Friday, January 06, 2012

MUCH ADO ABOUT NOTHING

Há dias, comentei aqui a risível aceitação do público pelo cinema que se realiza em Portugal. Apesar da indiferença observada há muitos anos, os realizadores insistem na produção de filmes sem audiências que paguem sequer os custos de ocupação das salas de exibição. E porquê? Porque a parte de leão dos encargos estão encostados ao Estado, isto é, aos impostos dos contribuintes. Tanto que, um dia, João César Monteiro sacou 156 mil contos para "filmar" "Banca de Neve", um filme sem imagens, com a participação da voz de Luis Miguel Cintra.

Do lado do teatro, a situação é sensivelmente diferente mas, mesmo assim, há situações aparentemente estranhas.

A Câmara de Lisboa investiu largos milhares na edificação do "Teatro Aberto". O grupo que há muitos anos se encontra reunido à volta de João Lourenço tem produzido espectáculos de grande qualidade mas a assistência escasseia porque, suponho eu, aquele espaço (um anfitatro e um estúdio) não se abre a outras companhias ( à vizinha Comuna, por exemplo). João Mota foi, recentemente, nomeado director do D. Dona Maria (uma sala e um estúdio). Porque não se abre o  Dona Maria ao grupo do Teatro Aberto? Porque se entincheirou  Maria do Céu Guerra na Barraca do apodrecido Cinearte? E Luis Miguel Cintra numa cave? Por falta de espaços menos decadentes?

Lisboa, e Portugal em geral, não tem falta de espaços para espectáculos de teatro. O que falta no teatro são espectadores. Uma lacuna que os grupos de teatro não deveriam querer ser em grande parte colmatada com os subsídios do Estado.

Teatro mais acessível ao apetite comum não é necessariamente uma vacuidade.
É possível montar um bom espectáculo com custos reduzidos. A espectacularidade (se é esse o objectivo) não é, necessariamente, dispendiosa, e, no entanto, alguns grupos de teatro vão por aí, usando e abusando dos palcos rotativos e dos alçapões mecânicos.

É possível encenar Shakespeare e conseguir os aplausos dos públicos mais e menos iniciados.


7 comments:

Pinho Cardão said...

Caero Rui:
Estás enganado. Espectadores nunca faltam ao teatro. O teatro é que falta aos espectadores.
Que não aturam o critério artístico de encenadores respaldados nos subsídios estatais que, naturalmente, nada têm a ver com qualidade mas com lobis.
Fossem tão bons na encenação como na pressão, os teatros estariam cheios.

Para a Posteridade e mais Além said...

Espectadores nunca faltaram a teatros vários.

O teatro clássico é que não se adaptou ao público spectador.
Uma irmandade de gostos muy sui generis de encenadores respaldados nos subsídios estatais e de algumas empresas públicas e não só mecenas do absurdo que permitem meter umas dúzias de pessoas numa sala...

e olha que ver o seis pires in potuga...é como ler o camones in inglês ou em latim

Othelo em português pega em 800 gajos e toma conta de Veneza

nã atrapalhem os ícones teatrais portugueses o Rui tal a Mariana tantas e o Tarzan Taborda

Só Crates num é Só Ares said...

Isto é um momento pubicitário da tragédia grega Sófocles 2012 já...

rui fonseca said...

Obrigado, António, pelo teu comentário. Aliás, o meu apontamento vem na sequência do comentário que fiz a um post teu no Quarta República.

Gosto de teatro, vamos muitas vezes, mas entristecem-me as salas meio vazias.

Penso que, em certa medida, os subsídios acabam por ser nefastos ao teatro. Pelo menos no modo como são concedidos.

rui fonseca said...

"e olha que ver o seis pires in potuga...é como ler o camones in inglês ou em latim"

Não concordo.
É sempre possível uma adaptação que agarre a parte essencial da obra original.

Shakespeare até no seu tempo era considerado um autor difícil.
Utilizou cerca de 18 000 palavras nas suas obras mas pelo menos 1000 nunca tinham sido impressas antes dele: ou porque as inventou, ou porque adaptou (do latim, sobretudo) ou porque as ouviu nas ruas de Londres.

Teatro não são apenas palavras. Há cenas em Much Ado About Nothing (talvez das obras mais acessíveis por ser escrita sobretudo em prosa), que se prestam a uma linguagem corporal muito perceptível mesmo que nem sempre o inglês do século XVI seja entendível em toda a sua extensão. Mesmo por aqueles que têm o inglês como língua materna.

Mas referi Shakespeare precisamente por que se trata de um autor tido como difícil mas que, apesar dessa dificuldade, pode ser compreendido e, portanto, admirado.

good churrasco ó auto de café.... said...

refiro-me à adaptação em termos de poética jogos de palavras etc etc

é muito difícil

tem-se uma sombra da obra original
nos anos 70 a fascista televisão passava peças de teatro de tempos a tempos (clássicos etc)

hoje a televisão pública considera concursos e as touradas mais interessantes

para que haja um público nos teatros tem de haver algo que puxe as novas gerações

a televisão poderia ter tido algum papel nos anos 80 e 90
agora é tarde para se criar uma cultura que fomente o gosto pelo teatro

cada vez mais será um desporto de minorias

não né encafuando 100 putos do 8ºano ou do 11º num teatro para ver Romeu y July ou Quem tem Farelos que...etecetera

good churrasco ó auto de café.... said...

os etc..caetés é porque nã é um assunto que se discuta em 3 linhas

(favor encher as 500 paroles em falta)

A ausência de interesse nas companhias teatrais em autores brasileiros evitou que muitas delas pudessem sobreviver^(e ir-se-ão extinguindo) quando o estado português deixar de ter cobres para as sustentar

com 5 milhões de portugueses a rondar os 50 ou mais
o teatro como existe tá caputto