Monday, August 16, 2010

SÓ POR MILAGRE

Gerês e Serra da Estrela continuam a arder (Público)

É todos os anos o mesmo. Por esta altura, o Verão oferece às televisões o espectáculo dos incêndios.
Que o povo gosta. Se não gostasse mudaria de canal  ou desligava o televisor e os operadores perdiam audiências e mudavam de tema. Mas as pessoas, em geral, gostam de ver as chamas a devorarem o património alheio. Que, em muitos casos, ninguém sabe de quem é.

E, porque gosta, não se indigna nem se manifesta na Avenida da Liberdade abaixo clamando solução para a calamidade.  

Há cerca de quatro anos apontei aqui que seria milagre a floresta não arder: "uma defesa eficaz da floresta passa, necessariamente, pela alteração profunda da estrutura fundiária actual. E aí é que reside o busílis da questão: tal alteração pressupõe a tomada de medidas que só um acordo de regime poderia suportar. Mas parece que ninguém quer dar um passo nesse sentido.
Guardadas as inevitáveis diferenças, a questão é em tudo idêntica àquela que está subjacente, na maior parte dos casos, à falta de produtividade da nossa agricultura.
Sem que o Mi(ni)stério da Agricultura pareça dar por isso."

Entretanto, o Ministro mudou e a ausência é a mesma.

Os relatos com que os media entretêm as massas falam de "teatro de operações", "meios de combate" "aéreos" e "terrestres", de "estratégia", etc, como se de uma guerra se tratasse.
E é neste equívoco que se sustenta a política de "combate aos incêndios" como se houvesse uma guerra que pudesse ser ganha. Não pode.

E não pode porque, desde que haja acumulação excessiva de biomassa nas matas, mais tarde ou mais cedo essa acumulação será reduzida a cinzas pelos incêndios, criminosos ou não. Dito de outro modo: O que não arde este ano, arderá no próximo ou no seguinte.

A solução passa, naturalmente, por retirar a acumulação de material combustível antes que o fogo o faça.
O que não é fácil. O CDS quer destacar os beneficiários do rendimento social de inserção para o trabalho de limpesa de matas (vd aqui). E por que não?

A proposta mereceu de imediato, por parte de alguns, o qualificativo de "trabalho forçado". Donde, poder concluir-se que, segundo eles, o trabalho de limpeza de matas é indigno de um cidadão. Teremos de contratar robots para esta guerra infamante?

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