papéis idênticos, ou só as bombas poderão acabar com o caos que pode, entretanto, eliminar uma parte importante da humanidade.

Também há quem pense: Ainda bem, porque, nesse caso, se privilegiarão as energias alternativas. O busílis está no curto prazo, aquele período mais ou menos longo que um ajustamento desses não dispensa e que será sempre longo demais para evitar uma catástrofe mundial.

Um artigo publicado hoje no Washington Post aborda a questão: Could the next Mideast uprising happen in Saudi Arabia? E é interessante concluir que, para muitos norte-americanos, mas não só, a evolução no Médio Oriente pode ser pacífica e passar pela democracia. Pode a democracia vencer o terrorismo num terreno completamente minado? Inxalá pudesse.  

Tunisia. Egypt. Yemen. Bahrain. And now the uprising and brutality in Libya. Could Saudi Arabia be next?

The notion of a revolution in the Saudi kingdom seems unthinkable. Yet, a Facebook page is calling for a "day of rage" protest on March 11. Prominent Saudis are urging political and social reforms. And the aging monarch, King Abdullah, has announced new economic assistance to the population, possibly to preempt any unrest.

Is the immovable Saudi regime, a linchpin of U.S. security interests in the region, actually movable?
Revolutions are contagious in the Middle East - and not just in the past few weeks. In the 1950s, when Egypt's Gamal Abdel Nasser swept into power, nationalist protests ignited across the region, challenging the leadership in Jordan, Syria, Saudi Arabia, and eventually Libya and beyond.
A shocked Saudi royal family watched helplessly as one of its members, directly in line to become king, claimed solidarity with the revolution and took up residence in Egypt for a few years. That prince, Talal bin Abdul Aziz al-Saud, a son of the kingdom's founder and a half-brother of the king, is now reintegrated into the Saudi elite - and on hand to remind the monarchy that it is not immune to regional revolts. "Unless problems facing Saudi Arabia are solved, what happened and is still happening in some Arab countries, including Bahrain, could spread to Saudi Arabia, even worse," Prince Talal recently told the BBC.
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Saturday, February 26, 2011

O QUE HÁ CÁ

A afirmação feita ontem por Campos e Cunha durante a primeira conferência do Ciclo de Conferências promovido pelo DN, Sedes e CGD, é incontroversa porque reflete o sentimento dos portugueses traduzido nas sondagens de opinião, sustentadamente lisongeiras  para tantas falhas do governo.

Prever 2011 foi o exercício a que se propôs Luís Campos e Cunha, na primeira conferência, de um ciclo de seis, organizada pela SEDES/DN/CGD. O professor apontou a falta de credibilidade do sistema político português como um dos entraves à saída para a crise. Não poupou nenhum dos dois grandes partidos, uma posição comum a todos os comentadores presentes. Quanto à situação económica e à sua resolução, o professor traça dois cenários, alertando para o risco de uma forte recessão se o sector bancário deixar de poder financiar-se.

A falta de credibilidade dos partidos da oposição, em que o PSD se inclui, é um dos problemas apontados por Campos e Cunha para as dificuldades que Portugal enfrenta na recuperação da crise. "Este Governo [do PS] é mais responsável porque foi o que liderou o País nos últimos seis anos", defende o presidente da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), que ontem deu início ao ciclo de seis conferências comemorativas dos 40 anos da instituição, alertando que "o PSD, assim como os partidos da oposição, ainda têm um problema de credibilidade".

Prova disso, segundo Campos e Cunha - que aponta uma sondagem recente sobre sentido de voto dos portugueses e em que o PSD surge com vantagem -, está o facto de mais de 50% dos portugueses não terem respondido. "No dia-a-dia das pessoas há uma perplexidade que leva a um problema de credibilidade na representatividade", reforça o antigo ministro das Finanças de José Sócrates.

Para que um governo PSD fosse capaz de refundar Portugal, teria de fazer a "separação das águas", defendeu Campos e Cunha, apontando para os sectores público e privado, uma vez que, disse: "este Governo tem caído na tentação de gerir, interferir e governamentalizar empresas onde não era suposto", referindo-se a casos como os da PT ou a da Caixa Geral de Depósitos. Além de o Governo dever "ser minoritário" nestas empresas privadas, as mesmas deviam ser claras quanto "a subsídios, inserções ou adjudicações directas concedidas", por forma a "evitar suspeitas", contribuindo-se assim para a "credibilização".

Não assisti à conferência, da intervenção de Campos e Cunha conheço apenas o relato do DN. Parece, no entanto, depreender-se da comunicação de CC que as conclusões do conferente apoiadas pela assistência não suscitaram, também elas, caminhos que possam conduzir à emergência da credibilidade política que o País precisa. 

Porque o fioco não é grande coisa, não senhor, mas é o que há cá. Como e onde  é que se arranja outro? Campos e Cunha não disse.   

Friday, February 25, 2011

O MUNDO À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS

Ouço na rádio que os EUA estão a considerar a hipótese de intervirem militarmente na Líbia, que o primeiro-ministro britânico afirma não poder ser consentido a Kadafi continuar a massacrar o povo líbio, que o Irão já estará a produzir energia nuclear, que Bin Laden volta a aparecer na televisão para ameaçar a Europa, que a Arábia Saudita anunciou o aumento da extracção de crude com o objectivo de reequilibrar  o mercado. Entretranto, a União Europeia decidiu suspender o fornecimento de armas à Libia. 

Os EUA parecem, portanto, condenados a voltar a aumentar a sua presença militar junto dos campos petrolíferos e a continuarem a garantir protecção aos sheiks, muito provavelmente  com a participação britânica enquanto a União Europeia assobia para o ar.

- O que é que poderá acontecer se uma situação de caos idêntica à que se observa na Líbia ocorrer na Arábia Saudita? pergunto aos meus amigos, geralmente defensores de uma política de diálogo e irredutivelmente contra a presença militar norte-americana noutros países.
-  ... Umas bombas, admitem eles.

Lamentavelmente, o diálogo não é possível com quem não quer dialogar.

Thursday, February 24, 2011

OS ÁRABES - 6

Kadafi acusa bin Laden de estar a instigar a revolta na Líbia. (vd artigo do Washington Post de hoje, aqui)

Com esta acusação, Kadafi pretende convencer o mundo, e muito particularmente os norte-americanos e europeus, que se ele cair será bin Laden quem aproveitará com a sua queda.

Mesmo que seja infundada a acusação de Kadafi, bin Laden não tem objectivo maior na vida do que o domínio dos recursos de petróleo do Médio Oriente e, deste modo, tornar a economia mundial, e em particular o Ocidente, refém dos seus desígnios. Que o dominó possa começar a ser derrubado na Líbia é uma hipótese que o mais procurado e perigoso terrorista certamente não enjeita.

Ainda que seja a Arábia Saudita, onde bin Laden nasceu, o bastião que ele quererá a todo o custo assaltar. Mesmo que os intenções das declarações de Kadafi sejam outras, só por ingenuidade se pode duvidar que bin Laden se não entrou já na Líbia estará lá representado.

 

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HOW BIG IS CHINA

Há pouco mais de um mês o Economist publicou um artigo, que referi aqui, que comparava os diferentes estados dos EUA com outros países do mundo, em termos de PIB e população residente. Trata-se de responder a uma questão deste tipo: Se a Califórnia fosse um estado independente seria comparável com que país? Esta semana o Economist repete o exercício com a China.

Há comparações surpreendentes. Apesar de ser já a segunda economia mundial a China é ainda uma enorme caixa de surpresas em muitos sentidos.

Nada surpreendente é o facto de Hong Kong e Macau se situarem no topo do ranking do PIB/pessoa. Mas já o será o facto de o PIB/pessoa ser superior ao de Hong Kong. Ou as exportações de Hong Kong serem equivalente às do Canadá, ou o PIB de Hong Kong, com uma população de 7,1 milhões de habitantes, ser idêntico ao do Egipto, que tem 82 milhões.
.....
Comparing Chinese provinces with countries
All the parities in China
Which countries match the GDP, population and exports of Chinese provinces?

China is now the world’s second-biggest economy, but some of its provinces by themselves would rank fairly high in the global league. Our map shows the nearest equivalent country. For example, Guangdong's GDP (at market exchange rates) is almost as big as Indonesia's; the output of both Jiangsu and Shandong exceeds Switzerland’s. Some provinces may exaggerate their output: the sum of their reported GDPs is 10% higher than the national total. But over time the latter has consistently been revised up, suggesting that any overstatement is modest.

What about other economic yardsticks? Guangdong exports as much as South Korea, Jiangsu as much as Taiwan. Shanghai’s GDP per person is as high as Saudi Arabia’s (at purchasing-power parity), though still well below that in China’s special administrative regions, Hong Kong and Macau. At the other extreme, the poorest province, Guizhou, has an income per head close to that of India. Note that these figures use the same PPP conversion rate for the whole of China, but prices are likely to be lower in poorer provinces than in richer ones, slightly reducing regional inequality.

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Wednesday, February 23, 2011

OS ÁRABES - 5

Volto ainda ao tema porque o mundo está neste momento, e não se sabe por quanto tempo mais, de olhos postos nos homens das Arábias. 

Brandão de Brito atribui num comentário hoje colocado no Quarta República - Raiz macroeconómica das revoltas árabes - as causas próximas das revoltas às injecções de liquidez para suturar a crise, e que, inevitavelmente estão a provocar o crescimento dos preços das commodities em geral, sendo particularmente gravosos para os povos de muito baixos rendimentos os aumentos dos preços dos alimentos. 

É curioso notar que o vídeo publicado no Economist, e ao qual aqui ontem fiz referência, apontando os ingredientes das revoltas, não faz referência às raízes da inflação que para Brandão de Brito são as mais determinantes. 

Que o aumento dos preços dos bens alimentares é uma das causas imediatas das revoltas árabes, parece-me incontroverso. Aliás, se a tendência actual se mantiver, e porque as mesmas causas tendem a provocar os mesmos efeitos, outras revoltas poderão vir a observar-se noutras paragens do globo. Em África, Angola, por exemplo, reune todos os ingredientes da receita.
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O aumento dos preços dos alimentos será talvez a gota de água que entorna o copo. Não se sabe, no entanto, quem em última análise tirará proveito do tombo.

Tuesday, February 22, 2011

OS ÁRABES - 4

O Economist on line publica esta semana um vídeo: The shoe-thrower´s index, onde, através de um conjunto de indicadores ponderados (número de anos do actual governo no poder, percentagem da população com idade abaixo de 25anos, população com idade abaixo dos 25 anos, PIB/pessoa, ausência de democracia, corrupção e liberdade de imprensa)  tentam avaliar a vulnerabilidade dos países árabes a processos revolucionários.

A liderar o ranking está o Yemen, seguido da Líbia, Síria, Iraque, Egipto, Oman, Mauritânia, Arábia Saudita, Argélia, Tunísia, Jordânia, Marrocos, Bahrain, Líbano, UEA, Kwait e Qatar.
 
O Economist não considerou a importância estratégica das reservas petrolíferas em alguns desses países talvez por considerar que esse possa ser um factor de instabilidade, por um lado, mas também de estabilidade, por outro. De instabilidade,  porque se o seu domínio cair nas mãos de governos fundamentalistas islâmicos, declaradamente inimigos dos países democráticos, pode tornar uma intervenção bélica de larga escala uma opção sem alternativas e incendiar o mundo; de estabilidade, porque aquela ameaça determina uma reacção de defesa preventiva redobrada, ainda que, como até aqui se tenham de segurar no poder os actuais tiranos. É a realpolitik na sua dimensão mais cínica.
 
A revolução líbia está, naturalmente, a provocar o aumento dos preços do crude. Imagine-se o que poderia ocorrer se uma revolução de dimensão relativa idêntica se instalasse na Arábia Saudita, Kwait, Bahrain, etc.
 
A probabilidade de ocorrência de uma revolução na Arábia Saudita é inversamente proporcional  à importância estratégica das suas reservas petrolíferas porque o caos resultante de uma guerra civil naquele território provocaria imediatamente o caos na economia mundial. E, provavelmente, uma guerra global.

A paz mundial há muito tempo que não estava tão presa por arames como hoje.

Monday, February 21, 2011

OS ÁRABES - 3

A democracia árabe é uma possibilidade improvável.

À medida que os dias passam e as convulsões se traduzem em maior número de vítimas mortais, percebe-se que a democracia árabe não terá um parto fácil e, muito provavelmente, resultará em aborto. Se nas ruas e praças as multidões se parecem agregar com idênticos propósitos, existe um lastro cultural que é inegavelmente antidemocrático, segundo os padrões e valores das culturas com raízes europeias, que acabará por prevalecer depois de eliminados, exilados ou reconvertidos aqueles que hoje lutam convictamente pela democracia.

O perigo de a ditaduras bafientas e caducas se sucederem ditaduras fundadas nas interpretações mais sinistras dos versículos islâmicos é mais eminente que a emergência de sociedades moldadas no respeito da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

Um dos primeiros sintomas de que esses direitos continuarão a ser ignorados pelos novos poderes recai sobre o papel subalterno da mulher nas sociedades árabes, que poderá mesmo observar um retrocesso em sociedades onde agora se observavam passos significativos na emancipação da condição feminina.

O artigo publicado hoje no Washington Post - Are the Mideast revolutions bad for women's rights?* - é muito revelador das tendências observadas no meio do furacão revolucionário que varre o Norte de África e o Médio Oriente árabes.

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* On Friday, Egyptians again gathered in Cairo's Tahrir Square, this time in a victory celebration, one week after their revolution unseated President Hosni Mubarak. Tunisians have also been sampling new freedoms of speech and press along a boulevard that is no longer a war zone. But even as the exultation lingers, women in both countries have launched new protests. They want to make sure that democracy does not erode their rights.

In Tunisia, several hundred women have already taken to the streets to voice their concern about what an Islamic revival, should it come, could mean for them. In Egypt, women's rights activists immediately mounted a petition drive when the committee named to draft a new constitution included not a single woman (although many noted female Egyptian lawyers could easily serve on that committee).

In both countries, there is popular support for a broader establishment of sharia, or Islamic law, developed from the Koran and religious writings. Of course, there is no single sharia; interpretations vary throughout the Middle East and are subject to change. Morocco, for example, sets the legal age of female marriage at 18, based on its more progressive version of sharia, whereas in Saudi Arabia girls as young as 8 are married to much older men, based on its version. As new leaders in the region grapple with how to blend some version of sharia with some version of democracy, women's rights will become a central element of the debate.

The laws affecting women in Tunisia, and to some extent in Egypt, are among the most progressive in the Middle East, so the potential for backsliding under Islamic pressure in those countries is real. And women in Yemen, Bahrain, Libya and Iraq, where the spreading unrest has been met with government force, have also struggled for their rights and likewise have reason to be concerned if their governments fall or start handing out concessions.

Sunday, February 20, 2011

O JOGO DAS ESCONDIDAS

Estamo tramado!

Como não pode emitir moeda por nossa conta e risco, o governo-que-ainda-temos decidiu criar fundos para reduzir a dívida vendendo os edifícios que os serviços do Estado ocupam e estabelecer uma renda pela continuação da utilização dos prédios do Estado vendidos ao Estado.

A batota não é original nem sequer uma exclusiva habilidade portuguesa. A desorçamentação - saída de responsabilidades do perímetro explícito do Estado - tem recorrido a outras manobras contabilísticas com o objectivo de iludir terceiros desprevenidos, propositadamente ou não. A União Europeia, que durante vários anos ignorou e, desse modo, consentiu, continua incapaz de estabelecer regras de boas práticas para todos os seus membros.

Há dias, li algures a interrogação seguinte, a propósito de uma eventual constucionalização dos limites do défice orçamental: E se não fosse cumprido, que sanção poderia impender sobre os responsáveis pelo incumprimento? 

A responsabilidade política, mesmo por desrespeito de um preceito constitucional, é uma inimputabilidade? Porquê? Até quando? 

Saturday, February 19, 2011

ENROLAR A MANTA

O governo continua a enrolar a manta, e os argumentos e prognósticos repetem-se.

O ministro das Finanças disse o que pensava, o que em política pode ser um passo decisivo para o desastre. Desde o momento em que Teixeira dos Santos afirmou que se os juros de empréstimos de dívida pública viessem a ultrapassar os sete por cento, teria de ser considerado o recurso à ajuda externa, várias operações ultrapassaram aquela fasquia e não é improvável que se venham a sustentar acima dela enquanto o governo continuar a querer fugir ao reconhecimento de que Portugal não tem possibilidade de se safar pelos seus próprios meios.

Em apoio da persistência do governo nesta matéria, invoca-se que a taxa média da dívida ainda se encontra bem abaixo daquele limite, que o cumprimento dos objectivos fixados para o EO 2011 acabará por convencer os credores, que o auxílio externo à Grécia* e à Irlanda não tem atingido melhores resultados. O que, sendo ou podendo ser verdade, não resolve a nossa incapacidade de evitar, mais tarde ou mais cedo, o incumprimento por falência financeira e económica. 

Mas se o governo português não reconhece, ou não quer reconhecer publicamente esta evidência, também os credores parecem ignorá-la ao apresentarem-se gulosos nos mercados de capitais para a subscrição de certificados, que eles sabem bem que muito dificilmente, um dia, poderão ser inteiramente pagos e por essa razão se desembaraçam deles nos mercados secundários, especulam em short selling, provocando a subida das taxas efectivas e potenciando o crescimento das taxas nominais das próximas subscrições.
Estamos portanto perante um jogo que se conhece o resultado só não se sabe como será atingido e que consequências arrastará consigo. A menos que devedores e credores, entretanto, reconheçam a inevitabilidade da reestruturação das dívidas e das suas condições.

O recurso à ajuda externa deveria servir a este propósito sob pena de apenas transformar um problema noutro. Lamentavelmente, nem o governo português nem o BCE, a quem incumbe a gestão da ajuda externa aos membros em situação financeira problemática, parecem querer reconhecer o inevitável: Ou se reestruram as dívidas, reduzindo-lhes os juros ou os montantes, ou isso acontecerá mais tarde quando os valores em causa se tornarem incontornavelmente insustentáveis.

O enrolar da manta tem limites por maior que seja a obstinação do primeiro-ministro que ainda temos em querer redobrá-la até ao infinito.
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* Na colocação de curto prazo desta semana os juros já se colocaram acima da Grécia.

BRANCUSI

O Google recorda-nos hoje que Brancusi nasceu há 135 anos. O Beijo (1908) é geralmente considerada a sua primeira grande obra. 

Friday, February 18, 2011

CONVERSAS AO ALMOÇO

- Está complicada a situação no Norte de África e Médio-Oriente ...
- Complicadíssima. Mas aqueles tiranetes tinham de cair. Era fatal.
- Resta saber para que lado vão cair os que os substituirem. 
- Pois é. Na Tunísia a coisa está a evoluir bem. No Egipto, ...
- Saiu o Mubarak, de resto ficou tudo na mesma. Ou mais problemático ainda. Ouvi hoje na rádio que dois vasos de guerra iranianos foram autorizados a atravessar o canal em direcção ao Mediterrâneo. A queda de Mubarak foi celebrada no Ocidente mas também em Teerão. São coincidências perversas.
- Lá isso são.
- E depois o epicentro da revolta está a deslocar-se rapidamente para o Golfo Pérsico, para os poços de petróleo. No Bahrain, onde se situam os centros operacionais dos norte-americanos para o Médio Oriente, há já algum tempo cerca de 60% da população era favorável à Al-Qaeda. Como é que se negoceia com essa gente se eles tomarem conta das torneiras do petróleo?
- Manda-se lá o Mário Soares...
- Só agora é que muita gente vai perceber o que é que está em causa nesta revolta do outro lado do Mediterrâneo.
- Com a Europa ainda fragmentada só os EUA podem resolver o assunto se ele exigir uma intervenção militar.
- Outra vez? E se eles recusarem?
- Não têm alternativa. Está em causa a sua própria sobrevivência. Nós, europeus, aproveitamos a boleia ...
- Outra vez.
- E depois chamamos-lhes nomes ...

(Há quanto tempo ando eu a dizer o mesmo?)

OS ÁRABES

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The awakening 
As change sweeps through the Middle East, the world has many reasons to fear. But it also has one great hope

THE people of the Middle East have long despaired about the possibility of change. They have felt doomed: doomed to live under strongmen who have hoarded their wealth and beaten down dissent; doomed to have as an alternative only the Islamists who have imposed their harsh beliefs—and beaten down dissent. In some places, like Saudi Arabia and Iran, the autocrats and the Islamists have merged into one. But nowhere has a people had a wholly free choice in how they are ruled. And the West has surrendered to this despair too, assuming that only the strongmen could hold back the extremists.

A MESMA FITA

Nos EUA, os republicanos pretendem legislar no sentido de reduzir banefícios aos funcionários públicos, incluindo os professores, apenas exceptuando polícias, bombeiros e militares. Obama opõe-se.

President Obama thrust himself and his political operation this week into Wisconsin's broiling budget battle, mobilizing opposition Thursday to a Republican bill that would curb public-worker benefits while planning similar action in other state capitals.

Thursday, February 17, 2011

QUASE MONÓLOGO AO ENTARDECER

Pois eu só agora é que me reformei, ultimamente tinha duas ou três coisas com que me entretinha mas agora deixei. Deixei, e estou a ambientar-me. Mas, logo a princípio, não foi fácil. Foram muitos anos, para aqui, para acolá, não parava e,  se de repente, se mete o travão a fundo, derrapa-se, não é? De modo que tenho inventado ocupações. E agora está a dar-se um caso curioso: já não me chega outra vez o tempo. E tenho dado comigo a pensar: Se agora me falta o tempo para onde foi o tempo em que estava no activo? 
( Tem netos?)
Tenho duas netas. Assim dum momento para o outro arranjaram-me duas netas. É com elas que gasto grande parte do meu tempo. Vieram na altura ideal. Bom, se tivessem vindo mais cedo talvez me tivesse reformado há mais tempo, quem sabe.
(Gémeas?)
Não. Uma tem dez anos, a outra oito. Quer ver? ... Esta é a mais velha, ... e esta a mais pequena, é mais rabina que a outra.  A minha filha trouxe-as da Misericórdia, durante muito tempo passaram largos períodos connosco, até que decidimos, nós e elas, passarem da condição de protegidas a netas de pleno direito. Mas queremos-lhe como se fossem netas biológicas. Talvez até mais, não sei.
(Estão completamente integradas ...)
Ui! De tal modo que há dias disse à minha mulher: Já estão tão ambientadas que começam a ser mal criadas ... Portam-se bem melhor na escola ...
(Efeitos da passagem ao quadro permanente)
Ah! Ah! Ah! Talvez, talvez. Para a minha mulher, é mimo a mais do avô.

POR QUANTO?

O Expresso desta semana publica um anúncio de auto promoção, de uma página inteira, exibindo quatro figuras públicas um exemplar do semanário. O mesmo anúncio foi colocado em outdoors, na vizinhança de outros colocados para promover candidatos a cargos políticos ou a convocar para a greve geral de 11 de Novembro, de tudo resultando uma combinação de poluição do ambiente que, incompreensivelmente, ou talvez não, não desperta a atenção dos movimentos ecologistas. 


Mas é, sobretudo, a adesão de Mário Soares a esta campanha que me suscitou este apontamento. Há cargos políticos, e o da Presidência da República é um deles, que exigem dos seus titulares uma reserva cívica que não se espera de um banqueiro bem sucedido, de uma fadista celebrada ou de um cómico do dia.

Quanto cobrou Mário Soares pelo boneco? Precisava?
Não há almoços grátis, Mário.
  

LÁ, COMO CÁ, O MONSTRO

On national debt, interest is the monster
If Obama and Republicans fail to agree on how to fund the rest of the fiscal year, some parks and museums will close.
Obama's budget plan shows interest payments will quadruple over next decade, with every person in U.S. paying more than $2,500 a year to cover tab.


Wednesday, February 16, 2011

IMPERDÍVEL

Print me a Stradivarius

QUESTÕES DE LINGUAGEM E GATUNAGEM

"...é dito muitas vezes (até por economistas!) que o PIB é a riqueza produzida no País. Isto é um disparate que nem por ser muitas vezes repetido deixa de o ser"- Ferreira do Amaral, na Conferência de ontem na Culturgeste.

E João Ferreira do Amaral exemplificou: Quando um cabeleireiro corta o cabelo a um cliente cria riqueza? É óbvio que não cria. E, no entanto, o valor do seu trabalho é uma parcela do PIB produzido no País.
Trata-se de uma questão menor? Não parece, a julgar pela relevância que JFA lhe deu.
Se JFA tivesse optado por um montador de cadeiras concluiria de forma diferente? A julgar pela dedução de JFA para o trabalho de corte de cabelo, o montador de cadeiras cria riqueza, acrescenta valor à cadeira desmontada comprada no IKEA? Temos duas hipóteses: Ou o comprador da cadeira desmontada é ele próprio montador da cadeira, e neste caso o valor acrescentado não é relevado estatisticamente e não é considerado como parcela do PIB, ou o comprador é inábil para montar a cadeira e recorre aos serviços de apoio do IKEA que lhe debita o custo do serviço e, neste caso, o preço pago é parcela do PIB. Temos, portanto, três serviços que podem ser considerados economicamente de forma diferente: o corte do cabelo, que segundo JFA não cria riqueza mas é parte do PIB, a montagem faça você mesmo que, estatisticamente nem é PIB nem criação de riqueza, e a montagem feita por um terceiro que é PIB e criação de riqueza.

Se a discrepância entre o segundo e o terceiro casos se deve a pressupostos que decorrem de um gap entre a evolução da técnica de fazer e vender cadeiras e a metodologia estatística em vigor, o caso do corte de cabelo não pode deixar de nos interrogar se não formos atentos veneradores e obrigados do prof. João Ferreira do Amaral.

Porque se, claramente, o conceito de riqueza aponta para um stock de bens (um indivíduo é rico, não por já ter cortado o cabelo quinhentas vezes na vida mas, por exemplo, ser proprietário de quinhentas mil cadeiras) também não é menos verdade que o stock cresce (ou decresce) consoante a produção realizada, isto é, consoante o PIB, uma medida de avaliação anual.

A ser consistente a opinião de JFA e estúpida a minha conclusão, para além de relapsa depois de o ter ouvido, teremos de concluir que o cabeleireiro cria riqueza mas o carpinteiro não. Ora eu que não sou uma coisa nem outra, mas estive mais próxima da última que da primeira, não posso deixar de oficiosamente defender aqui a classe dos cabeleireiros.

O cabeleireiro não produz riqueza? Claro que produz. Tem uma perdurabilidade quase efémera porque passado mais ou menos um  mês o cliente deve voltar à tosquia. Mas o que acontece com o cabeleireiro acontece com todos os serviços. Uma vez feito e consumido, sai do stock. Não há riqueza eterna. A cadeira pode ser um orgulho do comprador no acto de compra mas lá virá o dia em que é passada a lenha para a lareira. É tudo uma questão de tempo. Quem vai ao cabeleireiro vem de lá a valer mais? Geralmente deve vir, caso contrário por que compraria o serviço?

Uma coisa é o stock de riqueza, geralmente constituído por bens e direitos (uma concessão para exploração petrolífera é parte do stock mas nunca é, enquanto tal, parte do PIB), outra a formação desse stock que pode ter origens diversas. Mas parece-me não ser disparate, como JFA qualifica, conceder ao trabalho do cabeleireiros a mesma função criadora de riqueza que temos de atribuir aos carpinteiros. A menos que JFA a recuse também a estes e a riqueza quem a quiser que a herde. 
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A intenção das conferências (4) de Ferreira do Amaral, segundo pode ler-se no folheto distribuido, "fornecer a quem não é economista os meios de compreensão necessários ...". Mas FA não foi ontem feliz em uma ou outra das afirmações que fez. FA continua a reclamar que a microeconomia é uma disciplina que continua a usar os mesmos instrumentos de há 150 anos, que nas universidades o mainstream bloqueia o avanço da ciência económica naquele campo, que quem não se incorpora no rebanho (designação minha) não se safa. Já há coloquei neste caderno uns apontamentos a refutar este pensamento recorrente de J Ferreira do Amaral. E não só. Diga-se em abono da verdade que JFA tem muitos companheiros de barricada. Mas é uma barricada da qual não ousam ou não sabem saltar.

A propósito os malefícios das teses mainstream JFA deu o exemplo do princípio do equilíbrio dos mercados financeiros e a culpa desse princípio no forjar da crise financeira que deflagrou há três anos. Estou certo que JFA não ignora que o princío do equilíbrio dos mercados financeiros foi colocado em causa há mais de vinte anos, pelo menos. Hyman P. Minsky*, que foi provavelmente o mais dedicado mas também o mais crítico discípulo de Keynes, dedicou-se na maior parte da sua carreira à demonstração de que a especulação é inerente aos mercados financeiros e que no fim surgirão inevitavelmente as crises. Nouriel Roubini, alguns meses antes emergência da crise de 2008, interrogava perante os indicadores de que dispunha: Teremos já atingido o ponto de Minsky?

É para mim muito claro que, mesmo para aqueles que foram os principais mentores das batotas que excitaram os demónios da crise e cobraram lucros e prémios estratosféricos, os estudos de Minsky não eram desconhecidos. Nem tão pouco eram desconhecidas as consequências das acções condenáveis que praticavam. Mas alguma vez um gatuno, por mais letrado que seja, se preocupa com o que consta dos manuais?

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* Para quem quiser aprofundar recomendo: "Stabilizing an unstable economy"- Hyman P. Minsky

Tuesday, February 15, 2011

ANTENA ABERTA

Olhe, senhor, tenho 75 anos mas pouco me posso mexer. Estou quase paralítica, estou sempre em casa, não posso sair à rua.
Agora tenho algumas questões que lhe queria colocar. Uma é o 707. Quando quero falar para a Associação o número começa por 707. Ora estes números começados por 707 custam muito dinheiro, que é coisa que eu não tenho. Por que é que não se pode telefonar para um número normal que é muito mais barato? Por que é que tem de ser um 707?

Outra coisa: como lhe disse, não posso sair de casa, mas tenho computador, recebo e mando imeiles, entretenho-me a ler alguns saites, também faço uso do secaipe, enfim, distraio-me como posso, mas muitas vezes tenho pensamentos maus, penso: O que é que eu  ando cá a fazer? Coisas assim, entende?

Tenho uma pessoa que vem cá a casa e me ajuda, se não fosse ela não sei o que seria de mim. E tenho dois filhos. Mas estão fora. Estão fora e nem sei deles, não querem saber de mim. O meu marido já morreu, morreu de um tumor na cabeça, mas o meu filho mais novo só telefonou ao pai oito meses depois de ele já ter morrido, veja lá. 

E eu penso: Não sou rica mas tenho umas coisinhas, tenho a minha reformazita, vai dando, também trabalhei toda a vida ... tenho a casa, tenho mais umas coisas ou outras. Agora diga-me lá: Se só posso contar com esta pessoa que cá vem a casa, é a ela ..., não acha?, percebe, não percebe? 

Monday, February 14, 2011

CONTINUAMOS A BEBER DEMAIS

Beber vinho dá de comer a um milhão de portugueses, afirmava o Estado Novo, e, por isso ou também por isso, o português tomou a recomendação a sério, e alegre e patrioticamente embedava-se. De tal modo que, ainda hoje, apesar da evolução observada sensívelmente descendente, menos vinho, mais cerveja e bebidas brancas, o consumo médio de alcool dos portugueses é elevado, situando-se acima da média observada na Europa.

Entre 2003 e 2005 o consumo médio em Portugal da população acima de 15 anos de idade situou-se ao equivalente a 14,6 litros de alcool puro contra 12,2 litros observados na Europa. Estes valores encontram-se no relatório da Organização Mundial de Saúde publicado recentemente e podem ser consultados aqui.

Ali se pode observar que, por exemplo, em Espanha o consumo médio, no período referido, foi de 11,6 litros, em França 13,7, na Alemanha 12,8, no Reino Unido 13,4, em Itália 10,7, na Grécia 10,8, na Finlândia 12,5, na Suécia 10,3, no Japão 8,0, nos EUA 9,4, na Irlanda 14,4, Rússi 15,7.

As consequências deste quase record não são recomendáveis. Encontram-se detalhadas no relatório da WHO e seria fastidioso resumi-las neste apontamento.

Um aspecto não salientado pela WHO  e que deveria merecer a atenção dos portugueses: Para além dos efeitos muito negativos sobre a saúde, o crescimento do consumo de bebidas brancas importadas contribui para o desequilíbrio da balança comercial do País. 
No estrangeiro os vinhos portugueses, com excepção do Vinho do Porto, são quase desconhecidos, contrariamente à significativa representação de vinhos espanhóis, italianos, franceses, chilenos, australianos, etc.
Bebemos demais, exportamos muito pouco.

Faz falta um slogan mobilizador: Beber menos, exportar mais, dá saúde e faz crescer!


TRIÁLOGO

a propósito da greve dos maquinistas da CP.

aqui

Sunday, February 13, 2011

O MUNDO, AMANHÃ

A energia é o elemento primordial da natureza. Capturá-la para a domesticar e colocar ao serviço do homem tem sido o objectivo de uma perseguição que é tão antiga como a própria humanidade, que começa com o aprisionamento do fogo pelo troglodita, passa pelas azenhas, pelos moínhos de vento, e esbarra nos dias de hoje com a exaustão próxima dos hidrocarbonetos e o exercício com riscos apocalípticos do aproveitamento nuclear. 

E, no entanto, a fonte inesgotável e gratuita abre as suas torneiras em cada manhã sem nuvens recriando a vida na Terra em cada instante. Mas o homem, que só existe porque ela existe, não conseguiu ainda guardá-la para a utilizar em dias de chuva como o de hoje, e encaminhá-la para a utilização conveniente em todas as situções em que dela precisa. 

Consegue-o o mundo vegetal através da fotosíntese. Como imitá-lo, é a tentativa que absorve centenas de cientistas neste momento. No dia em que o homem for capaz de guardar a luz do Sol do mesmo modo que o faz a natureza verde a energia inesgotável será utilizada a quase a preço nulo. E o mundo de amanhã será ainda mais diferente do que o mundo de hoje relativamente ao mundo de ontem.

É acerca deste salto desmedido que trata o artigo do Economist desta semana
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FOR decades, your correspondent has watched, with more than casual interest, every new twist and turn in the quest for an “artificial leaf”. His hope has been that industry might one day replicate the photosynthetic process used by plants, and thus create forests of artificial trees for making hydrocarbon fuel direct from sunlight. Apart from helping offset the emission of carbon dioxide caused by burning fossil fuels, such man-made leaves could provide an endlessly supply of energy for transport. Finally, it seems, something is stirring in the forest.

Saturday, February 12, 2011

NÚMEROS A MAIS

Pereira acaba com número de eleitor

O ministro da Administração Interna propôs ontem no Parlamento que o número de
eleitor seja extinto por considerar que seria “o corolário lógico do recenseamento automático”. Como alternativa, Rui Pereira sugeriu que a lei passe a prever a notificação aos eleitores (Expresso).

O número de eleitor nunca deveria ter existido.
A sua criação só pode atribuir-se a uma propensão burocrática patológica.
Não se compreende, por outro lado, a alternativa proposta pelo ministro Pereira. Por este andar, um dia destes o OE assegurará o transporte universal e gratuito* de casa do eleitor até junto da urna eleitoral.

Paulo Machado, o ex-director-geral da Administração Interna, que se demitiu em sequência do caso "Cartão do Eleitor", em entrevista ao Expresso de hoje afirma que não se conhece a morada dos eleitores e, portanto, as notificações não teriam o efeito pretendido: "É uma realidade. Diz respeito a 6,2 milhões dos  9,4 milhões de eleitores. ... é um problema herdado dos boletins de eleitor carregados em 1998. Só os eleitores portadores de cartão de cidadão têm essa informação." 

A confusão é total. Desde logo porque o número de 9,4 milhões de eleitores para uma população de 10,6 milhões só pode estar errado.

Mas porque é que esta gente não faz o mais fácil? Quem quer votar inscreve-se nos cadernos eleitorais no início de cada ano em que ocorram eleições. E teremos cadernos eleitorais actualizados em vez destes, de que não se sabe até que ponto estão errados, mas sabe-se que, sem dúvida, estão errados.

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* Por gratuito entenda-se por conta de todos.

DEPUTADOS

mais informação aqui

PARA A HISTÓRIA DA INDIGNIDADE DA BANCA EM PORTUGAL - 2

Filipe Pinhal publica mais um livro de denúncia daquilo que considera ter sido o "assalto ao banco".

Mas não acrescenta muito ao que já se sabia e que ele mesmo tem afirmado: O núcleo accionista que concertou com Carlos Ferreira, então presidente da CGD, a compra de acções do BCP com financiamentos da Caixa, pagou o preço combinado: entregou ao PS a gestão do BCP. Ao núcleo accionista envolvido no assalto (para utilizar as palavras de Pinhal), essencialmente ligado à construção de obras públicas, interessava sobremaneira estar nas boas graças do Governo. 

Pinhal não se apercebeu disso e foi traído por promessas ôcas? É difícil perceber como é que Pinhal foi traído numa situação que era por demais evidente para quem tivesse o mínimo de informação sobre ela.
Continuam por explicar as contradições entre o que a este respeito Pinhal disse em entrevistas que concedeu em momentos diferentes.

Veja-se mais aqui.

Friday, February 11, 2011

O EGIPTO

está livre. De Mubarak, sim. Mas livre mesmo, se ficar, vai levar tempo.


Mubarak abandonou o poder. O Exército egípcio anunciou que vai ser o garante das reformas no país e prometeu a realização de eleições livres e justas. Nas ruas de várias cidades do Egipto milhões de pessoas festejam o fim de 30 anos do regime do faraó.

O poder está agora nas mãos dos militares.
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Quando, como e a quem o vão transferir? Não se sabe. O que se sabe é que os EUA  têm sido até agora o grande fornecedor/financiador das forças armadas egípcias, que grande parte da élite militar egípcia passou pelas academias militares norte-americanas, que a administração norte-americana quer a democracia mas não quer que o processo de democratização seja aproveitado pelos extremistas para ditarem as suas leis e instalarem outra ditadura naquele país.

A CIA dava ontem como certa a saída de Mubarak. Mas Mubarak reafirmou a sua intenção de se manter em funções até Setembro. Enganou-se ou não tinha a informação toda. A partir de agora, tudo pode acontecer. Os movimentos de massas são geralmente imprevisíveis e a confraternização na Praça Tahrir juntou no mesmo clamor grupos que dentro de pouco tempo serão temíveis rivais.

O caldeirão norte-africano estava a fumegar, agora entrou em ebulição. Do outro lado está Israel e, não muito longe dali, os poços de petróleo do golfo pérsico. Dois vizinhos inquietantes.

Thursday, February 10, 2011

SEGUNDO MATEUS

Abel Mateus, anterior presidente da Autoridade da Concorrência, em entrevista da Renascença* acusou o "Governo de nada fazer para promover a concorrência no sector dos combustíveis". “Não vi nenhuma medida estrutural e concreta para resolver a questão da concorrência” no sector energético, e em particular dos combustíveis, disse. E disse ainda:  “Não percebo o que são combustíveis low cost, sei é que havia grande concorrência dos postos dos hipermercados e, se calhar, é apenas uma tentativa de entrar nesse mercado. Se é possível baixar os preços, então baixe-se para todos”.
E mais: Na actual situação de crise, os cortes nos salários deviam ser acompanhados por uma descida dos preços dos bens que são sujeitos a regulação, como a energia, por exemplo. “Estarmos a cortar salários e não reduzimos os preços dos chamados bens não transaccionáveis, como a energia, as telecomunicações, do meu ponto de vista, está errado, estamos a dar um tiro no pé. É preciso acompanhar isso de uma redução de preços dos bens que são sujeitos a regulação”. E ainda: "a energia está mais cara e  Portugal continua a importar o mesmo.

É difícil discordar de Abel Mateus. Aqui mesmo neste caderno anotei alguns apontamentos no mesmo sentido. Continuo, no entanto, com algumas dúvidas acerca do que pode o Governo fazer no sentido de travar os preços que são ditados por um oligopólio internacional. Mateus também não disse. A separação da refinação da distribuição não me parece a medida suficiente para fomentar a concorrência. Só há um modo, creio eu, de suscitar a concorrência e reduzir os preços dos combustíveis: reduzir os consumos. E, neste campo, nem este nem nenhum governo anterior adoptaram as medidas necessárias para atingir esse objectivo.

Percebe-se mal, por outro lado, por que é que Mateus não denunciou a omissão que agora denuncia quando a sua palavra tinha o peso da presidência do órgão incumbido da tarefa.

Agora, Mateus faz lembrar o Juiz Moreno do TC que só explicou por que é que, em seu entender,  a grande maiora das parcerias público-privadas são um desastre financeiro quando passou à reforma.
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Com supervisores ou reguladores destes mais valia que acabassem  as supervisões. Pelo menos poupava-se nos custos de funcionamento de órgãos com deficiências de fabrico. E obrigar-nos-ia a estarmos mais atentos.
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* resumida aqui

Wednesday, February 09, 2011

O JOGO DA CABRA CEGA


Rogério Alves, advogado do arguido José Vaz Mascarenhas, do banco Insular, propôs aos advogados presentes na audiência que se “cotizassem” para comprar um armário, para receber os cerca de 700 apensos ao processo.

A Justiça em Portugal já bateu no fundo, ouve-se.
E instalou-se lá, acrescente-se.

Tuesday, February 08, 2011

A FONTE DO ADORMECIMENTO

Uma das razões geralmente aduzidas para contrariar as propostas de mudança é a experiência passada. Porque, ou não há precedentes ou os precedentes foram desastrosos. Outra razão obstrucionista também muito comum é a invocação das situações na vizinhança.

É curioso que, neste último caso, o recurso à comparação só é, normalmente, usado pela negativa. Assim, por exemplo, invoca-se que o número de deputados na AR não é excessivo quando comparado com o número de deputados por habitante noutros países. Mas já é geralmente ignorado o facto de em Portugal o Estado compreender um conjunto de órgãos (centrais, locais, regionais, empresariais) em números que excedem largamente as situações comuns na generalidade dos países evoluídos.

Eu também penso que não é o actual número de deputados na AR que conta para os descrédito que tomou conta da casa. E que a eventual redução não terá relevância materialmente significativa nas contas do Estado. Mas a comparação com outros parlamentos não é um bom argumento para sustentar o status quo. E não é um bom argumento porque, se temos de recuperar a distância que nos separa do pelotão da frente, teremos de fazer melhor naquilo em que, eventualmente, os da frente sejam menos bons e tentar imitá-los naquilo que faz deles primeiros.

Freitas do Amaral, num artigo publicado no Expresso, depois de relembrar os leitores a sua qualidade de especialista há quase 50 anos na matéria, considera que as promessas de redução de deputados, de ministérios e de autarquias são infundadas, ineficazes e demagógicas e que não será esta a melhor altura para desencadear dezenas de "Marias da Fonte" . E desafia a não cortarem no mais fácil mas no difícil: os jobs for the boys...Cortem nas despesas de funcionamento corrente, nos subsídios, nas empresas públicas municipais, nas centenas de fundações criadas à socapa e nas inúmeras sociedades anónimas de capitais públicos (de que não há registos globais e controláveis) ... E, já agora, verifiquem a legalidade dos 14500 organismos públicos revelados pelo Tribunal de Contas: terão sido todos criados por lei?.

O especialista tem razão, mas não tem toda. A organização administrativa do país, que vem do século dezanove, tem de ser forçosamente alterada se quisermos ter uma administração local mais competente e eficiente e capaz de assumir  responsabilidades que hoje se encontram centralizadas em Lisboa. O caso do Ministério da Educação é paradigmático desse centralismo que faz da ministra ou no ministro o responsável directo perante centenas milhares de funcionários sem hierarquias visíveis intermédias.
A descentralização de competências para os municípios, nesta e em outras áreas, não pode, contudo, garantir mais eficiência se a dimensão da organização local não for reestruturada.  

Por outro lado, o tecido urbano alterou-se, os meios tecnológicos são outros, a dimensão adequada a uma gestão local que sirva e aproveite melhor a evolução observada é muito diferente daquela que foi traçada há mais de cem anos.

Não alterar nada neste campo porque há outros campos mais onerosos para os contribuintes é uma saída frouxa porque não estamos perante hipóteses alternativas mas complementares. Nada alterar para não acordar a "Maria da Fonte" é uma proposta que recomenda a continuidade de um Portugal adormecido.

Monday, February 07, 2011

MÃOS LARGAS

A notícia acrescenta: Os aumentos “vão custar 6500 milhões de libras egípcias ao Tesouro”.

ou, mais propriamente, “vão custar 6500 milhões de libras egípcias aos egípcios".
A grande maioria deles é que não dá, para já, por isso.
E Mubarak sairá pelo seu pé quando quiser, se não demorar.

Talvez seja, afinal, a melhor saída. Para os egípcios e para todo o mundo.

Sunday, February 06, 2011

TODA A VERDADE SERÁ PROÍBIDA

Os dois maiores partidos portugueses voltaram a engalfinhar-se. Porque um disse que o outro disse aquilo que ele queria dizer mas não disse, diz ele, e o outro diz que não disse o que o outro disse quando disse que ele tinha dito mas não disse, disse o outro, porque era suposto que tivesse dito.

Entretanto os sindicatos dizem que o governo não diz o que disse e seria bem melhor que dissesse o que queria dizer, mas não fizesse o que disse que não disse e não o que não quer dizer.

Percebem?

Claro que toda a gente já percebeu que eles dizem que não disseram, quem disse foram os outros.
Quais outros?
Eles.

Toda esta discussão para pegar no tição.

POR 11,7 MILHÕES DE EUROS

Paul Gauguin, Nature morte à “L’Espérance”, 1901 (est. £7-10 million), via Christies.com
The headlining work at Christie’s Impressionist and Modern evening sale is a still life with sunflowers by Paul Gauguin. Executed in 1901, the work is one of four sunflower paintings created as a tribute to Gauguin’s friend and fellow artist Vincent van Gogh. The painting has a long, impressive exhibition history and according to the auction house has been unseen in public since 1989, though it failed to sell at Christie’s in 1996 against the same presale estimate it carries today.

http://www.christies.com/

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actualização - Não foi vendido

Saturday, February 05, 2011

O TAMANHO DO ESTADO - 2

Discutiam futebol, a crise do Sporting, as dívidas do Sporting, os maus resultados do Sporting, então quem é que vai hoje à noite à despedida do lévezinho?, e não passavam dali.
Ainda procurei interessar o colega à direita para um assunto menos transcendente mas o tema esgotou-se em menos de dois minutos.

Ora eu não sei, aliás nunca soube, discutir futebol. A questão em causa poderia interessar-me do ponto de vista da gestão da SAD leonina por razões de eventuais interesses de investimento em bolsa, mas não era o caso. Sendo completamente leigo na matéria que tanto entretinha os meus amigos mais próximos na mesa, provoquei uma discussão à volta de um assunto menos esotérico, pelo menos para mim. E atirei: O líder do PSD  afirmou querer saber, no contexto das empresas públicas que dão prejuízo crónicos e que têm boas alternativas no mercado privado, quais são as que o Governo entende que devem encerrar.

O A., que é um social-democrata-liberal, disse que PCoelho não medira bem o alcance da afirmação feita porque, evidentemente, não se pode, por exemplo encerrar a CP. Estivemos todos de acordo, mas sempre adiantei que tinha entendido as palavras de PCoelho noutro sentido: de que deve o governo identificar as empresas públicas que devem ser encerradas e não que todas deveriam ser encerradas.

Por exemplo: Por que não é encerrado o BPN, que continua a acumular prejuízos em cada dia que passa, e que terão de ser pagos por todos quantos nada têm, nem nunca tiveram, a ver com as vigarices que ali se praticaram? 

O A., não esteve de acordo. Para ele, o caso do BPN é simples: Os prejuízos actuais decorrem da situação anterior e da má gestão actual. Se for dispensado dos prejuízos acumulados anteriormente e for bem gerido será rentável. Encerrá-lo seria asneira porque seria destruir um património humano, tecnológico e comercial. Ora, rematou A., o país não pde dar-se ao luxo de destruir esse património.

A partir daqui a discussão divergiu para outro exemplo avançado po mim, a RTP, e o socia-mecocrata-liberal A.,continuou a defender que também a RTP, e ele estava em boa posição para o afirmar, pode ser rentável se for gerida  de forma conveniente.

Ora, argumentei eu, qualquer empresa financeiramente equilibrada e bem gerida é rentável. A menos que, como o caso da CP, a sua actividade deva ser parcialmente remunerada pelo OE por razões de interesse público. Mas neste caso essa remuneração deve ser fixada e o Estado deve pagar pontualmente de acordo com os compromissos contratualmente assumidos. E,neste caso, por que razão é que a gestão tem de ser pública?

E para que queremos  várias estações de televisão e rádio publicas? Se há um serviço público identificável, será quantificável, e, nesse caso, por que razão é que a gestão não pode ser privada?

Se os activos do BPN podem ser rentabilizados por que razão não são vendidos? E se a venda não é possível, para já, porque não se fecham as portas de forma a estancar os prejuízos, e vender os activos quando a oportunidade surgir, ficando o pessoal em casa a aguardar outros accionistas?
É isto que PCoelho diz querer saber, se bem o entendi.
E eu, também. 
E não sou militante social-democrata-liberal.     

Friday, February 04, 2011

QUANTOS SOMOS?

Ninguém sabe.
Anotei isso neste caderno de apontamentos em Outubro de 2009.

Hoje, pode ler-se aqui : Na acta do TC, divulgada na terça-feira, refere-se um total de 9 043 550 eleitores inscritos, mas, na sua página na internet, o MJ indica 9 656 797. Ou seja, uma diferença de 613 247 eleitores.

Detectada a divergência, uma fonte do Tribunal Constitucional, citada pela Lusa, adiantou ontem que houve uma incorrecção na acta e que o número certo de eleitores inscritos era de 9 543 550, ou seja, mais 500 mil do que o divulgado na sua acta. Contudo, apesar da correcção, continua a verificar-se uma diferença de 113 247 eleitores inscritos em relação ao divulgado pelo MJ

Os amigos de Campos e Cunha, que, segundo ele, estudaram a demografia, a população residente já em 2009 excederia os 11 milhões de habitantes. (vd aqui).

Se nem acertamos nas contas de somar como é que podemos multiplicar para dividir?

O BASÍLIO PASSOU-SE

Basílio Horta sugere que BPN ou uma qualquer seguradora da Caixa Geral de Depósitos (CGD) devia especializar-se em seguros de crédito, ajudando assim os exportadores a enfrentarem as fortes oscilações cambiais esperadas em muitos dos mercados emergentes nos quais os exportadores portugueses estão agora a aventurar-se.

O BPN?!!
Mas por que bulas é que o pseudobanco, que continua a aumentar a enormíssima e escandalosa  factura que um dia todos os contribuintes portugueses terão de pagar, deveria especializar-se em seguros de crédito?
 
Só por ironia.
Porque é difícil encontrar uma instituição de crédito mais desacreditada.
Que continua de porta aberta a afundar o buraco perante a indiferença da justiça que temos e do governo que não temos.

Thursday, February 03, 2011

CONVERSAS AO ALMOÇO

- Que a importância da situação no Egipto decorra fundamentalmente da sua proximidade geográfica, étnica e religiosa aos países do Golfo onde se encontram os recursos petrolíferos que quase todo mundo consome, parece-me uma perspectiva muito redutora do que se está a passar no Norte de África.
- A mim, também. O que está em causa no Egipto não é, priomordialmente, uma questão de direitos cívicos, ainda que o seja para alguns, geralmente os menos desfavorecidos. O maior problema é o do empobrecimento progressivo decorrente de um crescimento demográfico que supera o crescimento económico.
- E daí? Como é que daí se chega ao petróleo?
- Numa sociedade revoltada pela contínua degradação das condições de vida (desemprego, crescimento do custo de vida, empobrecimento) mas cada vez mais ciente, através dos novos meios de comunicação social de que, se não existe o melhor dos mundos, existem mundos melhores, serão as irmandades religiosas que estarão melhor colocadas para capitalizar o descontentamento dos mais pobres, que são a esmagadora maioria, e assumir o poder. E, se for esse o caso, com os países árabes do Golfo ali ao lado, o rastilho, mais cedo ou mais tarde acabará por incendiar a região do petróleo. 
- E daí? Eles continuarão a precisar de vender o petróleo ...
- Ainda que isso se confirme ao fim de um período de turbulência mais ou menos longo, e não é adquirido que o fundamentalismo religioso reaja desse modo se for dono e senhor das torneiras de crude, haverá intermitências nos abastecimentos  que arrasarão  a maior parte das economias mundias. E, nesse caso, uma intervenção militar em larga escala poderá ser o único meio para a sobrevivência da paz no mundo.
- Disparate! Não chegou já a besteira do Iraque?
- Se meio mundo for condenado a morrer por falta de alimentos, medicamentos, e outros bens essenciais à vida, de tudo o que as sociedades modernas consomem e é produzido a longas distâncias, como é que se evita a catástrofe global sem cometer o disparate de mais uma guerra? Se o seu almoço, o seu jantar, deixarem de estar garantidos durante, por exemplo, três dias seguidos, o que é que sugere que seja feito?
- Que cada um volte a plantar batatas ...
- Ainda que cada um pudesse sobreviver à custa de batatas, batatas plantadas hoje  só darão baratas daqui a três meses. Ao fim desse tempo, com tanta gente a olhar-lhe invejosa para as suas batatas não é improvével que tivesse de deixar de lhe chamar suas da noite para o dia. Aliás, se tivesse batata de semente para plantar e nada mais para comer, quem é que iria plantar e sacrificar desde logo uns almoços por conta de uns mais que incertos vinte ou trinta almoços dentro de três meses?
- Ah!...O petróleo, quando um dia faltar, não vai faltar de um dia para o outro.
- Se as torneiras continuarem em "boas mãos", não. Mas nada está garantido quando o lume se aproxima do paiol.

ACERCA DO TAMANHO DO ESTADO

“Quando os desequilíbrios são grandes de mais e o sector público é demasiado pesado, só há duas maneiras para resolver o assunto: cortar nos salários e aumentar os impostos, ou reformar o Estado, racionalizá-lo e colocá-lo na proporção que a nossa produção de riqueza permite”. Assim falava Passos Coelho, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD que decorreram esta semana em Braga"

Aqui, muito previstamente, contestam. Para fundamentar o desacordo socorrem-se de um quadro que correlaciona a despesa pública com o PIB/capita:

Comentei:

Para além das proporções, das relações, dos rácios, coloca-se uma questão fundamental: O que é que o Estado faz com esta despesa? E uma outra: Se o Estado pode aguentar esta despesa.

Os impostos que pagamos (ou as dívidas que o governo assume em nome do Estado, e que, mais tarde ou mais cedo se traduzirão em impostos, salvo se aplicadas em investimento de retorno positivo) representam o preço dos serviços que o sector público presta à sociedade.

E este é o ponto mais importante: se o preço que pagamos é compatível com o crescimento do rendimento nacional ou se o investimento público promove o crescimento económico e social.

Quanto ao primeiro, a resposta é negativa: O sector público tem crescido, o funcionalismo público tem visto as suas retribuições aumentadas nos últimos quinze anos acima do crescimento do rendimento nacional, os monopólios de facto, com rendimentos regulados pelo Estado, têm visto os seus lucros expandirem-se bem acima dos rendimentos dos sectores transaccionáveis.

Quando ao investimento público, a resposta é também negativa. O investimento global tem-se situado já hà largas décadas abaixo da Espanha e mesmo da Grécia, e muito longe da Irlanda, por exemplo. Mas do investimento público não tem resultado um efeito positivo no crescimento do RN, que tem estado praticamente estagnado na última década.

É portanto forçoso reconhecer que não é a dimensão relativa do sector público que conta mas o resultado dessa dimensão no crescimento económico e social.

E o resultado, lamentavelmente, tem sido pouco menos que desastroso.

Não têm faltado recursos ao nosso sistema judicial, mas a justiça é um arremedo daquilo que dela se espera.

Não têm faltado recursos à educação mas os resultados são desoladores em muitos aspectos.

Temos um bom sistema nacional de saúde? Admitamos que sim. Mas é sustentável? Como, se os hospitais estão endividados e as farmácias se dizem credoras a prazos muito largos?

Que retorno proporciona a rede de autoestradas, a rede de estádios de futebol, e um sem número de investimentos sem qualquer outro critério que não seja a ganância dos construtores civis e a conivência de muitos decisores públicos?

Se queremos defender o sector público, teremos, antes de mais, que tornar transparentes os critérios de utilização do dinheiro dos contribuintes.

E, quanto a este aspecto, continua reinar a maior opacidade.

Por exemplo: Por que razão é que o BPN, um pseudobanco, continua com as portas abertas?

Alguém, por essas bandas, sabe?

Wednesday, February 02, 2011

CONVERSAS AO ALMOÇO

- Então o que é me diz desta confusão no Egipto e arredores?
- Digo-lhe o que quase toda a gente diz: Sabemos como estas coisas começam, nunca sabemos como acabam. Tanto pode instalar-se a democracia como uma ditadura islâmica. Se for este caso, propagar-se-á a todo o mundo árabe ainda não sujeito ao fundamentalismo islâmico.
- Pois é. Há quem queira levar a democracia a toda a parte a qualquer custo...
- Acha que sim? Acha mesmo que todas estas convulsões no Norte de África são fomentadas do exterior?
- Acho que sim. São os núcleos de emigrantes, intelectuais ou pseudo intelectuais radicais, que fomentam as revoltas a partir de Paris, Londres, e por aí fora ...
- É natural. Quando não há liberdade de expressão no país, quem preza a liberdade tende a refugiar-se no estrangeiro e lutar por ela  a partir do refúgio. O que nada garante é que aqueles que lutam pela liberdade não acabem por proporcionar o acesso ao poder dos radicais religiosos. Se isso acontecer é a segurança do mundo que globalmente ficará em causa.
- É a guerra.
- Esperemos que não seja.
- Lá vão os EUA meter-se noutro atoleiro.
- Têm alternativa? Não creio que Obama, se a situação obrigar a uma intervenção militar em larga escala, enverede  por uma estratégia que não envolva as maiores potências mundiais, incluindo a China e a Rússia.
- O que é pode obrigar a uma intervenção militar?
- O alastramento do fundamentalismo islâmico ao Golfo Pérsico, aos recursos petrolíferos essenciais às economias de quase todo o mundo.
- O petróleo, ainda e sempre o petróleo.
- Enquanto for, em grande parte, insubstituível pode incendiar o mundo.

Tuesday, February 01, 2011

O QUE É ISTO?

PORQUÊ?

Interrogava-me  há dias, e a alguns amigos, que razões levariam alguns a continuarem clientes do BPN, um pseudobanco que, normalmente, já deveria ter sido obrigado a encerrar as portas por desrespeito, além do mais, aos requisitos mínimos de confiança.
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O Governo não encerra o BPN porque isso obrigaria a indemnizações elevadas ao pessoal despedido, argumentaram-me uns. Mas não continua o pseudobanco a acumular prejuízos que excederão o valor das indemnizações devidas?
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Ou não encerra porque pretende vender o BPN e, deste modo, reduzir as perdas, argumentaram outros. Mas que activos detem este pseudobanco para além as instalações que tanto valem encerradas como abertas ao público?

Ontem percebi a resposta à minha primeira dúvida: O BPN continua a oferecer aos seus ainda clientes taxas de juro nos depósitos a prazo superiores aos bancos regulares.

Maiores juros que, naturalmente, determinarão agravamento das incontidas perdas que todos os contribuintes portugueses terão de pagar.  

Até quando?

O BPN é um caso de polícia. Mas para além desta dimensão medonha que a justiça continua a não avaliar, há uma dimensão política que só o Governo pode ultrapassar. Mas, também ele, continua a arrastar-se a passo de justiça à portuguesa.