Segundo os números divulgados hoje pelo Eurostat o desemprego atingiu em Portugal os 11% e mais de 600 mil trabalhadores.
Ao mesmo tempo a Alemanha observa pelo 14º. mês consecutivo uma redução do desemprego ainda que a taxa se tenha mantido nos 7,6%.
O crescimento do desemprego em Portugal era inevitável e não constitui nenhuma surpresa a não ser para aqueles que se convenceram, ou quiseram convencer-nos, que o aumento do emprego em Portugal estava apenas dependente do relançamento económico no exterior capaz de induzir mais crescimento económico e, por essa via, mais emprego.
O que nem sempre é verdade e dificilmente aconteceria em Portugal. Por várias razões, a mais decisiva das quais, que várias vezes anotei neste caderno de apontamentos, era, e ainda é em grande parte, a dependência em que a economia portuguesa se encontrava da construção civil e das obras públicas. No primeiro trimestre deste ano, ainda segundo números do Eurostat publicados na última edição do Expresso/Economia, a construção absorvia 10,1% do emprego total em Portugal (9,1% em Espanha, 7,6% na Zona Euro). A economia estava drogada em construção civil e era inevitável a passagem por um desmame doloroso. Escrevi isto quase desde o início do Aliás, há quase cinco anos.
Muita gente sabia que era assim e que a overdose só poderia vir arruinar dramaticamente a saúde do paciente. Sabiam os políticos, os banqueiros, os construtores, os agentes imobiliários, mas nenhum renunciava à teta da porca.
Como, por outro lado, a construção civil exige trabalho de alombador e não havia portugueses em número suficiente para essas tarefas, indignas para muitos, ocorreram imigrantes que, naturalmente, agora se sentam nos bancos dos centros de emprego à procura do devido subsídio. Que vão eles fazer depois do prazo de subsídio se esgotar?
Alguns voltarão para casa, amargurados, desiludidos e pobres. Outros permanecerão na expectactiva de oportunidades. Que difilmente aparecerão. A marginalidade aumentará e com ela o crime suburbano.
Andamos a incorrer neste erro hà dezenas de anos. Desde os tempos em que as poupanças dos emigrantes portugueses se encaminharam para a construção de maisons que as segundas gerações geralmente esqueceram. Como é que foi possível um convencimento tão alargado de que o País poderia sustentar-se construindo casas de que já não precisava?
Somos todos culpados. Mas há quem seja mais culpado que os outros. De entre estes últimos, os banqueiros foram sem dúvida os maiores culpados. Moral hazard: não se contarão, no entanto, entre as vítimas.
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* O gráfico apresentado é copy/paste de aqui