Em finais de Março do ano passado escrevi aqui isto:
...
"Só vejo uma alternativa para a desmobilização deste confronto anunciado: Colocar ao País, através de um referendo, a possibilidade de escolher entre a manutenção no euro sujeitando-se às medidas do catálogo ou voltar à moeda nacional com as consequências fácilmente previsíveis.
Quanto mais tarde tal acontecer maior será a probabilidade de vingar a segunda hipótese.
Mas escapa-me a forma prática de a accionar sem consequências que a colocam irremediavelmente em causa à partida."
Ontem, Papandreou surpreendeu o mundo, e muito particularmente os parceiros europeus, ao anunciar a realização de um referendo às condições da ajuda externa que, na sua versão mais recente, prevêem a redução substancial da dívida.
Percebe-se a decisão de Papandreou e a surpresa da sua decisão.
Papandreou pretende com este golpe inesperado confrontar o povo grego e, especialmente, desmobilizar os movimentos contestatários que ameaçam fazer evoluir a situação para uma desordem geral imparável. Fá-lo, depois de garantida uma redução substancial da dívida, o que significa que a alternativa que a oposição ao seu governo pode oferecer, neste caso, é o integral repúdio dela.
A convocação do referendo só é, portanto, surpresa para quem não conhece a Grécia e os gregos, ou faz de conta, ou acabou de tirar a cabeça da areia. O governo de Papandreou há muito tempo que arde em lume cada vez mais atiçado.
Se os gregos responderem, Sim, de forma claramente maioritária, Papandreou prossegue mais confortado, a Grécia continuará no caminho que, então, por maioria escolheu, permanecerá na UE e na Zona Euro, a União Europeia suspirará outra vez de alívio. Se votarem, Não, tudo pode acontecer, incluindo mais uma derrocada incalculável do sistema financeiro global. Mas mais: É bem provável, como já algumas anotei neste bloco de notas, que, perante a iminência da saída da Grécia da UE e do Euro, mas também da Nato, os europeus e os norte-americanos, agora de forma conjugada, não tenham alternativa senão voltar a rever a ajuda externa à Grécia e, obviamente, de todo o modelo de solução do imbróglio financeiro em que o Ocidente se meteu.
Porque a alternativa seria abrir a porta à entrada da Rússia, que, na circunstância, não deixaria de desempenhar o papel do amigo de sempre, ali ao lado.
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